Capítulo 2

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Acordei com a claridade do quarto e uma música no maior volume vindo do quarto do vizinho. Não sabia nem que horas eram, ou como eu tinha parado naquele quarto. Só sei que eu ainda trajava meu vestido vermelho e os meus saltos estavam espalhados pelo chão do quarto. Ajustei a minha posição na cama e dei uma leve bocejada, arrumando os meus cabelos em seguida. Quando fui em frente ao espelho que ficava em frente à minha cama, fiquei espantada com o desastre que eu estava: o delineador estava escorrido por todo o meu rosto e meu batom estava todo borrado ao redor dos meus lábios. O que diabos tinha acontecido para eu sequer limpar o meu rosto antes de dormir? Depois desse questionamento, minha cabeça começou a latejar. Droga.

Abri o zíper do meu vestido para tirá-lo e troquei-o por roupas mais caseiras. Calcei meus chinelos e desci as escadas até a cozinha, para comer algo. Eu estava faminta, meu estômago roncava. Sempre fui muito preguiçosa para preparar cafés da manhã e se tinha algo que me tirava a paciência era abrir a geladeira e não achar nada. É claro que aquela manhã não seria diferente de todas as outras: não tinha nada para comer. Procurei a minha bolsa por todos os lados, em busca da minha carteira, e não a achava em lugar nenhum. Ótimo. Eu estava simplesmente linda com aquele rosto todo borrado, com o cabelo desgrenhado e, para completar, morrendo de fome. Eu me perguntava o que eu tinha feito para sair de um dia surpreendente, como o anterior, e acabar com um dia que já começa péssimo, como estava sendo aquele.

Fui assistir desenho animado, andando pela casa arrastando o lençol da minha cama. Acho que não dá para descrever o pulo que eu dei quando notei Victor deitado, dormindo no meu sofá acinzentado, usando apenas sua calça jeans e meias. Sua blusa estava pendurada no encosto do sofá e ele cochilava tão docemente que dava pena de acordar. Foi aí que eu passei de desentendida para mais-desentendida-ainda. Ele parecia estar morrendo de frio, mas era apenas questão de parecer. Seu corpo estava quente, pude notar ao tocar timidamente o seu braço. Mesmo assim, peguei o lençol no qual eu estava enrolada e coloquei sobre o corpo dele. Ele se moveu um pouco, mas não chegou a acordar. Apenas se acomodou, deixando os braços para fora da coberta.

Fui correndo até o banheiro para limpar o meu rosto e parecer mais apresentável. Se ele acordasse e me visse daquele jeito, iria com certeza se arrepender de ter me dado uns beijos na noite anterior. Penteei os meus longos cabelos castanhos claros e depois os prendi em um coque. Apertei as minhas bochechas para ficar menos pálida e então voltei à sala para ver como ele estava. Esse pouco tempo que gastei me arrumando foi o suficiente para que ele já se despertasse e chutasse todo o lençol para o outro canto do sofá.

— Bom dia — eu surgi na sala e ele virou o rosto em minha direção.

— Bom dia — ele disse se levantando do sofá e caminhando até onde eu estava. Eu não sabia se deveria ficar envergonhada ou atraída por ter um homem daqueles na minha casa, sem camisa.

— Você quer tomar café? — sugeri, já andando em direção à bancada de madeira da cozinha.

— Não, acho que já vou indo — voltou até o sofá e pegou a sua blusa para vesti-la novamente.

— Senta aí, eu te preparo alguma coisa — insisti, apontando com a cabeça para uma das banquetas pretas em frente à bancada. — Aliás, você sabe onde está a minha bolsa?

— Você não tem cara de quem cozinha — passou a mão pelos seus cabelos, para ajeitá-los, após vestir novamente a sua blusa. — E a bolsa deve ter ficado no carro.

— É, eu não me dou bem na cozinha mesmo — ri. — Carro?

— Você não se lembra? — sentou-se na banqueta.

— De absolutamente nada.

— Eu imaginava que isso ia acontecer. Você passou bem mal na noite anterior. Não está acostumada com bebida?

Meu gosto pelos teus defeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora