Notas: primeiramente um salve à todas as arrombadinhas da gangue do Gai responsáveis por me animar todos os dias e auxiliar o meu descontrole. Em segundo lugar: não, gente, essa fic não é igual à Freedom, mas devo dizer que terá pontos semelhantes na história sim por conta do mesmo contexto de comunidade x criminalidade. Não posso esquecer: espero que gostem e que tenham uma boa leitura!
Risadas e passos apressados eram ouvidos aos montes, vindos das crianças que queriam aproveitar ao máximo os últimos dias de férias escolares.
Pipas voavam pelo céu alaranjado pelo início do entardecer, tal como as roupas nos varais que aos poucos eram recolhidas pelas donas e as fitas penduradas por cordas desde a copa mundial de futebol acontecida no ano anterior.
Os trabalhadores diurnos voltavam aos poucos, mais cansados pelo problemático transporte que os trouxera do centro da cidade de volta à periferia que pelo trabalho em si, e aqueles que trabalhavam na noite partiam, com sua agitação escondendo a dificuldade da "vida fácil" que levavam.
Mas ambos ostentavam sorrisos nos rostos, cantarolando a canção que saía dos alto falantes colocados nos postes e que abafava os gritos de dor e os sons das pauladas dadas.
"Saudosa maloca...
Maloca querida...
Dindin, donde nós fizemos
Os dias feliz de nossa vida!"As ruas ainda pintadas de verde e amarelo ganhavam mais uma vez o tom vermelho do sangue que escorria de um de seus becos.
O samba velho, clássico e belo contrastava com a miséria do local e a felicidade dos versos e dos sorrisos com o desespero do homem que pagava por seus maus atos.
— Pega papa-anjo filho da puta! - gritava alguns dos criminosos da área para o líder de todos, enquanto a rádio ainda tocava.
— E esse foi mais um clássico pra vocês. Salve, salve, Adoniran Barbosa! Eu espero que vocês tenham tido um bom dia de trabalho e que tenham uma boa noite. Tamo junto! - dizia o locutor da rádio clandestina que soava pelos becos e vielas do morro do japonês, no complexo de favelas de Konoha enquanto se abanava com o leque de papel, apertando um botão que fez tocar gravações curta de jingles de variadas lojas da comunidade, levantando e passando o comando da atração para a amiga que acabara de chegar. - Porra, Tenten, se atrasou porque? - reclamou Darui à garota que tirava o capuz e já se preparava para assumir o comando da rádio ao fim das propagandas que ajudavam a manter o funcionamento do local.
— Tartaruga tá dando um pau num tarado lá no beco do Dente de Leite, po, pegaram cara de calça arriada tentando agarrar garotinha de 6 ano... - explicou satisfeita pelo castigo que o homem levava, sem dar muito tempo ao amigo, o mandando ir assistir com os próprios olhos a execução da sentença do "tribunal do crime" em seu celular, afinal, já estava em tempo de voltar à rádio.
— Fala, galera, eu sou a Zero10 e essa é mais uma transmissão da Japa, sua rádio comunitária favorita! - dizia enquanto assistiam à transmissão ao vivo realizada por um outro colega na internet, alternando entre isso e os agradecimentos e cumprimentos do dia. - Aquele salve bolado pra todo o morro do japonês, especialmente pro nosso mestre Kira, da bateria campeã que com certeza vai ser campeã nesse Carnaval que tá chegando, pra dona Tsume, que amanhã vai tá dando aquela moral nos animalzinho de geral. Valeu, tia Tsume, num esquece de dar uma moral no cachorro do Kiba... O Akamaru vai pegar pulga! - riram da piada enquanto torciam para que o dono do morro acertasse mais um golpe no pedófilo que chorava e era cuspido pelos demais traficantes e pelo pai de sua vítima, aclamando o linchamento público que chamavam de justiça, não deixando de elogiar a postura do traficante. - Por último mas não menos importante, aquele salve de responsa pro nosso chefe da FJK, salve Tartaruga, botando sempre o lixo pra fora! - o anúncio era uma motivação a mais para se empenhar no castigo ao homem ensanguentado diante dele, que chorava e as lágrimas se misturavam ao sangue.
— Chorou assim quando foi pra fazer maldade com a filha dos outro? - reclamou o pai da menina que chorava no colo da mãe, sendo protegida por ela e tirada dali assim que sua mãe teve uma reação que não fosse chorar e abraçá-la.
Aquela estava longe de ser uma cena indicada para crianças, aliás, até mesmo alguns adultos poupavam seus olhares e mentes daquela selvageria toda, sem saber dizer qual dos dois crimes era o mais repugnante.
Mas, por hora, o "certo" era Tartaruga, que largou o pedaço de madeira e jogou contra sua vítima, que já tinha alguns ossos quebrados e estava fraca, mas ainda assim tentou apelar por sua vida.
— Por favor, Tartaruga, eu não faço mais, eu não faço mais! - clamou o fazendo rir diante daquela verdadeira piada.
— Eu juro sempre essa mesma coisa quando vou preso, Zé ruela! - retrucou pegando a arma que tinha na cintura e apontando diretamente para o homem que nem sequer teve tempo de ouvir o barulho dos dois tiros que acertaram sua cabeça, sujando as paredes e os pés de Tartaruga com ainda mais sangue do que já havia ali.
E fazendo todos correrem.
— Todo mundo pra casa que já é hora do descanso! - aconselhou calmo como se não tivesse acabado de matar alguém.
E, para ele, realmente não havia matado, uma vez que estupradores e pedófilos sequer eram pessoas em sua concepção e que, mais uma vez pra ele, estava fazendo justiça ao seu povo.
E sua justiça poderia não ser a mais certa, mas era a que chegava a eles.
E todos o aplaudiam, fosse pelo ato ou pelo medo que sentiam dele, que, ao final da noite, deixava de ser aclamado na rádio local e passava a ser demonizado nos jornais da "Cidade Maravilhosa" que sempre lembravam de explorar todo o caos da favela esquecida em outras ocasiões, mas sempre era lembrada nas ocasiões onde ela dava votos e audiência.
E a cara do líder do morro do japonês agora fazia os medidores de audiência estourarem no jornal nacional.
— Vamos agora ao Rio de Janeiro, onde vídeos chocantes mostram o traficante Gai Maito, mais conhecido como Tartaruga, de 44 anos, chefe do tráfico no morro do japonês agredindo um homem desconhecido à pauladas. - as cenas nubladas devido ao alto teor de violência fazia com que muitas das famílias que jantavam tivessem os estômagos embrulhados, mas que outra grande parte continuasse e até sorrissem ao saber do contexto da situação.
Afinal, era um malfeitor a menos, um a mais na conta de Tartaruga não faria diferença para ele, mas talvez fizesse diferença nas vidas daqueles que poderiam ser vítimas daquele homem.
E, por mais horrível que fosse a relativização de justiça-crime, alguns agradeciam mentalmente a ele e entendiam os aplausos mostrados no vídeo que ainda era mostrado nas TV, enquanto o âncora do noticiário contava os relatos.
— Depoimentos de testemunhas que não quiseram se identificar dizem que o líder da Facção Juventude Konoha teria executado a sentença de mais um dos tribunais clandestinos. - contava logo dando lugar à filmagem escura e desfocada do morador da favela.
— Po, o cara tava bagunçando a área, tentando estuprar criancinha. Tartaruga pegou e esculachou pra favela toda ver, saiu no carrinho de mão só os resto... - a voz modificado e robotizado escondia a identidade de quem sabia que não deveria estar falando.
E Tartaruga, que assistia à televisão junto de Dente de Leite, seu aprecio além do crime, mudou de canal para o canal de esportes.
— Viu como eu fiquei bem na TV dessa vez, Kakashi? - perguntou bebendo suco de uva enquanto o outro tomava cerveja, negando com a cabeça.
— Você sabe que você tá errado, não sabe? - era uma pergunta irônica e retórica, mas ainda assim ele lhe respondeu após festejar o gol feito apenas pelo prazer de ver o time rival ao seu estar perdendo.
— Eu posso tá errado, mas eu tô fazendo alguma coisa!
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Guetto
FanfictionMorro do japonês, Rio de Janeiro, no verdade e amarelo Brasil. A cidade maravilhosa manchada de sangue e seus guetos inchados de dor clamam por liberdade, enquanto lidam com a violência em seu estado puro e a esperança de voltar para casa são e salv...