Charlie (1666-1681)

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"Querido diário... não há outra forma de começar, eu odeio crianças.

Elas ganham tudo o que pedem - basta começarem a chorar e todas as pessoas acreditam nelas, o que as tornam boas em serem ruins e dissimuladas.

Rezo para que o dia em que eu morra encontrem esse diário, porque aí irão descobrir como crianças podem ser malvadas.

Como aquela vez em que minha tia veio com meu primo George, de três anos, e ele achou que seria realmente divertido pegar o chicote dos cavalos e testar açoitar minhas pernas, quando eu bati na mão dele e arranquei-lhe o chicote ele foi chorando para o colo da minha tia afirmando que EU havia açoitado ele. Me ofereci para mostrar-lhes que quem possuía um vermelho nas coxas era eu, mas minha minha mãe apenas abafou-me e me deixou sem poder lanchar. Não que o fato de não poder lanchar me irrita, mas a falta de fé em mim - que nunca dei problemas - me deixou indignado.

Também houve outra vez em que defendi uma criança, sabe... elas são fortes. Nesse caso eram irmãos, o mais novo com uma média de quatro anos estava indo para cima de seu irmão mais velho, com não mais do que dez anos. Ele tinha uma tesoura na mão, eu só previ o pior e tirei-lhe a tesoura. Naquela hora, o mais novo abriu um berreiro, bem na hora em que a mãe lhe chega e ela só briga comigo, dizendo que "Não pode tomar os objetos com os quais meu filho brinca!"

Uma tesoura. UMA TESOURA!

Me irrita profundamente que, se uma criança chora, ela é inocente.

Ah, e o mais velho? Nem avisou a mãe dele que o salvei de perder um olho...

O motivo pelo qual estou aqui desabafando é que hoje atingi a gota d'água, quase que literalmente.

Tive o prazer de tomar banho de mar hoje, mas acho que agora sempre que houverem crianças, não estarei no mesmo espaço. Juro! Porque distante eu estava!

Eu estava no meu canto sentado a beira da praia e as meninas filhas da Jorgina (amiga da mamãe) também estavam, mas bem mais distante de mim.

Minha mãe e Jorgina estavam sentadas em bancos na areia conversando, porque é só o que elas fazem, nunca vi ter tanto assunto.

Como eu senti minhas costas arderem do sol, decidi me levantar, até porque precisava ir ao banheiro...

E ondas iam e vinham em minhas pernas enquanto eu saía do mar pouco a pouco até que ouvi um grito...

A garotinha da Jorgina pulou de peito no chão e agarrou minha perna, acho que foi nessa hora que ela gritou e a onda veio logo em seguida quase submergindo sua pequena cabeça.

A Jorgina se levantou correndo e gritou o nome da filha enquanto eu puxava seus bracinhos finos para cima para ajudá-la e aí a mãe dela chegou arrancando a menina das minhas mãos como se o fato de eu tocar a filha dela desse nojo.

Aí ela se abaixou na altura da criança e limpou seu rosto cheio de areia e falou:

- Você tá bem filha?

A garota balançou afirmativamente a cabeça.

- Ele tentou te afogar? - Nesse momento que entendi porque ela não queria que eu tocasse a filha dela. Mas antes que eu pudesse abrir a boca a garotinha disse:

- Humrum!

Isso me ruiu, e é por isso que estou agora escrevendo um diário morrendo de ódio depois de eu ter sido esbofeteado na praia pelo meu pai e TODAS as pessoas me olharem como se eu fosse ruim .

Argh! Eu ODEIO crianças."

Contos da Casa Mal-AssombradaOnde histórias criam vida. Descubra agora