Capítulo 4

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Quando o carro de Victor estacionou em frente à portaria da minha casa, tocava “Love Is A Laserquest". Foi como se toda a felicidade que eu estava sentindo minutos atrás tivesse ido com o vento que soprava nos meus cabelos durante o trajeto. Apenas a tradução do nome da música tinha sido o bastante para que eu ficasse para baixo. Já tinham se passado quase três minutos que o carro estava parado, o motor já estava frio, e eu não falava uma palavra sequer. Tudo o que se passava na minha cabeça a estúpida pergunta “será que ele está jogando comigo?”. Porque aquele dia na festa começou com um jogo.

— Eu gosto tanto dessa música — Victor falou, encostando o braço na janela do carro aberta.

“Que irônico”, eu pensei, mas não respondi.

— Eu também. Ela é ótima — respondi séria.

— O que foi? — ele perguntou ao notar a minha falta de empolgação com músicas que geralmente eu encheria a boca para elogiar.

— Eu te conheço há pouco tempo e não queria correr o risco de estrag...

— Pergunte o que quiser — ele me interrompeu, tirou os seus óculos de sol e pendurou na gola da camiseta.

Pensei seriamente em fingir que não era nada e simplesmente subir para o meu apartamento, como se aceitasse essa relação esquisita que vivíamos. Mas a curiosidade acabaria sendo um castigo e seria melhor, naquele ponto, esclarecer tudo. O jeito que ele me respondeu, como se não tivesse nada a esconder, me deixava ainda mais obcecada por respostas.

— O que nós somos, Victor? — eu perguntei e ele me olhou sem entender. — Quero dizer... É tudo questão de um jogo?

— Você está falando sobre compromisso? — ele perguntou e eu notei um ar de preocupação na sua voz. Eu sabia que relacionamento sério não era bem o jeito dele, mas eu não imaginava que isso fosse tão assustador na visão dele. Afinal, um cara desses deve ter namorado no mínimo umas dez vezes na vida.

— Me diga você — evitei dar o meu parecer.

— Eu sabia que você ia acabar se apaixonando por mim — deixou a preocupação de lado e soltou uma risada debochada, passando o braço em volta da minha nuca. — Não se preocupe, acontece sempre!

— Eu não estou apaixonada por você, seu idiota! — escandalizei, rindo em seguida. E mesmo que eu estivesse, eu não admitiria tão fácil. Sempre gostei de ter tudo controladinho, expor meus sentimentos na hora certa, para evitar sofrimentos antecipados.

— Então você está jogando comigo? — ele perguntou, utilizando-se da pergunta que eu tinha feito anteriormente contra mim. Golpe baixo.

— Se você estiver — eu respondi, arqueando uma das sobrancelhas. Não, eu não estava jogando. A última coisa que eu estava fazendo era jogar. Eu só queria uma definição do que éramos.

— Você quer apostar comigo? ­— esticou a mão em minha direção para que eu concordasse.

— Apostar o quê?

— Como diz o título da música — que ainda tocava na hora —, o amor é um jogo. Quem se apaixonar primeiro, perde.

— Desse jogo eu não participo — falei, apoiando a alça da bolsa no meu ombro e abrindo a porta do carro. Mal acreditava em uma proposta suja dessas. Talvez ele não entendesse as letras como eu entendia.

— Espera — ele tentou puxar o meu braço, mas eu consegui sair mesmo assim. Não me surpreendeu a sua ação de sair do carro atrás de mim. Ahhh, garotos. Sempre tão previsíveis. — Eu estava brincando, para.

— Estava mesmo? Porque não parece — ironizei. E de fato não parecia. Parecia, na verdade, que ele se aproveitava da minha fragilidade emocional para suprir a sua necessidade de estar com alguém.

Meu gosto pelos teus defeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora