Capítulo IV

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"Ah cara você sabe o dever de álgebra, eu não estou entendendo nada disso. A onde isso vai ajudar na minha vida?"-- Aí está Augusto, um dos amigos que considero muito, um irmão.--"Não se preocupa é só você estudar".-- Digo tentando incentivá-lo.

"Pra você é fácil, tu é um gênio!"- Diz abaixando sua cabeça a mesa.

"Não sou um gênio. Eu estudo é diferente, eu vou te dar umas aulas assim você não tem desculpa para não estudar".

"Obrigado irmão"-diz me abraçando animado. --"Sem problemas vamos pra aula agora".

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"Então deixa eu ver se eu entendi, você vai ser um ajudante da escola?"--"Praticamente"-digo abrindo o armário e organizando meus livros.

"Por que?"-pergunta estupefato pela minha tranquilidade.

"Isso iria me ajudar na matéria extracurricular, iria ficar bem na minha carta de recomendação, no currículo. Você já pensou nisso, certo?"

"É claro que sim... Ah preciso ir agora, depois a gente se encontra".-- Ele sai apressado.--"Tá bom".--Termino minha organização e saio caminhando pelo corredor, muitas pessoas apelidam de corredor da morte, pelo fato de ser um monte e adolescentes apressados.

Um grupo e pessoas passa por uma garota ela perde o equilíbrio, e está prestes a cair, por sorte consigo segurá-la  em meus braços, e ela não cai. E pelos olhos castanhos penetrantes já sei identifica-lá. Elisa Marques. A garota com os olhos que me perseguem, apesar de nunca conversar com ela, sinto como se apenas pelo olhar tivermos diversos diálogos. Aqueles não ditos mas em que sentimos. Ela me olhava muito, e isso fez com que eu a reparasse, cada vez mais. 

"Você está bem?"-digo preocupado, a olhando.

"Estou, obrigada por me pegar"-diz com as bochechas coradas e um sorriso tímido, se desenrolando de meu aperto.

"O importante é você está bem. Você é a Elisa Marques certo?"- Pergunto mesmo sabendo a resposta, gostaria de ouvir sua voz. E ela concorda-- "Você pode me ajudar?"

"É claro, em que?"- Ela pergunta animada, percebo que ficou receosa em saber o que é, e logo começo a articular-- "A bibliotecária me pediu para pegar uma caixa com documentos da escola, numa sala só que eu não acho essa sala, ela disse que você poderia saber"-falo mostrando os documentos que se encontram em minha mochila.

"Eu posso te mostrar...".- Ela diz me olhando--"Que bom!-lhe dou um sorriso.-- Ela seguiu a minha frente, percebi que ela ficava tendo arrepios, talvez por eu estar perto demais dela, acho que ela pode ter medo de mim ou algo assim.--"É aqui"-diz abrindo a porta, que se encontra no lado direito da biblioteca atrás da estante de livros.-- Agradeço ela pela ajuda, apesar de que iria achar a sala sem sua ajuda. Era uma pequena desculpa para poder me aproximar dela. Acho Elisa diferente das outras garotas, e me fascina a forma que ela me olha.

"Não a nada para agradecer".- E diz simplesmente.

"Mas me diz como você tem a chave daqui?-pergunto curioso.

"Praticamente nenhum dos alunos sabem da existência dessa sala, a utilizavam para pesquisas, e tem todos os registros escolares aqui, não é mais necessário por conta dos computadores. E respondendo sua pergunta, eu sempre ajudei a Mônica (bibliotecária) nos projetos de livros, entre outras coisas, com isso acabamos tendo um ciclo de amizade e confiança, faço trabalho voluntário aqui na sala de leitura, e com isso acabei tendo essa chave para a limpeza das estantes e separação de livros repetidos"-diz apontando a uma estante velha cheia de livros.

"Tá explicado, então só você e eu sabemos desse lugar?"-a encaro.

"Não necessariamente, tem a Mônica e Sofia minha melhor amiga sabendo"-Diz calma.

"Mas que tem acesso é só você e eu".- Digo me aproximando dela cada vez mais, queria saber de meus limites.

"Como?"- diz, com a expressão confusa em sua face.

"Logo você saberá, minha pequena Lis"-falo saindo da sala com a caixa de documentos em minhas mãos. Será que a assustei? Espero que não, a verdade é que pensei muito a respeito de finalmente abordá-la, só costumo conversar com Augusto, o restante das pessoas para mim são entediantes. Mas Elisa Marques não, nunca reparei que ela me olhava, mas Augusto me disse que ela ficava as aulas me olhando, e uma vez eu a vi e constatei que Augusto estava certo. Normalmente eu ignoraria como faço com todos, por conta da minha família acabo sendo exposto a comentários. Entretanto isso não me convêm, e não me diz a respeito da fortuna de meu pai, acabei me tornando uma pessoa evasiva a conversas e assuntos, por trás de tudo tem muito interesse nas pessoas. Quando chego na sala de aula vejo que Augusto está sentado despojado na carteira ouvindo música, o cumprimento colocando a caixa em cima da mesa.

"O que é essa caixa?"- Diz tirando seus fones de ouvido, bocejando.

"Vou documentar esses papeis e entregar para a bibliotecária, vou começar a fazer tarefas para ela e o colégio, como te disse vou ser ajudante.-- Falo mostrando os papeis da caixa e começando a trabalhar neles. Ele concordou e continuou ouvindo sua música tranquilamente. Enquanto estava arrumando os papeis e a documentação, lembrei de Elisa. --"Gus lembra daquela garota que você me falou?"-- Pergunto de olhos nos papeis.

"Qual delas?"- Ele pergunta olhando para o teto pensando e tirando os fones. Augusto me contava de diversas garotas, inclusive marcava encontros para irmos com elas, a quais encontros que eu nunca comparecia.--Elisa Marques.-- Digo o encarando, ele então começou a rir concordando com a cabeça.

"Sim, me lembro mas, por que está perguntando dela?"-- Pergunta arqueando as sobrancelhas e com um sorriso malicioso nos lábios, ele estava querendo me provocar claramente.

"Conversamos hoje, ela também é ajudante pelo visto".- Digo querendo ser indiferente ao assunto.  O que não funcionou muito bem, Gus só me encarava sorridente com minha expressão.-- " Eu lembrei de você me dizer que ela ficava me encarando, ela parece ser bem tímida".-- Acho que contornei meu interesse por ela ser algo sutil, para conversarmos.

"Ela é meio estranha Noah, não é de conversar com as pessoas, só os amigos mais próximos. Sempre observando tudo e não se importa com ninguém, até parece você".--Ele diz rindo. Mas aquilo não parecia ser verdade, eu não vejo Elisa Marques como eu me vejo, não eramos parecidos. Mesmo Augusto dizendo que nos parecíamos, ela parecia ser o total oposto de mim. Em seu olhar eu vejo uma intensidade que ela não mostraria no dia a dia. Castanhos, um caramelo brilhante, ela não é como a mim, não é como nada que eu já tivesse visto antes, era um completo enigma.   

Um destino em minhas mãosOnde histórias criam vida. Descubra agora