Loan (1989~?)

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- Pega ele!
Os garotos corriam a toda velocidade, eram quatro, sobre suas bicicletas na expectativa de alcançar o quinto que se esforçava na difícil tarefa de fugir dos garotos com suas pernas correndo por lugares estreitos e não deixar seus óculos caírem ao mesmo tempo.
Ele nunca havia ido para aquela parte da cidade antes, corria por vielas desconhecidas na esperança de despistá-los, ele não queria levar uma surra daqueles meninos.
Um cachorro começou a correr atrás de um dos meninos na bicicleta que reagiu chutando o animal, deixando-o ganindo para trás.
Ele subiu sobre uma ponte velha e caindo aos pedaços, não havia como escapar.
Os quatro meninos de bicicleta pararam na frente de uma cratera que quase partia a ponte.
- Ué? Cadê ele Marco?
- Como eu vou saber Gol, se você tava na minha frente bloqueando a visão!?
- Viu ele pular Durok?
- Não. E duvido que o tenha feito, Gri.
Os meninos deram sorrisos maliciosos.
- Ótimo.
Loan estava escondido na lateral da cratera entre vigas de ferro e apoiado em destroços, se pisasse em falso com certeza cairia no rio.
Ele olhou para baixo, a água do rio era barrenta e parecia muito profunda.
- Ei LED! Sabemos que você está por aqui.
Loan apertou as mãos, ele odiava esse apelido, odiava ser perseguido quase todos os dias desde que mudou de escola.
Por que a Turma do Barulho resolveu marcar justo ele? Seriam os óculos? O fato de se migrante? Novato?
- Ô LEEEEEED?!
Loan cerrou os dentes, tentando conter a vontade de brigar com eles, não valia a pena, o esforço, o risco. Então ele percebeu que o céu estava escurecendo, mas não era porque o dia estava acabando.
- Merda! - um dos garotos verbalizou o pensamento de Loan.
Primeiro um pingo, depois outro, depois mais. A chuva tornou-se forte em instantes.
Loan ouviu os meninos dizerem "Vamos embora daqui", ouviu as bicicletas saindo, sentiu a chuva ensopar suas roupas junto com poeira de cimento e ferrugem.
Ficou por muito tempo naquela posição desconfortável, só ele e a chuva.
Ele tirou os óculos e contemplou a beleza do céu, tão triste quanto ele.
Ficou assim por uns cinco minutos, então subiu da lateral da cratera e no asfalto, se sentindo exausto.
Ficou olhando o céu cinzento com as costas no asfalto aquecido enquanto tomava banho com aquela água gélida, que para ele eram como lágrimas, como se seu corpo inteiro pudesse chorar de raiva, de frustração.
Então, duas gotas quentes lhe escaparam dos olhos.

Contos da Casa Mal-AssombradaOnde histórias criam vida. Descubra agora