Mentiras que atravessam gerações: dívida histórica

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Imagine a seguinte situação: você está em casa, desfrutando de um momento de lazer em frente à televisão, talvez vendo um filme, talvez jogando videogame, quando tocam a campainha. Você se levanta e vai atender. Descobre que é um oficial de justiça, que traz uma intimação de um processo de execução de dívida em seu nome. Você resolve investigar, afinal não se lembra de ter ficado devendo para ninguém, e descobre que a dívida é de um senhor que morou na mesma cidade que você, só que várias décadas atrás. Ele já está morto, mas quando vivo devia uma certa quantidade de dinheiro a um outro homem, cujo bisneto resolveu cobrar a dívida agora, oitenta anos depois. E você foi escolhido porque é branco, descendente de italianos e mora na mesma cidade, exatamente como era o senhor devedor.
O parágrafo acima, tomadas como referências as nossas leis civis que regem as dívidas e as heranças, soa como um total absurdo. Afinal, em primeiro lugar, dívidas são contraídas individualmente, e são restritas à pessoa que as contraiu, podendo ser cobradas somente desta pessoa em vida, ou no máximo de seu espólio após sua morte. Não existe em nossas leis nenhum dispositivo que permita cobrar de um descendente uma dívida pregressa, pois tal absurdo feriria um direito básico dos homens, que é o de nascer livre.
Mas, contrariamente a todo bom senso, aos direitos básicos dos homens e à jurisprudência, nossos sociólogos, filósofos, historiadores e tantos outros pseudo-intelectuais de esquerda nos presentearam com um dos mais fétidos lixos ideológicos que já se ouviu falar, o conceito da dívida histórica. Essa formulação hipotética, ilógica e sem sentido tomou ares de verdade absoluta na boca da esquerda brasileira, que agora a tem utilizado para culpar todo um grupo de pessoas que vivem hoje pela desgraça de outras que viveram décadas ou mesmo séculos atrás. Querem impor uma dívida pesada ao homem branco ocidental dos dias de hoje, por conta dos atos dos homens brancos ocidentais desde a época do descobrimento do Brasil até a abolição da escravatura, como se as pessoas que vivem hoje fossem beneficiárias de atos condenáveis de outras, ainda que na maioria das vezes não apresentem nenhuma relação de parentesco com os “antepassados criminosos”, bastando para isso, na mente perturbada de um esquerdista, ter a mesma cor de pele ou morar na mesma região geográfica.
O próprio absurdo conceitual presente na dívida histórica já seria suficiente para refutá-la como argumento válido para compensações sociais. No entanto, quem se utiliza deste absurdo não pára por aí. Além da podridão da estrutura lógica há também o preenchimento desta estrutura com dados falsos e mentiras de todo tipo, amalgamadas em trabalhos farsescos cujo único objetivo é dividir a sociedade em grupos menores que se odeiem mutuamente, seguindo à risca a tática do “dividir para conquistar”.
A fim de mostrar ao leitor um pouco desta manipulação, e de como ela é facilmente refutada por fatos, convém tomarmos o exemplo de dívida histórica mais utilizado entre todos, que é o dos negros oprimidos pelos brancos. Os farsantes começam sempre contando a história do escravagismo praticado pelos brancos europeus que, certos da inferioridade racial dos negros, teriam exterminado a população africana e desgraçado o continente todo, somente para financiar a Revolução Industrial e enriquecer o Ocidente, terra dos capitalistas gananciosos. Só que não existe nem um traço de verdade histórica nessas afirmações, como veremos a seguir.
O primeiro embuste a ser desmascarado nesta “ficção histórica” diz respeito ao tráfico de escravos e à influência dos povos europeus nesta atividade. Muito antes do primeiro europeu atracar um navio negreiro na costa africana, milhões de africanos já haviam sido vendidos como escravos pelas rotas de comércio árabes e muçulmanas, que continuaram praticando o tráfico de escravos até o século XX. Aliás, o mundo islâmico também escravizou mais de um milhão de cristãos europeus, e até hoje ninguém apareceu para cobrar essa dívida histórica. Além desses fatos, some-se ainda a prática comum entre os povos africanos de comercializar e utilizar escravos internamente, dando sustentação econômica aos estados e reinos mais prósperos do continente. Essa prática era tão difundida entre os africanos que o primeiro proprietário de escravos dos Estados Unidos não foi um branco, mas sim um negro angolano que adotou o nome europeu Anthony Johnson. Anthony havia sido vendido como escravo dentro de seu continente, e depois conseguiu imigrar para a Virgínia, no século XVII. Havendo trabalhado como servo contratado por um tempo, ele recebeu uma propriedade rural como pagamento por seu tempo de serviço, prática comum na época, e lá teve a seu serviço o primeiro escravo negro da história norte-americana, John Casor. Podemos mencionar ainda os inúmeros casos de escravos, em toda a América, cuja primeira providência ao conseguir sua alforria era comprar um escravo para lhes servir, ou mesmo o caso do maior “herói” negro da história nacional, Zumbi, que possuía vários escravos a seu serviço. Tudo isso mostra que, de forma alguma, foram os homens brancos europeus que iniciaram o escravagismo na África.
Seguindo, temos que contestar a suposta doutrina de superioridade racial do homem branco europeu para com o homem negro africano. Ao contrário do que se afirma nas rodas esquerdistas de “estudo”, enquanto que autores árabes já manifestavam seu desprezo pela raça negra em suas obras desde o século XII, foi somente no século XVIII que surgiram na Europa as primeiras teorizações racistas, época em que os movimentos abolicionistas já ocupavam a agenda política de diversos países onde a escravidão era uma realidade. Além disso, quando os mercadores árabes praticavam o tráfico escravagista, eles mesmos aprisionavam seus escravos, e castravam uma boa parte deles, enquanto que os europeus adquiriam seus escravos das mãos de mercadores africanos, e desconheciam o hábito da castração.
Por último, a propriedade de escravos era uma realidade para uma pequena minoria. Em geral, considerando toda a América escravagista, menos de cinco por cento da população branca era proprietária de escravos, enquanto que mais de vinte por cento dos negros livres possuíam um ou mais negros escravos.
Assim, não só é uma farsa o conceito de dívida histórica, como também o são as alegações históricas presentes nos discursos da esquerda, esses sim racistas e tendenciosos. E esses mesmos discursos mentirosos são aplicados a quaisquer minorias em que os engenheiros sociais marxistas enxerguem uma oportunidade de disseminar divisão e ódio. Nesse sentido, todas as chamadas minorias servem como massa de manobra para esses manipuladores: negros, imigrantes, homossexuais, indígenas etc.
Destaco aqui uma conseqüência bastante danosa das políticas de compensação social que levam em consideração a tal dívida histórica: ao vitimizar um grupo étnico ou social por completo, tratando seus componentes como criaturas inermes dignas apenas de dó e incapazes de se desenvolverem sozinhas na sociedade, este tratamento mesmo acaba por tirar do grupo aquela força vital de superação que traz esperança ao homem, perpetuando quaisquer dificuldades históricas sofridas pelo grupo debaixo de uma maquiagem de justiça e reparação. Nada faz mais mal a um homem do que alimentar sua auto-piedade e privá-lo de sua honra. Infelizmente esse é o maior legado do governo petista para o Brasil. Se o nome “bolsa-família” lhe veio à mente, você está antenado com a leitura. É o tema do nosso próximo capítulo.

“É por isso que se distribui tanta cesta básica,
é por isso que se distribui tanto tíquete de leite;
porque isso, na verdade, é uma peça de
troca em época de eleição”.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Mentiram e muito para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora