VII

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27 de março de 1961

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27 de março de 1961

Dulce, minha amada.

A independência de Mûre foi proclamada, não vejo a hora de te ver novamente.

Depois de tudo, eu ainda estou vivo e espero que você esteja à minha espera. Tenho alguns ferimentos espalhados pelo rosto, não se preocupe ao me ver.

Sinto saudades, quero-te tê-la pela eternidade. Você sempre será a única rosa branca que carrego no coração.

Amani.

Após alguns anos, desde que Dulce foi embora com a sua filha – que Amani nem sabia da existência desta –, esse foi o último bilhete depositado abaixo da porta da antiga moradia dela – por um garoto de quatorze anos que faz este trabalho às escondidas – e ela não o recebeu por ter partido.

Mas, Amani faleceu no mesmo ano de 1961 em meio ao conflito. Depois da independência de Mûre, o exército atacante vingou-se matando o general e alguns dos soldados que defenderam-no. Os corpos frios e mortos, sem piedade, foram recolhidos e jogados ao oceano, e Amani foi um destes.

Talvez, quando o homem parar para ver as estrelas que riscam o céu, e refletem as suas luzes prateadas na água límpida dos mares, poderão ver a paz trajada no seio da natureza, pois o tempo é passageiro, mas o mundo não se acaba, enquanto houver o sol e a lua adornando o vazio nos nossos olhos.

Mûre esconde imensuráveis riquezas, incluindo florestas conservadas e muitos minérios para serem explorados, e o homem é capaz de fazer de tudo para ter o que quer, desde matar, até guerrear, porque, para estes, a ambição não tem fronteiras.

Incontáveis vezes é preciso saber renascer para deixar perder-se no vento tudo o que não lhe faz bem. À Dulce e à Luanda uma vida melhor se inicia, é uma fase de novas descobertas com um futuro confiante, um sorriso estampado nos rostos e o brilho da mudança nos olhares.

Muitas vezes, algumas palavras se perdem e são varridas pelo acaso. Pois, as reviravoltas entre as páginas da vida surpreende-nos e faz a esperança renascer, quando ela já havia falecido e tornado-se poeira dos cacos da fé.

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