Respeito E Melodia

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Dente de Leite revirou os olhos diante do companheiro que xingava alguns dos jogadores pela má atuação, mesmo que aquele fosse um mero amistoso. Tartaruga o olhou de canto e notou seu incômodo.

— Que foi? Quer levar pau também? - perguntou em um contexto de duplo sentido e o outro riu, negando com a cabeça.

— Como ele não, mas a gente pode negociar isso agora. - trocaram poucos olhares maliciosos e se beijariam, não fosse pelo forte barulho ouvido.

— Pra puta que pariu! - reviraram os olhos por conta do escândalo feito por um dos filhos que provavelmente estava brigando com o computador.

— Quebra essa porra que eu quebro o resto na tua cabeça, Udon! - reclamou Kakashi enquanto Gai ia até o quarto do filho mais novo, lutando para encontrá-lo em meio à bagunça do quarto.

Era impressionante como algum ser humano poderia viver ali, em meio ao amontoado de roupas jogadas pelos cantos, frascos vazios de descongestionante nasal e até mesmo pratos sujos.

E mais impressionante era que Udon vivesse ali a maior parte do tempo.

— Udon? - chamou mirando o computador que parecia ser a única área limpa ali, vendo o filho com a cara quase colada na tela, xingando o adversário pelo headseat.

Revirou os olhos uma vez que ele sequer o ouviu. Se aproximou e puxou os fones.

— UDON! - gritou ao seu ouvido, quase o derrubando da cadeira com o susto.

— Que é, pai? - perguntou antes de assoar o nariz, jogando o papel na lixeira já cheia e voltando ao jogo.

— Que é que tá na hora de você sair desse chiqueiro. Sei lá, vai dar uma volta pelo morro, tomar um açaí, respirar um ar, foder, sei lá! - o menor negou, ajeitando os óculos no rosto e o ignorando por completo. Tartaruga rosnou, definitivamente era mais fácil comandar um complexo de favelas à mão armada que ser pai daquele verdadeiro catarrento.

— Ah, eu não tô roubando, matando, sequestrando e nem nada, pai, tô fazendo nada demais! - declarou em sua defesa e Gai se apoiou no batente da porta.

— Eu só acho que eu taria reclamando menos se tu tivesse fazendo essas coisa, pelo menos tava levantando essa bunda mole da cadeira e trazendo dinheiro pra casa! - rebateu pronto para o verdadeiro discurso dos males do sedentarismo ao corpo quando percebeu que ele já estava jogando e cantarolando o alto pagode que tocava em seus fones.

Ele não lhe dava a mínima importância e por isso suspirou derrotado.

Respeitado e temido pela polícia, pela milícia, pelas demais facções, pelos presídios em peso e por toda a população do Rio de Janeiro. Desrespeitado em casa pelo próprio filho!

Não ia conseguir lidar com aquilo sozinho.

— Dente de Leite, reforço! - chamou o parceiro que chegou a se assustar com estado do quarto do garoto.

— Meu Jesus Cristo, Udon! - reclamou e também foi ignorado, mas não fazia mal. Como com Dente de Leite as coisas em casa eram resolvidas de forma drástica, ele calmamente foi até a caixa de luz e desligou o disjuntor responsável pela luz nos quartos da casa.

— PORRA, PAI! - gritou indignado com o acontecimento, indo até o corredor frustrado, a tempo de ver os pais trocando um aperto de mão.

— Porra era o que o seu pai devia ter gozado fora no dia que fez você! - disse como se não fosse com ele, voltando à sala pra tomar sua cerveja enquanto Tartaruga religava a energia.

Udon não podia acreditar no que eles havia feito e muito menos na naturalidade que fizeram.

— Vocês foderam com o meu jogo, sabiam? - questionou botando as mãos na cintura, com seu pai lhe entregando sacolas e uma vassoura.

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