Capítulo 23

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A trilha improvisada por dentro da floresta era densa e abafada, composta, na sua grande maioria, por árvores altas e robustas, cobertas de galhos repletos de folhas cinzentas, sem flores e frutos. Não parecia haver nenhuma vida aparente ali, apesar do caçador ter certeza que alguma coisa os seguia por todo o percurso.

Mesmo caminhando durante o dia, a floresta não permitia que a luminosidade chegasse até eles e isso já estava irritando o caçador. Junta-se a isso o fato da dificuldade de locomoção dentro da trilha, devido ao chão ser irregular, coberto por folhas secas, musgo, terra fofa e um líquido viscoso que parecia ser sangue ou qualquer outra coisa que ele não gostaria de pensar no momento.

Se já não bastasse tudo isso, o fedor por todo o caminho era algo insuportável. O cheiro trazia a lembrança da caverna onde ele havia encontrado a pequena Arryn, há apenas algumas noites atrás. Lembrar da pobre menina doce e indefesa, envenenada e com a perna rasgada, lutando com todas as forças por sua vida e principalmente lembrar dos vormags e de todas as vítimas que eles fizeram durante sabe-se lá quanto tempo, acabou com todo o humor do caçador e ele repeliu todas as tentativas de conversa do velho Rasban e até mesmo de sua amada irmã.

O momento não era para conversas. O caçador sabia que não poderia haver distrações. Ele precisava estar com a mente totalmente focada no que vinha pela frente, mesmo sem ter ideia do que os esperava no local onde Gorvas se encontrava. O perigo era claro e iminente, e mesmo com toda a sua experiência, sem conhecer o local e principalmente sem saber o que encontraria quando alcançasse o seu destino, ele estava convicto de que suas vidas encontravam-se em jogo e um mínimo de planejamento, por mais precário que fosse, poderia fazer a diferença no final.

Absorto em seus pensamentos, encarando o chão após horas de caminhada, o caçador teve a sua atenção atraída pela voz de espanto do fantasma, que caminhava a uma distância de pelo menos vinte passos a sua frente.

— Isso não pode ser possível...

Com passos apressados e curioso para saber o que havia deixado o fantasma tão espantado, o caçador caminhou até onde Rasban se encontrava e, ao chegar, logo compreendeu o motivo da inquietação do seu velho amigo.

Ao sair da trilha, eles encontraram uma enorme clareira, da qual o caçador nunca havia ouvido falar e que não fazia a mínima ideia da existência, bem no meio do coração da floresta. As árvores naquele lugar eram gigantes e muito esquisitas. Seus troncos eram grossos e negros como a noite, com a base levemente inclinada para a frente e com raizes enormes, que pareciam se agarrar desesperadamente em tudo que encontravam por perto. Os galhos eram como se fossem braços grandes e musculosos, apontados na direção do céu, com folhas fartas e igualmente grandes, cinzentas e que serviam de cobertura para as ruínas de um castelo, totalmente negro, no centro do lugar.

O local era sinistro e grotesco, mas, ainda assim, o caçador sabia que isso não fora a causa do espanto de Rasban. O velho fantasma era rabugento e reclamão, disso ele tinha certeza, mas nunca fora de se deixar assustar facilmente em vida, e muito menos após a sua morte. O que o deixou verdadeiramente perturbado foi o vasto exército de criaturas vis e repugnantes espalhadas ao redor do castelo negro.

— Ainda podemos pegar outro rumo e voltar por onde viemos — Rasban falou com a voz trêmula e encarando fixamente o castelo a sua frente.

— Gostaria de poder fazer isso, velho — o caçador se pôs ao lado do fantasma ao terminar de falar.

— Nós ainda não fomos notados aqui... ainda podemos voltar tranquilamente — o velho suplicou mais uma vez e apontou na direção do ombro do homem ao continuar. — Além do mais, seus ferimentos devem estar em péssimas condições, uma vez que você não me permitiu trocá-los desde que saímos da minha casa. É suicídio entrar lá desse jeito.

O Caçador MisteriosoOnde histórias criam vida. Descubra agora