Acordar cedo sempre foi um problema pra mim, durante meus 17 anos não teve um dia sequer que me levantei às 6:30am e fui pra escola com um sorriso no rosto, dessa vez não foi diferente.
Levantei e fui direto ao banheiro fazer minha higiene matinal, quando sai já com meu cabelo todo preso num coque dei de cara com Taylor, minha irmã mais nova.
- Lauren a mãe mandou avisar que teve que sair mais cedo hoje, você tem que levar eu e o Chris pro colégio.
A voz dela ainda era rouca por causa do sono, eu apenas concordei com a cabeça e voltei para o meu quarto. As últimas semanas tinham sido basicamente isso, por mais que eu odiasse ter que levar meus irmãos para o colégio não podia reclamar, não agora; Meu pai tinha sofrido um acidente grave enquanto voltava do trabalho numa tarde chuvosa, já estava pra fazer quatro meses que ele estava em coma, e desde então toda a minha família se desestruturou por completo, e eu sentia que não devia deixar isso acontecer.
Terminei de me vestir e desci até a porta da entrada arrumando minhas chaves, Chris já estava encostado na parede.
- Ei - os olhos dele se moveram até mim lentamente - não vai pentear esse cabelo não?
Ele passou as mãos pelos fios castanhos e confesso que continuou do mesmo jeito, mas resolvi não encher o saco do garoto. Quando Taylor desceu nós fomos até o meu carro.
- A mãe disse o que ela foi fazer? - Tentei quebrar o silencio que reinava o carro.
- Parece que o hospital ligou pra ela - Taylor respondeu do banco traseiro - alguma coisa assim.
- Será que temos boas noticias pro almoço? - Abri um sorriso.
- Não seja estúpida Lauren - a voz de Chris estava mais agressiva do que eu esperava - eu sei que você não é burra, até aceito a Taylor ou a mamãe ter essa esperança, mas você...
Pensei em mil e uma forma de responder aquilo, mas resolvi apenas continuar quieta. Se Chris tinha escolhido desistir, quem era eu pra julgá-lo? Além do mais quatro meses era um bom tempo, e eu nem sabia se realmente acreditava na recuperação do meu pai ou estava apenas tentando manter minha família forte.
Quando estacionei na mesma vaga de sempre meus irmãos se despediram e seguiram para o prédio do fundamental, enquanto eu fui direto para o do médio.
Antes que eu alcançasse a escada que dava acesso ao prédio Vero segurou minha cintura.
- Ok, ok - a voz dela estava mais animada que o normal - eu sei que você está nesse "luto pelo Michael Jauregui" mas eu preciso de você, eu preciso muito de você na festa do Doug.
- Bom dia Vero, eu estou bem, obrigada por perguntar - observei os olhos dela revirarem e forcei uma risada.
- Eu to falando sério Lolo.
- Eu não posso prometer nada - fiz um bico rápido - além do mais minha mãe ta super imprevisível e eu não posso deixar meus irmãos sozinhos, mas, eu te aviso.
- É exatamente por isso que eu te amo - recebi um beijo forte na bochecha.
Não sei exatamente quando ela se afastou, mas assim que cheguei no meu armário percebi que Vero já não andava mais ao meu lado. Peguei meus livros e logo ouvi o sinal.
Pra variar eu estava cochilando na aula de geografia quando senti meu celular vibrar no bolso do meu jeans, levantei a cabeça devagar e encontrei a sala toda em silencio (a maioria cochilando) enquanto Mrs. Gray falava sem parar.
- Srta. Jauregui? - A professora percebeu minha mão no ar depois de alguns minutos.
- Eu preciso ir ao banheiro - forcei a cara de dor.
- Ok, não demore, estou no meio da explicação.
Concordei com a cabeça saindo rápido da sala, mas antes que a porta se fechasse atrás de mim as vibrações já tinham acabado. Sentei num banco que ficava naquele corredor e tirei meu celular do bolso. Duas ligações perdidas da minha mãe. Não pensei duas vezes antes de retornar.
- Lauren?
- Mãe? Ta tudo bem? - Por algum motivo meu coração estava acelerado.
- Oh... Ta tudo bem sim, eu só liguei pra te avisar que não vou conseguir chegar em casa pro almoço, mas eu deixei um dinheiro no console do seu carro, leve seus irmãos em algum restaurante.
- Ah - meu coração já estava mais calmo - tudo bem... Ah mãe você vai estar em casa a noite?
- Espero que sim, porque?
- Tava pensando em ir numa festa...
- Eu te aviso mais tarde, eu tenho que ir agora filha.
A ligação foi finalizada antes que eu pudesse perguntar onde ela estava. Suspirei e pensei um pouco sobre a situação da minha família, eu não gostava de pensar sobre, mas as vezes era simplesmente inevitável. Encostei a cabeça na parede enquanto respirava devagar, eu só queria um tempo longe daquilo tudo, da preocupação de como meu pai estava, da responsabilidade de cuidar dos meus irmãos, da ausência frequente da minha mãe nesses ultimos meses.
(...)
Meu cochilo foi interrompido pelo barulho constante do meu celular, tateei o sofá procurando pelo aparelho até encontrá-lo.
- Alô? - minha voz era rouca.
- Por Deus Lauren, eu estou tentando falar com você faz no mínimo três horas. - já a de Vero era estridente.
- Eu... Ahn.. Que horas são?
- Oito e alguma coisa, você vai na festa né?!
- Oito??? Meu deus, eu tinha que ter ido pegar a Taylor no curso - pulei do sofá procurando pelas chaves do meu carro - Meu deus.
- Lauren?? Relaxa garota, eu liguei pra sua casa faz menos de meia hora e a Tay atendeu. Mas você vai passar aqui que horas?
- Desculpa Vero, mas ainda tenho que ver se vou, eu te ligo daqui a pouco.
Guardei o celular no bolso enquanto tentava me localizar, eu não tinha dormido nada noite passada, era fato que se eu deitasse perderia todo o senso, mas mesmo assim fiquei me culpando mentalmente. Subi até o quarto da Taylor e como Vero tinha dito ela realmente estava ali, chequei o Chris que também estava bem e fiquei um tanto quanto aliviada, mas, minha mãe ainda não estava em casa.
Disquei o número dela umas cinco vezes antes dela finalmente atender.
- Mãe, é sexta-feira e eu tenho dezessete anos, eu preciso sair.
- Você tem que me ajudar Lauren.
- Eu sei, eu estou tentando, eu juro que estou.
- Então vai ser isso? Você vai me abandonar sozinha com seus irmãos? Eles precisam de você.
- Eles precisam de você... Mãe, onde você está?
- Eu... Lauren, por favor, só mais uma noite filha, amanhã eu estou em casa.
- Porque eu não posso ser normal? Porque eu não posso sair com meus amigos?
- Por que teu pai está numa maca há quatro meses.
- Não me diga.
Finalizei a ligação antes que aquilo ficasse pior.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dragonfly Tattoos
FanfictionSe eu soubesse que aquela seria a ultima vez que eu a abraçaria teria feito durar o resto da minha vida.