Epílogo

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O presente constrói-nos e o passado fica manchado em nossas mãos, ele marca a nossa história e pode transformar-se na foto do arrependimento ou na relíquia de uma lembrança.

O ser humano está afundando-se a cada dia num precipício, por causa da sua capacidade de criar e modificar as coisas ao seu redor, nem tudo vem para o bem, pois, ele destrói e constrói para transformar. O Homem derruba as árvores para virarem matéria-prima e passarem a ser ilustres móveis para a tua sala. Há atos que são irreversíveis e refletem os efeitos a seguir do poder da destruição.

Todos somos uma árvore com as raízes em constante mutação, o nosso tronco cresce no caminho certo, depois florescemos e os dias embalam as flores murchas nos lençóis do vento e, com o passar do tempo, o que o universo cria, no princípio do fim destrói-se naturalmente, os frutos não colhidos apodrecem. Se você pode fazer o que estiver ao seu alcance, faça, agora, nunca perca oportunidades, elas são preciosas e únicas por surgirem quando tudo parece impossível.

Como segurar a respiração num mergulho, transitar pela rua e ver uma tempestade se armar no casulo do céu; como mudar os planos, contornar os problemas; como sentir novamente o ar caminhar pelos pulmões: mudanças vêm para nós nos entregarmos e para acrescentar anotações no rodapé das páginas da vida.

O tempo está dentro de cada um de nós, cravado nos nossos passos, nos nossos olhos e nos nossos dedos. Ele tem a sagaz magia de adormecer o passado de maus momentos e manter os fios da nossa essência vivaz, como gotas de água alastrando sobre a paisagem.

Para Dulce, apenas em Amélia, que era a sua mãe, o tempo era constantemente presente a pulsar e a se deteriorar nas marcas de expressão, nas queimaduras acidentais que ocorreram quando ela se colocava em frente ao fogão para cozinhar, no sorriso dela que foi se desfazendo, na dor da perca do seu marido, nas lágrimas que só apagavam-se quando ela adormecia e no blecaute da sua memória causado pelo Alzheimer. A linha do tempo se arrebentou e Amélia perdeu as suas lembranças, nada fazia sentindo, o vazio estava rabiscado ao seu redor e tudo se tornou desconhecido.

Agora, Dulce enxerga o tempo fazendo as suas modificações na sua própria filha, parece que, com perfeição, ele planeja e desenha cada instante de nossas vidas e o destino coloca-se em movimento para encaixar algumas peças.

_ Você precisa ter calma, eu tenho certeza que você vai fazer amigos incríveis.

_ Não mãe, já se passou um mês que eu estou naquela escola.

_ Você tentou fazer amizade com alguém? – perguntou Dulce sentando-se ao lado de Luanda e abraçando-a.

_ Sim, mas, eles são diferentes.

A cada idade que completamos, temos obstáculos e obrigações diferentes para enfrentar. Ao vê-las sentadas no sofá, Richard aproximou-se, abraçou-as e depositou um beijo sobre os cabelos de Luanda.

A vida é uma borboleta colorida que metamorfoseá-se no labirinto da evolução, enquanto o pêndulo do tempo segue o movimento contínuo dos dias efêmeros que nascem e falecem. Sendo assim, com o cair dos grãos de areia na ampulheta, as artísticas asas da delicada invertebrada desfazem-se, até putrificarem-se no vale obscuro e libertador da morte, pois, a história se repete, o tique-taque do relógio e as folhas do calendário fazem a vida chegar ao seu suposto fim. E ela salta do corpo e grita lentamente: a-de-us.

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