Capítulo 22

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Após algumas horas de tensão e sofrimento, finalmente a noite resolveu deixar a floresta para trás e deu lugar a uma luz pálida e insossa, revelando o céu cinzento de mais uma típica manhã em Eldrathor.

Depois de uma noite intensa e cheia de percalços, com a chegada da manhã, Adimus enfim pôde relaxar um pouco e diminuiu o ritmo dos seus passos para um trote leve. Mesmo cansado, o gigante sabia que ainda não era a hora de parar. Seus perseguidores ficaram para trás quando a noite se foi, é verdade, mas, ainda assim, a floresta já não era a mesma de antigamente. Outros tipos de perigo poderiam aparecer e ele não queria dar margem ao azar.

Nesse momento, a única preocupação que passava pela cabeça do gigante era achar um local adequado para a pequena Arryn poder descansar com uma certa segurança. A pobre menina passara praticamente a noite inteira embrulhada nos cobertores, embaixo do braço de Adimus, mesmo com a correria e todas as lutas pelas quais ele passara nas últimas horas. A criança merecia um pouco de paz e descanso, e ele se encontrava mais do que disposto em proporcionar isso a ela, então ele deixou todo o cansaço de lado e andou sem parar à procura do oasis perfeito para o merecido repouso de ambos.

O início da tarde já se aproximava quando Adimus enfim sentiu que já era hora de parar. Depois de procurar por um tempo, ele achou um lugar relativamente seguro, perto de uma montanha rochosa, cercada por grandes e robustas árvores. Não era muito o que ele tinha em mente para o seu descanso, mas definitivamente era melhor do que nada, e ele sabia que dificilmente conseguiria achar algo melhor, então, na falta de opções, decidiu que seria ali mesmo que eles ficariam.

Com os pés, Adimus chutou para o lado alguns galhos e folhas secas próximos a uma grande pedra e, com extrema delicadeza, ele colocou a pequena Arryn deitada no chão, ainda envolta pelos cobertores, e saiu de perto da menina, com a intenção de recolher alguns galhos para fazer uma fogueira.

O gigante sabia que era perigoso acender fogo ali, mas esse era um risco que ele precisava correr. A menina havia passado por maus bocados nas últimas noites, e até onde ele sabia, a febre poderia ter voltado, então, nada melhor do que o calor de uma bela fogueira para aquecer ainda mais a criança, principalmente nesse momento, no qual ele precisaria desembrulhá-la dos cobertores para limpar a sua ferida e trocar seu curativo.

Apreensivo, Adimus se aproximou da menina e pôs a sua enorme mão na testa dela, e logo ficou aliviado por perceber que a febre não havia voltado e agradeceu mentalmente por isso. Na pressa de sair logo da cabana do velho Rasban, e espumando de raiva do caçador por ele não o ter deixado acompanhá-lo, o gigante acabou esquecendo de pegar as misturas com as quais Rasban vinha tratando a criança e se a febre tivesse retornado... bom, pelo menos ele não precisou se lamentar também pela falta da bandagens limpas, já que pelo menos isso ele havia lembrado de pegar antes de deixar tudo para trás e acatar as ordens do seu velho amigo.

Cuidadosamente, Adimus retirou o curativo que cobria quase inteiramente a perna da menina e ficou surpreso ao ver que a ferida estava completamente fechada e com aquela casquinha típica do final do processo de cicatrização. Confuso e sem saber como Rasban havia conseguido esse milagre em tão pouco tempo, ele tentou não se aprofundar muito nesse pensamento perturbador e apenas tratou de enrolar uma bandagem limpa na perna da criança, antes de cobri-la novamente.

Apesar das circunstâncias, o gigante estava feliz com o estado atual da menina e depois de checar uma última vez se ela estava confortável, Adimus se permitiu relaxar um pouco mais e arriou o seu corpanzil no chão, a alguns passos de distância da criança disposta a sua frente, e recostou suas costas num enorme tronco de madeira gasta de uma das muitas árvores antigas que faziam parte da floresta.

O Caçador MisteriosoOnde histórias criam vida. Descubra agora