Capítulo 20

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— Estamos sozinhos, espectro — Alkhor girou em seus calcanhares enquanto apontava para todos os lados da floresta ao falar. — Podemos conversar agora?

— Estarmos sozinhos não muda em nada o que eu falei em relação à criança, demônio.

— Eu já lhe disse, espectro, existe outra forma de resolvermos isso — Alkhor encarou o caçador e não pareceu se importar com a presença de Adimus e muito menos com a aproximação de Rasban.

— Desembuche! — o espectro retribuiu a encarada, sem desviar o olhar ao retrucar Alkhor.

— O quê? — Rasban protestou veementemente. — Você deve estar fora de si para escutar qualquer coisa que saia da boca desse lixo asqueroso.

— Humpf! Sou obrigado a concordar com Rasban — Adimus falou enquanto batia levemente com o machado em sua mão. — Nosso trabalho é caçar e acabar com a escória a qual esse aí pertence, e não ficar de conversa fiada.

O demônio de olhos amarelos gargalhou ao ouvir o protesto de Adimus e Rasban. Batendo palmas, ele provocou ainda mais:

— Quem está no comando, espectro? Você ou esses seres inferiores que lhe acompanham?

Ainda encarando a besta, o caçador respirou fundo e arremessou a sua arma na direção do demônio, com um movimento ágil e surpreendente. A espada cravou no chão de terra batida com um tilintar metálico, a não menos que três passos de Alkhor, que imediatamente arregalou os olhos e exibiu os seus enormes caninos na direção do espectro e seus amigos.

Antes que o demônio pudesse dizer uma palavra, o caçador olhou para seus próprios amigos e falou:

— Eu aprecio a preocupação de vocês, meus amigos, de verdade, porém, como bem sabem, eu sou um homem de palavra e por mais que Alkhor seja um lixo asqueroso, como você disse Rasban, e preciso acrescentar também a palavra desprezível no seu elogio a essa besta parada à nossa frente, infelizmente eu me sinto compelido a cumprir com a minha parte do combinado, uma vez que ele fez a parte dele.

Alkhor pareceu ofendido e quando já estava prestes a protestar contra o que havia acabado de escutar, foi interrompido abruptamente pelo caçador.

— Demônio — o caçador apontou, com a outra espada que ele ainda tinha em mãos, na direção de Alkhor e com uma voz grave e intimidadora, falou: —, se a próxima palavra que sair da sua boca não for a solução para esse impasse, eu vou arrancar os seus olhos e os seus chifres com as minhas próprias mãos e depois vou atrás daquela besta maneta e faço com que ela coma as suas partes antes de dar cabo dela também.

Alkhor engoliu a seco e depois de ponderar por alguns instantes, fez como o caçador exigiu ao desembuchar o que tinha em mente.

— Venha comigo e a menina fica livre — Alkhor falou entredentes.

Um silêncio perturbador tomou conta da floresta. Adimus parecia confuso com a declaração do demônio enquanto Rasban destilava um olhar de puro ódio na direção da besta. O caçador não se importou muito com os protestos dos seus dois amigos enquanto olhava para Alkhor com um sorriso de canto de boca. Aquele sorriso quase imperceptível, de vitória, típico de quem está prestes a conseguir o que queria.

— Seu demoniozinho asqueroso e mentiroso de merda — Adimus quebrou o silêncio com uma fúria descomunal. Ele apertou seu machado com tanta força que dava para ver os nós de seus dedos completamente esbranquiçados. — Acha mesmo que nós vamos a algum lugar com você?

— Nós? — Alkhor gargalhou e deu de ombros ao continuar. — Perdoe-me, eu esqueci que estou lidando com seres inferiores aqui e desprovidos de inteligência. Se não me fiz claro antes, deixe-me fazer agora. Não existe nós! O convite é para o espectro e para ele somente.

O Caçador MisteriosoOnde histórias criam vida. Descubra agora