Depois de quinze monótonos dias de visitas, exames, e sonhos alucinantes, finalmente tive minha liberdade concedida.
- Sr Styles, pode soar estranho, mas foi um prazer ter o senhor aqui como paciente. - disse o Dr Edwards educadamente estendendo sua mão direita em cumprimento à mim.
- Também não posso dizer que estar preso à este quarto em sua companhia durante todo esse tempo foi o meu passamento favorito, mas o senhor foi ótimo em sua árdua tarefa. - gargalhas preencheram o gélido corredor que dava a recepção do hospital, onde Anne assinara alguns papéis para minha tão esperada saída.
O Sol brilhava forte, queimando o asfalto por onde corria o carro que Gemma dirigia em direção à algum lugar que não era o caminho de minha casa.
- G... - chamei sua atenção do banco traseiro, a fazendo diminuir o volume do rádio - Para onde estamos indo? Eu estou um pouco cansado. Prefiro ficar em casa... Se vocês quiserem sair para almoçar depois, podem ir, não se preocuparem, eu me viro, mas só me deixem em casa antes.
- Hazz, você ficará um tempo em casa. Você ainda não está em condições de se cuidar sozinho... - Como assim decidiram que eu ficaria um tempo na casa de minha mãe sem consultarem a mim antes? Entendo a preocupação deles, mas sempre me cuidei muito bem! Já tive ferimentos graves jogando tênis, e até nas tentativas de futebol, e consegui me cuidar sem a ajuda de ninguém.
- Não! Não é preciso, eu consigo ficar bem sozinho. - interferi de imediato. - Não estou impossibilitado de me cuidar!
- Harry, você mal consegue andar direito! Pelo menos de quatro a sete dias você deve passar em observação. - advertiu Anne.
- Já passei quinze naquele hospital! Pra quê preciso de mais uma semana?
- Quem vê você não gosta de ser paparico pela Dona Foxx... - murmurou Gemma, soltando um riso que por mais baixo que seja, consegui ouvi-lo.
- Exatamente, Harold! Você nunca recusou ficar um tempo em casa. Muito pelo contrário! A primeira coisa que faz quando tem folga é correr pra lá, isso quando não some por ai... - não pude deixar de lembrar das minhas várias fugas com Louis... - Sem contar que você era mestre em fingir estar doente pra não ir a aula e eu ficar te mimando.
O problema é que agora eu só precisava de um tempo para mim. Meu corpo todo estava quebrado, mas já estava em processo de recuperação, e diria que quase completo, mas minha mente estava um completo caos. Durante minha estádia no hospital, tive várias das alucinações que eram causadas pelo profundo sono que os analgésicos e sedativos me davam. Aquilo tudo somado ao que ocorrera uma semana atrás, quando Louis me visitara em meu sono, me confundira como nunca antes. Ele também não voltou a aparecer, pelo menos eu não acordei em outra de suas visitas. Talvez assim fosse melhor...
- Eu realmente preciso ficar um pouco sozinho... - murmurei baixo, mirando a janela.
- Desculpe, meu amor, mas não posso deixar... - Anne disse com certo receio em sua voz. - São ordens do médico. - Era possível notar em sua voz que ela também estava se sacrificando, porque queria me ajudar, mas ela tinha que seguir as instruções. Apenas assenti e concordei, porque não poderia fazer mais nada.
-
Meu quarto já estava pronto para me receber antes mesmo que elas soubessem se eu concordaria em vir. Eu sou tão previsível assim?
A cama estava estendida com uma colcha fofa, que estava maravilhosamente convidativa. E assim eu apaguei.
- Eu tenho uma surpresa pra você! - Louis sussurrou em meu ouvido, me puxando pelo backstage.
- Mal saímos do palco. - ria abobalhado - Onde estamos indo? Você acha que não irão notar nossa falta? - ele apenas sorriu sapeca para mim, e continuou me puxando pelo longo corredor que já estava ficando vazio. Passamos por algumas portas enormes, então começamos a subir alguns lances de escadas.
- Louis, eu estou ficando assustado! Você quer me diz... - seus lábios me interromperam num beijo demorado, e logo depois ele me largou voltando a subir os degraus.
- Vai ficar parado ai? Não vou te levar no colo não!
Sai correndo atrás dele, e quando consegui o alcançar, estávamos próximos de uma pequena porta azul-marinho, e ele me fez sinal para que parasse.
- Olha, eu vou te fazer uma pergunta e espero que você responda em menos de três segundos, senão eu corto seu saco! - ele me ameaçara.
- Ai quem perde é você....
- Você é quem pensa!
- Ah é, Louis Tomlinson? - arqueei as sobrancelhas.
- Não fuja do assunto! Então... - ele respirou fundo, e o verde dos meus olhos se fundiram os azuis dos dele naquele mesmo instante - ...você sabe que dia é hoje? - ele me encarava com um rosto sério. Eu realmente fora pego de surpresa, porque eu não lembrava de nada especial naquele dia... Não era seu aniversário, nem meu, nem nosso...
- Dia da escada? - arrisquei confuso. Louis apenas me fitou incrédulo.
- Você ao menos prestou atenção nos cartazes no show? Olhou o Twitter hoje? Algo assim?
- Você sabe que a luz me atrapalha, então eu nem leio a maioria... E não tive tempo de entrar no Twitter não, por que? - não estava entendo nada do que Louis dizia, muito menos essas suas perguntas, mas assim que ele abriu aquela porta, eu entendi tudo.
Um banheiro. Velas espalhadas por cada lavatório, e ao redor de uma bela colcha azul, coberta de flores brancas, vermelhas e amarelas. O cheiro era de lavanda e jasmim, e um pequeno rádio estava instalado ao lado de uma cesta de chocolates e frutas, postas juntas do aparelho de fondue.
- Um ano que nos conhecemos... - ele disse baixo.
Sem pensar muito, o agarrei pela cintura, o beijando ferozmente. Meus dedos brincavam pela barra de sua calça, e aproveitando que suas mãos se apoiavam em meus ombros, enlacei meus braços por debaixo de suas pernas, as prendendo em minha cintura, o que me desequilibrou e nos fez cair no felpudo cobertor azul.
- Oops! - disse entre risos, assim como há um ano atrás, quando conhecia o homem que mudava minha história.
- Só não corto suas bolas agora, porque vou precisar delas hoje... - respondeu-me maliciosamente.
- Que eu me lembre, você não foi tão direto assim. - disse dedilhando suas costelas por debaixo da camiseta.
- E você também não tinha caído excitado por cima de mim. - não contive o riso, e ele se aproveitou disso para inverter as posições.
Seus olhos encontraram os meus cheios de luxúria, e sem que eu tivesse tempo de pensar muito, meus dedos seguiram até os botões de sua camisa suada pelo longo show, desabotoando um por um com suavidade. O fitei por inteiro, seguindo suas poucas tatuagens, inclusive as que tinham um certo significado a nós. Era como se fosse nossa primeira noite juntos mais uma vez...
Louis se debruçou para a direita repentinamente, e eu sem entender o segui com o olhar. Após alguns segundos uma música que marcara nossa história até agora começou a tocar, e ele voltou a me encarar, agora mais próximo.
"Nobody sees, nobody knows.
We are a secret can't be exposed
That's how it is, that's how it goes
Far from the others, close to each other."
Uncover ecoava pelo pequeno ambiente enquanto ele deslizava suas pequenas mãos pela minha camisa, fazendo com que eu o abraçasse pela cintura para levantarmos, e a arrancá-la.
"My asylum, my asylum is in your arms when the world gives heavy burdens.
I can bear a thousand times
On your shoulder, on your shoulder
I can reach an endless sky feels like paradise."
Seu peito quente subia e descia junto ao meu, e eu podia sentir nossos corações baterem numa sincronização perfeita, como se combinassem...
- Eu queria poder dizer pro mundo inteiro o quanto eu amo você... - disse por entre o beijo. Louis parou de me beijar, me fitando sério, com suas pequenas mãos segurou meu rosto e me deu um selinho.
- Um dia todos irão saber, meu amor...
Meu peito doía, minha respiração era ofegante, e mais uma vez a cama estava encharcada.
- Caralho... - murmurei baixo.
Já estava tudo escuro. Olhei para a mesa de cabeceira e o relógio marcava 02:15. Como pude ter dormido tanto? Puxei na memória e me lembrei dos comprimidos que o Dr Edwards me dera antes de eu sair do hospital.
- Merda... - levantando com cuidado da enorme cama, observei o quarto, e vi uma mala encima da poltrona logo a frente. Peguei uma muda de roupas limpas e me dirigi ao banheiro.
Minha figura refletida no espelho era abominável. Estava magro, pálido, cachos desgrenhados, olheiras enormes, apesar de estar dormindo mais do nunca. Era irreconhecível! Liguei o chuveiro, e entrei embaixo da água quente. As imagens daquele sonho, que na verdade eram uma lembrança linda de um momento que eu daria cada litro de sangue para voltar a viver, vieram a minha mente, e as lágrimas se confundiram às gotas de água que molhavam meu rosto cansado. Meu corpo fraco reagiu e sem forças deixei-me cair em prantos. As lembranças de suas palavras, de seus lábios macios, seus dedos queimando em minha pele, nossas conversas, o jeito que só ele me divertia, me fazia rir... Agora eu mal sorria, me tornara uma pessoa séria, com raros sorrisos que antes eram constantes. Perdi até mesmo o desejo de me cuidar, das formas mais supérfluas como cuidar excessivamente de meus cabelos, de minhas roupas, ou ir a academia, mas também de higiene... Estava largando mão de mim cada dia mais.
Quando senti minha cabeça latejar como se fosse desmaiar a qualquer momento, me apoiei nas paredes e no box para que minhas pernas não fraquejassem, e desliguei o chuveiro. Apoiei minha cabeça no box pegando fôlego, eu estava fraco, e todo aquele esforço me cansara. Me sequei sem pressa e coloquei uma camiseta branca e uma calça de moletom azul-marinho. Depois de quinze dias comendo aquela comida horrível de hospital, imaginei que minha mãe teria feito alguma coisa, sem contar que passei o dia todo de estômago vazio.
Abri a porta do quarto lentamente para que não fizesse muito barulho e não acordasse ninguém. O corredor tinha o quarto de Gemma, um banheiro e então já dava para a vasta sala. A fitei por um instante, e avistei perto da enorme janela um aparador coberto de porta-retratos. Caminhei até ele, desviando de alguns sofás, e a pequena mesa de centro, com a ajuda da fraca luz da lua, e fiquei a admirar alguma das várias fotos de minha família e eu. Umas de minha infância, outras já de apresentações, algumas com Gemm, com Anne, com Robbin... Uma das fotografias parecia uma miragem aos meus olhos, tive que pegar o porta-retrato em mãos para acreditar no via realmente. Anne, eu, Louis e Jay, consecutivamente. Essa foto fora tirada mais ou menos na época do sonho em que eu acabara de acordar, e eu não pude evitar que um sorriso bobo aparecesse em meu rosto, como se eu estivesse naquele momento. Meus olhos já estavam marejados, mas eu não deixaria que as lágrimas caíssem, não mais.
Aquela fotografia me deu a certeza que eu precisava, me transformou, me encorajou. Eu precisava disso.
Sem pensar duas vezes, mesmo fraco, impossibilitado, me arrastei até a bancada perto da porta e peguei as chaves do carro de Anne.
Eu não iria desistir dele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Shameless
RomanceNaqueles olhos azuis eu achei o elixir da felicidade. Eu sempre fui plenamente feliz, mas nele... Ah, nele eu achei o paraíso! Apesar de nos julgares, forjarem um relacionamento para ele, para nos encobrir, nada se colocava entre nós dois! Apenas el...