Ele passou devagar pelo caminho íngreme e irregular, até chegar na entrada da caverna e ser inundado pelo cheiro horrível novamente. A menina também pareceu sentir, uma vez que ela puxou uma parte da capa do caçador e imediatamente usou para cobrir seu nariz e sua boca. A menininha foi muito esperta e, nesse momento, o homem passou a gostar ainda mais da Arryn.
Quando estavam prestes a sair da caverna, o caçador estancou subitamente, encarando a floresta à sua frente. Arryn percebeu a falta de movimento e já estava prestes a pronunciar alguma palavra quando o homem pôs a mão em forma de concha sobre a sua boca e sussurrou em seu pequeno ouvido.
— Não proteste com o que eu estou prestes a falar e entenda que só farei isso porque não temos nenhuma outra opção melhor no momento.
— O quê? — Arryn perguntou apavorada.
— Eu preciso te colocar no chão agora.
— Não... não... você disse... disse que ia me levar no colo... não quero ir pro chão! — protestou a criança, mesmo com o pedido dele para que ela não o fizesse.
— Escute Arryn, preciso que você seja valente. Tenha certeza que eu não pediria isso para você se eu soubesse que não seria capaz de fazer — o homem falou com determinação e deu um beijo na lateral da cabeça da menina.
— Eu... eu... eu não consigo — ela choramingou.
— Tenho plena convicção que consegue — o caçador falou com determinação na voz e puxou o rosto da criança em direção ao seu. Olhando sem seus olhos, ele continuou: — Afinal, não foi à toa que seus pais te deram esse nome que você carrega. Esse nome forte, de pessoas tão valentes, que chegavam até mesmo a rir e a dançar com o perigo, tais como você e a minha brava irmã.
— Sua irmã dançava mesmo com o perigo? — ela perguntou com os olhos arregalados.
— Sim, ela fazia exatamente essas coisas que te contei e agora é a sua vez de fazer também. Acha que consegue?
— Acho... acho... que... sim — a criança falou pausadamente e sem convicção.
— Certo! Viu como você é uma menina valente? Agora vou te colocar no chão e quero que me prometa uma coisa. Aconteça o que acontecer aqui, vai ficar sempre atrás de mim. Promete? — o homem perguntou quando a menina encontrava-se praticamente no chão.
— Prometo — Arryn falou entredentes.
O caçador virou-se de frente para a floresta, com a criança às suas costas, encarando o perigo à sua espera com o peito inflamado pelo ódio que sentia dos vormags. Quatro das seis criaturas que deixaram a caverna haviam retornado. Olhavam para o homem e a criança com os olhos cobertos de malícia e desejo, o puro mal encarnado. Elas soltaram um grito uníssono que deixou todos os pelos do caçador arrepiados e ele imediatamente sentiu quando Arryn se agarrou com força às suas pernas.
A pobre menina tremia sem parar e o caçador sabia que era só questão de tempo para as criaturas avançarem sobre eles. Custe o que custar, eu vou cumprir com a promessa que fiz a essa criança. Os vormags não irão encostar em um fio do cabelo dela. Eles cairão perante a minha fúria e sentirão o peso das minhas armas. Esse será seu último ato antes de deixarem esse mundo de uma vez por todas, ele jurou mentalmente.
O caçador puxou as espadas da cintura.
O grito das criaturas cessou com o tilintar do aço e os vormags avançaram com olhos famintos e com as garras ansiando pelo calor de sangue fresco, disponível logo ali, nos corpos quase ao seu alcance. Seus dentes desejavam provar loucamente o sabor da carne das suas próximas vítimas, que se encontravam paradas, onde nenhum homem normal ousaria estar naquele momento.
Porém, o caçador estava longe de ser apenas um homem normal e não tremeu diante do furor dos vormags.
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O Caçador Misterioso
Fantasía[Vencedor do Wattys 2018 na categoria Tesouros Escondidos] Em uma noite sombria e traiçoeira, um homem misterioso vaga pelo mundo em busca do seu destino. Durante a sua jornada, depara-se com um rastro de mortes brutais que o leva a uma inesperada d...