Capítulo 5 - O Contrato

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Staufen, Alemanha, 1528

Inacreditável.

Esse seria o resumo de uma única palavra do que estava à frente do velho médico, pois o que via naquele momento, não estava em livro de medicina algum. O falecido proprietário de pé, apontando-lhe o dedo e chamando pelo seu nome. Quando falou em destino, certamente não veio cobrar um último aluguel.

— Hans? — chamou, incrédulo.

O robusto senhor baixou seu braço e balançou a cabeça lentamente, negando.

— Hans está morto — respondeu, com a voz de fumante em estado terminal de câncer pulmonar. — E este lugar cheira à morte, como a mim.

— És tu a personificação da morte? — perguntou o médico curioso, tremendo-se em cada parte de corpo arrepiado, com uma gota de suor frio escorrendo por sua testa.

O aceno, desta vez, foi uma leve inclinação de cabeça para baixo, consentindo.

— Mas há tanto que ainda quero aprender! — desesperou-se, caindo ajoelhado aos prantos. Juntou suas mãos contemplando a figura macabra, implorando. — Como cuidarei de todas as pessoas vivas aqui, se nem a minha vida terei?

O suor descia de seu rosto e nunca como se uma torneira estivesse jorrando água para o chão. Ao olhar para baixo, Johann pasmou.

— Mas está claro agora? — perguntou a voz maligna, encarando o pobre médico e aproximando-se cada vez mais. — Admiro a sua coragem de lidar com esse mal, mas isto é maior que você — A mão gélida do defunto repousou sobre a testa suada de Fausto. — E agora eu devo cumprir meu papel.

Os olhos do velho médico reviraram-se e, ajoelhado, começou a debater-se de mãos juntos. Sua mente, em chamas, reproduzia-lhe imagens das quais nunca havia visto antes.

"Le Fantastique Cirque du Aleister Deveraux"

Era o escrito na singela placa do lonado colorado e branco, ao som de uma alegre e boba canção instrumental, animada por um trompete.

— Malak! — clamou uma terceira e mansa voz.

Um homem de pés descalços sujos adentrou pela porta, seu bigode bem penteado contrastava com a barba farta no rosto e sua cabeleira cinza. Limpou o ombro direito com a mão esquerda, como se tivesse alguma sujeira em seu terno negro esfumaçado, parecia ter saído de um incêndio.

— Mefistófeles? — Confuso, a criatura retirou sua mão da cabeça de Johann, que caiu ao chão instantaneamente.

— Querido irmão, "anjinho da morte do papai"! — cumprimentou o peculiar barbado.

— O que você quer, Mefisto?! — bradou o defunto, irritado. — Demônios não podem intervir nos meus serviços, não há nenhum contrato que o prenda a este mundo.

— Não... ainda.

— Mas eu já dei o meu toque — rebateu, mostrando a palma de sua mão.

— Ora, mas que teimosia! — O demônio enfezou-se. — Acha que eu não ficaria contente com menos um primata no mundo?! São ordens superiores!

Mefisto ergue o corpo do médico e jogou sobre seu ombro direito.

— Superiores de quem? — perguntou o anjo da morte, curioso.

— De cima — respondeu irônico, quando apontou o indicador esquerdo direcionando, enquanto segurava as pernas do velho com a outra. — E debaixo também — complementou, tornando a repetir o gesto em direção oposta. — Sem mais perguntas, paz! — Acenou despedindo-se, o gesto também serviu para abrir um portal circular, o qual adentrou.

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⏰ Última atualização: Jul 06, 2018 ⏰

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