Capítulo 04 (Parte X)

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-- Certo. Está acostumado a causar esse efeito sobre as mulheres, verdade? Se tivesse a oportunidade, atiraria-me em cima. -- Fez um som com a língua, como se chupasse.

Anahí olhou sua amiga e franziu as sobrancelhas, enquanto em sua mente se formavam imagens de sua amiga e Anahí praticando o mambo horizontal. Sentiu o afiado guilhão de ciúmes e a ponto esteve de perder o equilíbrio.

-- A questão é que não se deitaria comigo se as amostras não estivessem mescladas. Você mesma o disse.

Erin a olhou e sacudiu a cabeça.

-- O que te faz pensar que não se deitaria contigo?

-- Que o inferno ainda não se congelou. - Erin riu.

-- Sério, Anahí, o que te faz pensar que não gosta?

-- Não sou seu tipo. Você mesma viu com seus próprios olhos o tipo de mulheres que costuma atrair.

Sua amiga ajustou o retrovisor esquerdo do carro.

-- Tem se olhado ultimamente? Já não é nenhuma monja, Anahí.

-- Sou um ímã de insetos estranhos.

-- Não acredito.

-- Bom, pois sou.

-- Então Poncho é o inseto estranho mais gostoso com o qual eu tenha cruzado alguma vez.

-- Para que conste em ata, não dormimos juntos, mas, bem fizemos todo o resto.

Erin deu marcha ré e manobrou para incorporar-se à auto-estrada.

-- Então, quer ou não se deitar com ele e acabar o que começaram?

Anahí descansou as mãos sobre seu colo e olhou distraidamente a estrada.

-- Não... Sim... Não sei. -- Apoiou a cabeça contra o frio vidro da janela e suspirou.

-- Bem, o que decide?

Que sentido tinha mentir? As expressões de seu rosto eram totalmente transparentes.

-- Sim -- admitiu finalmente em voz baixa, embora sabia que outra noite com ele equivaleria ao suicídio emocional.

Nem sequer um colete anti-balas poderia protegê-la da forma em que a fazia sentir.

-- Pois então vá encontrá-lo. Seduza-o amanhã de noite. Isso é o que eu faria.

-- Há alguém em casa? Acredito que se esquece de algo, Erin. Deitou-se comigo porque as provetas estavam trocadas. Além disso, amanhã não quererá dormir comigo, entre outras razões porque o que lhe vou injetar é um inibidor.

Erin arqueou uma sobrancelha, enquanto em seus lábios se formava um sorriso brincalhão.

-- Volta a trocar as provetas.

Anahí abriu os olhos de par em par, surpreendida pelo que acabava de ouvir. Nunca lhe teria ocorrido fazer algo assim.

-- Sou incapaz de fazê-lo.

-- Mal, mal, Anahí. Sempre jogando a ser a menina boa. Sempre seguindo as regras e pintando só dentro das marcas. Deixe te perguntar algo. Aconteceu isso bem com ele?

O termo bem era curto.

-- Sim.

-- E a ele pareceu bem?

Anahí recordou seus olhos cheios de luxúria, a forma em que seu corpo tinha reagido e seus gemidos de prazer no momento do orgasmo. Só pensar nisso fez que um tremor percorresse seu corpo.

-- Suponho que sim.

Erin agitou uma mão no ar.

-- Claro que sim. E voltaria a passar bem. Os dois o fariam. Assim onde está o problema?

Anahí pôs os olhos em branco.

-- Quer saber onde está o problema? Comecemos por que é imoral... -- respondeu, fazendo ênfase na última palavra -- Além disso, o que acontece ao experimento? Temos que apresentar os resultados ante o comitê a semana que vem. E se não conseguir o que estão procurando, não aprovarão a subvenção e ficaremos todos sem trabalho, inclusive você -- ameaçou, agitando um dedo no ar para enfatizar suas palavras.

-- As palavras chave em tudo isto são "semana" e "que vem". Tem tempo mais que suficiente para provar o experimento e para penetrar entre os lençóis de um cara que tem fama de cumprir todos os desejos de uma mulher.

Anahí olhou a sua amiga. Tinha comprovado que, em efeito, Alfonso era capaz daquilo e de muito mais. Em realidade, com ela tinha sido assim.

-- Não tinha nem ideia de que fosse tão malvada. Me recorde que te despeça amanhã pela manhã -- brincou.

Erin sorriu e deteve o carro frente ao apartamento de sua amiga.

-- Pense nisso.

-- Não -- respondeu.

Anahí cruzou os braços sobre o peito.

-- Já o fiz e não penso te dar atenção -- respondeu com rudeza. -- Obrigado por me trazer, Erin. Nos vemos amanhã.

-- Anahí, espera. É verdade que tem que responder uns recados pela amanhã?

-- Não -- respondeu.

-- Então passarei para te buscar e iremos juntas à partida. Não tem nenhum sentido que usemos dois carros quando tenho que passar por aqui igualmente.

Anahí assentiu.

-- Parece-me bem. Nos vemos amanhã, então. -- Saiu do carro, despediu-se de sua amiga com a mão e correu para a entrada do edifício.

Como podia ser que Erin tivesse sugerido algo tão ridículo?

Tratou de esquecer a conversa que acabara de manter com ela, mas, apesar de todos seus esforços, as palavras de sua amiga voltavam uma e outra vez a sua mente. Abriu a porta de vidro da entrada e entrou no edifício. A única coisa na qual queria pensar era em tomar um banho quente, preparar uma xícara de chá e meter-se na cama para desfrutar de uma reparadora noite de sono antes da partida do dia seguinte. Não queria esbanjar nem um segundo a mais em algo tão estúpido. Porque quanto mais pensava nisso, melhor lhe soava a ideia. Santo Deus! 

Prazer Sob Controle (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora