My peace by your side

01. Aquele em que Rachel acha o celular.

Rachel mira o dardo no alvo grudado na parede fosca do bar, com um pé a frente, concentra toda a sua atenção no pequeno circulo vermelho no centro, dando um último suspiro para prender sua respiração, ela morde o lábio inferior e lança o dardo com a leve esperança de acertar pelo menos uma vez algo em sua vida, mas não foi que aconteceu. Bem na hora do lançamento, um homem grande e careca passa, o dardo acerta sua jaqueta de couro espetando minimamente sua pele. Rachel esbugalha os olhos tomando um susto com a cena, se joga rapidamente na cadeira ao seu lado escondendo seu rosto com as mãos, o grandalhão olha ao redor procurando a possível pessoa que possa ter feito isso com ele. Como não encontra ninguém suspeito, da as costas rabugento e sai do local. O suspiro pesado da morena ao ver o cara sair do bar é ouvido por todos perto dela, principalmente pelo seu amigo, Will, que limpa o balcão com seu paninho quadriculado.

— Deveria tomar mais cuidado. — Ele balança a cabeça rindo da situação em que a garota se encontra. Rachel mostra a língua pra ele agindo de uma forma infantil, pois nada que o insultasse passou na cabeça da jovem naquele momento.

— Eu quero mais uma. — Ela pede gentilmente e ele sacode a cabeça negando para a garota. Ela franze a testa com a atitude do bartender, molhando seus lábios, ela cerra os olhos ameaçando profundamente o ruivo.

— Você já bebeu demais, seu pai notará se beber mais uma. — Ele se aproxima das prateleiras lotadas de diversos tipos de bebidas alcoólicas para servir outros fregueses sentados no balcão.

— Meu pai nem notou que eu sai. — Ela rola os olhos apoiando seus braços no balcão. — Ele só me nota quando eu não pego o jornal de manhã. — Seu olhar de direciona ao rapaz ruivo do outro lado do balcão enchendo dois copos de alguma bebida alcoólica não decifrada pela morena.

— Ele é um homem ocupado, Rachel. — Will murmura guardando a garrafa em seu respectivo lugar. — Tente entender o lado dele.

— Eu sei, mas... Sei lá, ele poderia, pelo menos fingir que se importa comigo. — Ela resmunga deitando a cabeça nos braços a cima da madeira gelada e suja do bar.

— Tenho certeza que ele se importa. — Will ouve ser chamado pelo seu patrão parado na porta, ele avisa a garota indo de encontro com o chefe. Enquanto Will se encaminhava para a sala do dono do lugar, Rachel pensara em como seria se seu pai desse mais atenção a ela. Desde pequena Rachel nunca teve a presença do pai na vida, lembra do seu aniversário de 8 anos, quando papai esquecera e chegara tarde da noite em casa, onde a pequena festa já havia acabado, deixando ali, uma garotinha que mal entendia o sentido da vida, desolada e triste pelo seu próprio pai ter esquecido seu aniversário. Também lembra do dia em que fora ao parque para ler um romance inglês e vira muitas crianças das quais seus pais as ensinara a andar de bicicleta, se recordando dos momentos em que seu vizinho falecido, Sr. Armstrong, a ensinara a dar os primeiros pedalos na bicicleta azul e velha do filho crescido de Armstrong. Sabe que a figura paterna na vida de um filho é muito importante, é onde se busca proteção quando ouve latidos e uivos a noite, ou um pesadelo depois de um filme de terror, ser proibida de namorar até os trinta e nunca se aproximar de garotos na escola.

Sente seu coração sorrir ao se lembrar dos poucos e únicos momentos em que seu pai lhe deu atenção. Foi no dia 24 de novembro de 2001, era noite, papai a botava para dormir, ele lia um livro da qual Rachel se lembra de cada palavra.

"Kevin sabia que ao entrar pela aquela porta, jamais sairia, mas a sua curiosidade eminente o fez caminhar sorrateiramente até a maçaneta e a girar"

Papai lia forçando sua voz a formar um suspense na frase, Rachel se encolhia nos cobertores enquanto o Sr. Green lia cada vez mais baixo.

"A respiração de Kevin era a única coisa a se escutar naquele cômodo escuro, ele ficava cada vez mais tenso de acordo com seus passos curtos no assoalho que rangia a cada pisada do garoto".