4 - parte 3

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Chegamos à minha casa e não tive forças para descer do carro. Eu nunca havia sido tão fraca e patética. Nunca tinha perdido as forças como estava acontecendo. Christopher deu a volta e me levantou no colo, entendendo que eu não tinha forças. A chuva forte ainda caía, mas ele me carregou devagar para dentro de casa, levando-me direto até o banheiro. Abriu a água quente e seus olhos preocupados pousaram em mim.

— Por favor, querida, entre debaixo da água, tudo bem?

Assenti, mas não me movi e ele segurou meu rosto, forçando-me a olhar para ele.

— Preciso que faça isso sozinha, meu bem. Se eu tiver que despi-la e entrar com você, posso não me controlar. Eu não sou tão bom assim, você pode fazer isso por mim? Pode fazer por si mesma? Tire a roupa e entre na água, tá bom? Você me entendeu?

Assenti e comecei tirando seu casaco, ele entendeu que eu obedeceria e saiu do banheiro, fechando a porta em seguida. A água quente me fez relaxar quase que instantaneamente. Deixei que as lágrimas saíssem até que não as tivesse mais. Desliguei o chuveiro e vesti um roupão bem quente.

Encontrei Christopher na cozinha, preparando chá. Ele sorriu docemente para mim, pegou minha mão, guiando-me até um banco, onde me sentei.

— Se sente melhor agora? — perguntou.

— Eu não sei. Acho que não sinto mais frio então podemos considerar uma melhora, não é?

— Acho que sim.

Ele se aproximou com as xícaras de chá e ficou de pé do outro lado da bancada, de frente para mim, avaliando-me.

— Você não estava chorando só porque o carro quebrou. O que houve? Por que você ficou assim? O que a feriu tanto?

Neguei com a cabeça e uma lágrima correu por meu rosto. E eu pensando que já não as tinha mais.

— Ei — ele chamou levantando gentilmente meu rosto pelo queixo. — Fale comigo enquanto pode — brincou.

Como eu poderia dizer que eu estava certa e ele errado? Que o próprio André já me culpava por sua cruz?

— Ele me... — Respirei fundo e tentei de novo. — Ele me culpou por estar lá. Ele acha que a culpa é minha.

Christopher ficou totalmente imóvel. Depois pareceu irritado.

— Um grande imbecil, esse seu noivo.

— Não, ele não é. Você não entende como deve ser para ele estar lá.

— Não, eu não entendo mesmo. Mas entendo que você é boa demais para ele. E ninguém tem o direito de jogar sua cruz sobre outra pessoa, nós falamos sobre isso, não acredite nele, Ellen. Este é o destino dele. Você não o colocou lá.

— Eu consigo processar melhor isso quando você diz. Mas quando ele me acusou eu pensei... eu senti — Cobri a boca com a mão, não queria mais chorar, não queria mais ser fraca. — Por que não consigo parar de chorar?

— Porque está doendo. E essa dor precisa sair de algum jeito. Vem aqui.

Ele deu a volta e me tomou nos braços, balançando lentamente meu corpo, enquanto seus braços à minha volta me prendiam. Apenas fiquei ali, consegui controlar minhas lágrimas, não queria que ele me soltasse. Ali eu podia me esconder da minha vida, do meu destino, do que havia perdido e do que estava prestes a perder. Ali eu podia fechar os olhos e me imaginar uma criança, protegida e amada, mimada por um anjo de braços fortes e acolhedores, que me prendia com toda sua força e não me deixaria cair de novo.

SACRIFÍCIO - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora