Six

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Kayla

Ele está mexendo muito comigo. Eu simplesmente já não sou a mesma quando se trata dele. É possível se apegar tão fácil assim?
Todos os dias fui vê-lo em seu quarto, por precaução, claro. Ele podia estar precisando de mim mesmo dormindo, sei lá. Senti falta da sua voz nesses dias que ele hibernou como um urso, mas daqui da sala de piano ouvi ele falando com meu pai. Ele está tontinho de tanto que dormiu.

_Você não vai fazer algum programa com seu marido? Por que não o chama pra ver como as espécies estão se dando bem entre os vilarejos e a cidade?

_Mãe, não funciona assim. Eu e o Daniel somos meio-amigos ainda. E ele acabou de acordar e lidar com o fato de que é vampiro agora, casado e líder de todos._Explico calmamente._Isso deve ser difícil de entender.

Melissa Lester Absalão apenas concordou e me pediu que tocasse piano. Resolvi atender seu pedido e toquei uma canção que a própria me ensinou. Mergulhada em pensamentos, lembrei de quando tinha oito anos e minha mãe tentava me ensinar a tocar.

_Postura, filha. Como quer aprender a tocar com a postura errada?

_Desculpa, mãe.

_Você sabe que se quiser parar de tocar eu vou entender, só que eu gostaria muito que você tocasse.

_Desculpa, mãe. Eu vou tocar bonito. Me ensina, por favor.

Eu não queria tocar piano. Mas toquei porque ela queria muito. Ela não queria uma filha metida nos assuntos do pai. Lutas, assuntos de vampiros, etc. Ela já sabia que eu iria casar, queria que no mínimo eu fosse uma vampira com muitas características. Eu a entendo.

_Kayla?_A voz potente de Daniel me assusta._Você está chorando.

Enxugo rapidamente meus olhos e me levanto sem jeito. Pisco os olhos várias vezes, mas nada adiantou. Eu não sou muito boa com lembranças. Nem um pouco.

_Aconteceu alguma coisa?_Seu cheiro tão perto assim...

_Não, não é nada. Só estava tocando uma canção triste pra mim. Você está bem? Dormiu que nem um urso.

Ele sorri e bagunça os cabelos. Por que eu estou reparando tanto nisso?

_Dormi sim. E obrigado pelo sangue. Você pode me apresentar tudo aqui? Por dentro e pela cidadezinha em volta?

_Está abusando da minha boa vontade hein? Vai se arrumar e logo vamos. Aproveite porque não é todo dia que Kayla Absalão fica tão boazinha assim.

Ele some da minha vista rapidamente e eu admiro sua rapidez de adaptação. Ele aumentou ainda mais a sua velocidade e mesmo assim já conseguiu dominar. Eu tenho que parar de achar qualidades nele. Já já estarei caindo de amores feito uma idiota e ele rirá da minha cara.

_Vamos?

_Claro!

...

Apresentei todo o castelo para ele e aos arredores também. Logo fomos até a pequena cidadezinha de vampiros em volta do castelo. Admirado, Daniel cumprimentou alguns lobos que estavam por aqui, andando livremente entre nós. Antes, existia um pouco de resistência.

_Você gosta de ser vampira?

Ele me pegou de surpresa. Eu gosto? Não sei... Se fosse ponderar pelos poderes, sim, eu gosto. Mas olhando pelo lado de que sou "eterna" é péssimo. Não gosto da ideia de ver as coisas ao meu redor tendo seu fim e eu permanecendo.

_Um pouco. Por que?_Chuto uma pedrinha enquanto caminhamos.

_É estranho depender muito de um único alimento._Declara pensativo._Mesmo podendo comer outras coisas, o sangue permanece sendo sua fonte de força. Acho que vou me habituar. Assim como acho que também me habituarei a estar casado com você.

_Entendo._Disfarço meu desânimo ao escutar a palavra habituar em relação ao nosso casamento._Você vai se habituar, sim.

Voltamos para o castelo na hora do almoço. Minha mãe me chamou ao canto para conversar por enquanto que Daniel foi conhecer os empregados.

_Está vindo um bando de vampiros do norte, coisa do seu pai. Uma família de vampiros líderes e um povo com eles. Vão ficar aqui no castelo até a casa deles ficarem pronta. Seja educada, Kayla. Não quero que vejam uma vampira fraca e imatura em você. Eles querem conhecer o seu marido, mas conhecerão você também.

_A senhora me acha fraca? Mesmo depois de ter aceitado tudo isso que arquitetaram para mim?_Um nó estranho se forma na minha garganta._Não se preocupe, sua filha fraca e imatura vai ser educada com os convidados.

Dei as costas e saí andando mesmo sob seus gritos. Minha mãe ainda me ver como uma fraca. Como provar o contrário? Sigo até a cozinha e encontro Daniel conversando com Muriel, Benício e Giardini.

_Enturmado com a criadagem?

_São boas pessoas. Estava dizendo ao Benício o quanto amo cervo assado._Ele sorri e eu faço cara de nojo._Deixa de ser fresca, herdeira das trevas.

Olhei para os empregados e os mesmos se surpreenderam ao ouvi-lo me chamar assim. Não gostei.

_Não é porque você gosta de cervo que eles vão fazer pra você. Eles fazem o que eu quero e eles estão proibidos de fazer isso._Digo extremamente fria e carregada de um ódio que não sei de onde veio._Contente-se com a comida que vai ser servida aqui. Você agora não é só um cachorrinho peludo, é também um vampiro. Acostume-se porque não servirmos ossos.

Dei a volta e me retirei da cozinha. Eu fui uma idiota... Eu fui uma idiota... Eu fui uma idiota... Droga, Kayla burra!

(*)

O filho da lua e a filha da escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora