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A garrafa estava girando havia algum tempo, a roda toda estava bêbada, mas, eu insistia em não colocar nenhum pingo de álcool na boca, simplesmente porque não estava no clima. "Você está mudada" era a frase que eu mais tinha ouvido aquela noite, justamente, não podia discordar. Nunca precisei "estar no clima" pra tomar grandes porres, mas como dizia a galera eu estava mudada.

Por alguma sorte a ponta da garrafa não tinha caído em mim ainda, embora eu já tivesse desafiado o Doug a virar meia garrafa de tequila - e ele completou a tarefa com louvor. Vero e ele estavam de mãos dadas na minha frente, ela com a cabeça no ombro dele e eu não podia negar o lindo casal que eles formavam. Camila continuava em silêncio do meu lado, de tempo em tempo ela soltava uma risada tímida de algum comentário ou desafio idiota que era feito ali.

Eu tinha perdido o foco na garrafa quando ouvi as pessoas dali fazerem um barulho uníssono de louvor, virei rápido caindo o olhar pra ponta da garrafa esticada na minha direção, o fundo dela estava apontando para Keaton. Senti meu coração acelerar por um momento e levantei o olhar vendo Camila do meu lado com um sorriso fofo estampado no rosto.

- Ok Jauregui. - A voz de Keaton provava toda sua embriaguez. - Verdade ou desafio? - Ele falava rindo.

Bom, tinha a opção "verdade" e eu realmente queria escolher essa naquele momento, eu até escolheria, se não tivesse presente a última vez que alguém tentou essa opção. Adolescentes bêbados podem realmente fazer um inferno. Ok. Pensei sobre o que ele podia propor como desafio e a opção de sair daquela roda correndo me parecia a melhor.

- Desafio. - Virei os olhos pra estampar meu descontentamento com a situação.

Mais um burburinho se formou na sala, os amigos de Keaton cochichava sem parar uns com os outros, alguns puxavam a camisa do garoto, provavelmente dando ideias aleatórias para o tal desafio. Abaixei o olhar e vi os dedos de Camila batucar o chão de madeira.

- Ok. - A voz rouca de Keaton voltou a estrondar. - Eu desafio você, Lauren Jauregui, a mostrar pra nós um pouco do seu novo relacionamento. - Um barulho foi feito rapidamente por todo mundo na roda mas logo parou fazendo o silêncio reinar ali apesar da música de fundo. Franzi o cenho. - Vou explicar melhor. - Ele soltou uma gargalhada. - Pare de esconder seu namoro e beije a garota na nossa frente.

Meu estômago revirou. Claro que o Keaton seria babaca a esse ponto, eu não devia ter dúvidas disso. Camila me olhou confusa enquanto eu repensava com calma tudo que ele tinha dito. Eu estava farta dessa história com Camila, e ela provavelmente não sabia metade das coisas que eu aguentava ouvir deles.

- Eu não tenho relacionamento nenhum amigo. - Soltei uma risada irônica. - E não estou bêbada pra ter estômago o suficiente para beijar uma garota. - Outro burburinho rápido passou pela roda. - Desafio negado.

Os olhos da Camila não deixavam meu rosto pedindo por uma explicação e eu queria simplesmente deixar aquela roda, mas não podia fazer aquilo, eu realmente estava disposta a dar um basta em toda aquela história. A parte de não ter estômago pra beijar uma garota foi totalmente mentira, mas eu precisava daquilo pra dar credibilidade a minha prova.

- Você não pode simplesmente negar um desafio. - A frase continha um tom debochado. - Mas, como eu não estou com paciência pra mimimi seu, aceito isso como um pedido de saída do jogo. - Arqueei as sobrancelhas como quem concorda com o que foi dito. - Mas ainda tenho o direito de desafiar, e como Lauren está fora, Vero beija a Camila.

Senti a raiva subir pelo meu corpo, eu sabia que ele estava fazendo aquilo pra me provocar, todo mundo sabia. Eu queria socar a cara dele. Mas em vez disso só sorri fingindo não ter me importado nenhum pouco com o que ele disse. Todo mundo na roda me encarava esperando uma reação, inclusive Vero e Camila.

- Ok. - Falei rápido mas mesmo assim ninguém se mexeu. - Estão esperando o que garotas?

O olhar de confusão de Camila foi interrompido pela mão da Veronica que agora puxava seu rosto carinhosamente. Mais uma vez vi a garota ficar sem reação enquanto Vero encostava os lábios no dela. Diferente do beijo na casa do Doug, esse foi mais curto, a mão da Camila empurrou o ombro de Vero pra longe finalizando o contato. Eu tinha conseguido assistir àquilo sem vomitar. Vitória.

Deixei a roda antes que Keaton pudesse parar de bater palmas, aliás, eu tinha sido expulsa daquela situação ridícula. Que sorte a minha. Quando cheguei na varanda e senti o vento frio bater no meu rosto minha garganta se fechou num nó. Eu queria voltar pra dentro daquela casa e socar a cara de Keaton. Eu queria pegar Camila e ir pra longe daquele tipo de gente.

- Ei. - A voz rouca me fez virar. - Mais uma vez você me deixou lá sozinha. - Ela passou a mão nos cabelos encarando o chão.

- Eu fui expulsa. - Arqueei os ombros. - Desculpa.

- Eu acho que essa vez foi mais fácil te achar e bem, pelo menos você continua sóbria. - A garota se sentou na escada pequena que ficava na frente da casa.

- Você não teria que passar por essas coisas se você não estivesse comigo. - Eu me sentei ao lado dela.

- É. - Pude ouvir um sorriso se formar mesmo que ela não estivesse olhando pra mim. - Você realmente precisa ficar bêbada pra beijar garotas? - A pergunta pareceu mais como um soco no estômago.

- Eu.. - Ri fraco. - Eu só fiz enquanto estava bêbada, então eu acho que sim. - Ela balançou a cabeça ainda baixa. - Você nunca fica bêbada?

- Não Lauren. - O rosto dela finalmente levantou me encarando. - Eu sou super santa, nunca botei um gole de álcool na boca.

- Sério? - Cerrei os olhos.

- Claro que não. - Ela revirou os dela. - Eu só não acho necessário beber quando eu estou com você. - Senti a voz dela falhar antes da frase terminar.

Eu queria perguntar o porque daquilo, mas eu simplesmente não pude, meu subconsciente sabia que se eu aprofundasse no assunto o clima ficaria tenso demais e eu não queria aquilo, queria simplesmente ficar ali conversando com ela. E foi isso que aconteceu. A gente conversou a noite toda, assuntos totalmente aleatórios como "será que as plantas ficam triste?" ou "o que você acha que acontece depois que a gente morre?" e ficamos assim até o primeiro raio de sol aparecer no fim da rua que estávamos, a luz clareava o perfil de Camila deixando a minha visão mais agradável do que eu esperava. Eu queria ficar ali pra sempre. Com ela.

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