Capítulo 1 - Primeira Parte

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O despertar de Bethany era marcado pelo nascer do sol, um ritual matinal que compartilhava com sua mãe. Juntas, preparavam o café da manhã antes de Bethany se dirigir à faculdade. Era um momento breve de serenidade antes da tormenta que a esperava lá fora. Seu único porto seguro naquele mar revolto era Iñaki, seu amigo fiel, cuja chegada diária era aguardada com ansiedade. A caminhada até a faculdade era um teste de resistência emocional. As vozes zombeteiras dos colegas eram como flechas envenenadas, atiradas com precisão para ferir. 

— Olha lá vai o Botijão e a Mangueira. Volta para o fundo do mar —, era o coro cruel que ecoava pelos corredores.

Iñaki, com sua presença reconfortante, tentava ser um escudo contra as palavras afiadas, mas mesmo sua solidariedade não era suficiente para deter o impacto das ofensas. No âmago da faculdade, Bethany enfrentava um calvário de humilhações. As provocações eram tão ácidas quanto o veneno mais amargo. Previsões sombrias sobre seu futuro amoroso e sexual eram lançadas como maldições, cada palavra penetrando fundo em sua alma sensível. Ela tentava ignorar, mas as cicatrizes emocionais se acumulavam, pesadas como correntes que arrastavam sua autoestima para o abismo. Um dia, as palavras cruéis atingiram um novo patamar de crueldade. 

— Você nunca vai conhecer alguém, nunca vai namorar, nunca vai saber o que é um beijo de verdade... e muito menos saberá o que é fazer amor —, foram as sentenças que ecoaram em sua mente como um martelo golpeando sua fragilidade já abalada. 

Bethany se viu envolta em um vendaval de dor e dúvidas, seu coração dilacerado pelas palavras maldosas. O refúgio momentâneo se tornou o banheiro, onde ela buscava abrigo atrás das portas trancadas. Lá, o chocolate se tornava seu consolo, uma doce amargura que acalmava temporariamente sua alma dilacerada. Entre mordidas e lágrimas, ela se perguntava em um lamento sufocado. 

— Por que todos fazem isso comigo? Por que eu não mereço paz e respeito?. 

A carga emocional era tão intensa que Bethany nunca encontrava coragem para compartilhar o tormento com seus pais. O medo da incompreensão, a vergonha da exposição e a sensação de solidão a mantinham aprisionada em um ciclo de sofrimento silencioso. A faculdade se transformara em um campo de batalha onde ela lutava diariamente contra demônios invisíveis, buscando desesperadamente um vislumbre de luz em meio às sombras que a cercavam. 

{...} 

No dia seguinte, enquanto Bethany passava pelo corredor durante a segunda aula, seus ouvidos captaram uma conversa fragmentada entre duas alunas. Elas sussurravam sobre um pacto com o diabo, palavras que ecoaram em sua mente e despertaram sua curiosidade. 

— Pacto... —, murmurou ela consigo mesma, seus pensamentos já mergulhados na ideia. 

Após decidir sair mais cedo da escola naquele dia, Bethany retornou para casa e se recolheu ao seu quarto. O sol deu lugar à noite, e ela permaneceu deitada em sua cama, contemplando a perspectiva de um pacto com o Diabo. As horas se arrastaram até que o relógio marcasse meia-noite e meia, um momento em que o mundo parecia suspenso em um limiar entre a realidade e o desconhecido. 

— Será este o momento propício para tal pensamento? Ou desejar um pacto? —, indagou-se, sua voz ecoando no silêncio da noite. 

Após uma ponderação profunda e inquieta, Bethany tomou sua decisão. Sentou-se na cama, envolta pela penumbra do quarto, e proclamou em voz baixa. 

— Eu desejo fazer um pacto... venha, venha, Diabo, venha... estou chamando por você, venha... 

Um arrepio perpassou seu corpo quando um vento gélido irrompeu pela janela entreaberta. Contudo, sua determinação não vacilou. Persistiu, desafiando o desconhecido que parecia espreitar nas sombras. Após um momento de expectativa, a atmosfera voltou à calma, e Bethany, desapontada, murmurou para si mesma: 

O Diabo é o Meu Namorado - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora