O gosto do uísque amargo e barato permeava a boca de Aradia que bebericava em um pequeno copo de vidro, batendo o mesmo na superfície de madeira enquanto o conteúdo acabava, um sinal que pedia outra dose. Fez isso repetida vezes até perder a noção do tempo, bebia como se o gosto não influenciasse. O barulho de batidas eletrônicas era intenso, a bruxa sentia tremores por todo seu corpo, vibrações que palpitavam suas têmporas e causavam certo tremor no coração. Ouvia as conversas ao seu redor, conversas que ela queria estar tendo, normais. Sem se preocupar com seres estranhos, ou qualquer outra merda que não fosse se preparar para... nada.
A sexta-feira noturna era movimentada, pessoas dançavam conforme o ritmo das batidas e riam sem nem saber o motivo, divertiam-se para passar vergonha mais tarde, estava claro para Aradia. A bruxa não fez questão de misturar-se com a normalidade. Seu cabelo formado com tranças raiz descia por suas costas e misturava-se com o tecido escuro de seu vestido, um tecido que lembrava penas de corvo. O corte no dorso do vestido formava um "U" delineando suas clavículas aparentes, mas nenhuma sombra se formava, dando a impressão que estava colado nela. O traje estendia-se até seus joelhos e estranhamente mesclava-se com a pele escura de seus braços, como se fizesse parte dela. Os olhos gélidos moviam-se com cautela, percorrendo o lugar e decorando os rostos.
Quando por fim cansou de beber, levantou-se cadeira em frente ao balcão e virou seu corpo esguio para sair, quando o barman achou que fosse uma boa ideia cobrar as doses. A mulher não se deu o trabalho de irritar-se e começou a andar. O homem intrigado ficou olhando-a pelas costas, a bruxa sorriu enquanto ele reclamava, mas riu, ao perceber, ele deu um passo para segui-la, insinuando ser uma ameaça, bastou um simples movimento do dedo indicador dela e o barman sentiu seus dentes caírem, um a um, ele olhou incrédulo para o sangue escorrendo de sua boca. O barulho e as luzes azuladas disfarçaram a cena saída de um pesadelo.
E, como uma sombra que ninguém liga, a bruxa passou despercebida.
Nas ruas daquela cidade Aradia caminhava sem pressa, os pés descalços sentiam o chão gelado em passos arrastados, olhando para o nada. Os ouvidos atentos para tudo que se mexia ao seu redor. Andou por quarteirões inteiros, e nada havia despertado seu interesse. Refletia sobre sua existência forçada e sobre tudo o que teve de passar. Tentando descobrir porque ainda estava ali se já havia matado todas as bruxas que lhe traíram junto com a linhagem que tinham deixado. Tentava descobrir quem havia sobrevivido. Irritava-se com o fato de ter deixado alguém para trás. Isso a fazia ter vontade de queimar tudo e todos, fazê-los sentir a dor que ela sentiu.
Seus punhos estavam cerrados quando sussurros baixos de surpresa somados com palmas quebraram a inquietude de sua mente. Vinham de um lugar que brilhava em luzes coloridas piscantes, irritando a visão de qualquer um que olhasse por mais de dois segundos. Aradia esgueirou-se nas sombras para fazer uma visita discreta. Sentiu seus ossos estalarem e encolherem, os olhos passando a ver o mundo de outra forma, os braços tomando forma de pequenas asas e sua garganta grasnar, a mulher fazia juz ao seu apelido de "Bruxa Corvo". Não maior que um gato, o corvo planou para dentro do lugar, desviando das pessoas que por estarem totalmente hipnotizadas pela música, não repararam na sua presença.
Era um bar parecido com o anterior, mas esse tinha um toque mais agradável... e música ao vivo, sem luzes ofuscando a visão.
Tratava-se de uma apresentação fútil de uma mulher cantando no meio de um palco pequeno. Obviamente a beleza da mulher era o que mais atraía os ali presentes. Mas havia algo de mágico na sua voz, que Aradia pôde reconhecer rapidamente. A loira no palco, mesmo sentada, aparentava ser de estatura baixa, curvas marcantes e o famoso rosto angelical. Para impressionar ainda mais, ela cantava com os olhos fechados, fazendo todos acreditarem que vinha de seu coração.
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WSU's Aradia - Sangue de Vilão
Mystery / ThrillerAradia é uma alma que por muitas vidas sofreu. Uma alma perdida com um acúmulo de poder Ancestral. Amaldiçoada pelas vidas passadas, desta vez Aradia tem a missão de caçar àqueles que lhe traíram. Mas há muito mais do que um sentimento de vingança...