III

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29 de janeiro de 1956

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29 de janeiro de 1956

Ali, aonde a guerra não chegou totalmente, mora numa casa simples Dulce, uma mulher negra, alta, de cabelos curtos e olhos verdes, com a sua filha Luanda, uma menina sonhadora de cabelos bem curtos, pele negra e olhos escuros.

Dulce adotou a inocente garota quando ela tinha dois anos de idade e estava num lar para desabrigados, pois a sua mãe biológica faleceu com problemas cardíacos e o pai morreu numa guerra na França.

Algo naquela criança, que agora já completou os seus seis anos, chamou a atenção dela, talvez o olhar bondoso – com olheiras profundas que refletem a tristeza e o sofrimento vivido – ou o vestido florido em que usava quando Dulce a viu pela primeira vez.

Isto é muito raso, foi algo mais profundo e inexplicável. Como se, no primeiro olhar, sentissem o amor maternal e filial reciprocamente pulsando e conectando-se em suas almas.

A mulher de sorriso miúdo e tímido ainda cuida das flores azuis e amarelas que habitam a jardineira e estão expostas na janela da cozinha, mas, mesmo assim, elas estão murchas, parece que sentem falta das mãos cuidadosas de Amani a tocá-las, regá-las e a mexer na terra fértil por longas horas.

Luanda gosta de ficar debruçada na janela – escondida atrás do pedaço de trapo estampado que serve de cortina –, deixando os olhos vagarem naquele pequeno pedaço do imenso mundo em que ela vive.

Dulce prefere acreditar que Amani faleceu, ela resolveu matar todas as esperanças e ligações que a marcavam, ignorou a saudade, cansou de chorar todas as noites e esperar por ele.

Agora, ela acredita apenas em um sonho: mudar-se dali e ir para qualquer outro lugar em que tenha paz para conseguir estruturar o presente, que dará frutos no futuro.

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