Contos da Casa Mal-Assombrada

Riana (1967~1984)

"Riana fitava a janela, um sorriso brincando nos lábios, parecia armar algo.
- O que está pensando? - Ele inquiriu.
- Nada da sua conta. - Ela disse sarcástica.
- Desse jeito parece até que está planejando um assassinato.
Ela deu uma risada estridente e divertida.
- Talvez eu esteja. - Ela disse zombeteira."

William não soube porque, mas foi nesse diálogo deles que ele pensou quando abriu a porta do quarto e encontrou o corpo de Riana.

...

Riana passava batom diante do espelho, os jeans cheios de correntinhas lhe caíam bem, ouviu um bater na sua porta:
- Entre.
William colocou a cabeça pra dentro.
- Sabe que na escola não pode usar batom.
- Eu tiro quando chegar lá.
- Sei. Vamos?
Uma pedrinha de seixo bateu na janela.
Ela olha e vê Luce ameaçando jogar outra:
- Vamos chegar atrasadas.
- Ok. Ok. - Riana pega a mochila e sai.
Os três dividiam o terreno, moravam muito longe da cidade, tinham que pegar uma ponte pra lá. Riana morava na casa velha e grande, William morava num antigo celeiro que foi reformado e transformado em casa e Luce morava no que foram casas de jardineiros por muito tempo. Seus pais eram todos amigos de infância, então eles estavam todos juntos desde sempre, resolveram comprar o terreno que estava uma pechincha e dividir, estavam vivendo como fazendeiros. Os pais de Riana plantavam, os de William criavam animais, e os de Luce eram padeiros.

...

Enquanto se apressavam pela ponte Luce indagou:
- E onde você conseguiu um batom?
Riana riu:
- Achei abandonado na casa enquanto limpava. E é bem a minha cor: vermelho! - Ela sorriu mais.
William só pensava como ela não precisava de batom pra ficar chamativa... ou bonita. Riana era por si só um destaque. Seu cabelo era liso e preto, cortado muito curto e com franja que a própria Riana cortou em casa tentando imitar o corte de cabelo de uma estilista de revista.
Enquanto William devaneava sobre a aparência de Riana, Luce continuava tagarelando.
- ... você devia prestar mais atenção, seu jeans tá todo manchado de tinta!
- Ah! Mas eu adorei assim! Ninguém teria uma calça parecida com a minha, e - ela da uma piscadela - ninguém vai tentar roubar minha calça por isso. Hahahahahahahaha!
- E por que alguém tentaria roubar sua calça??

...

Na sala de aula, William fazia cálculos quietamente enquanto Luce batia o lápis nervosamente, - ela não era boa em matemática.
Na outra sala, Riana que era mais velha, também fazia sua lição, e rabiscava desenhos no canto de seu caderno, ignorando completamente as bolinhas de papel que lhe arremessavam nas costas na tentativa de incomodá-la.

...

No intervalo Riana pega sua comida e caminha cantarolando ao encontro de seus amigos.
Luce ainda está comentando o quanto ela acha que vai se ferrar em matemática, quando Riana chega.
- E aí? Como foi pra vocês?
Luce esconde o rosto com as mãos enquanto William dá um sorriso de canto dando de ombros:
- Não parece que matemática vai nos derrubar ainda.
Luce dá um gemido.
- Mas ela tá bem pessimista. O que é engraçado, pois ela fez todas as questões. - reforça William.
Luce abaixa as mãos batendo de leve com a mesa:
- Fazer todas as questões não é acertar todas as questões! - ela diz em um quase sussurro.
- Mas ainda houveram colegas nossos que não responderam todas as questões e teve aquele garoto que devolveu a prova em branco. - ele comenta entre uma garfada e outra antes de se virar para Riana - E você?
Riana abre aquele sorrisinho otimista dela:
- Eu sei que devo ter tirado uma média - ela dá de ombros - tenho quase certeza que acertei a quantidade necessária de questões para iss.. ai!
Os dois a olharam inquisitórios.
- Mordi a língua... - justificou Riana.
- Como? - Luce arregalou os olhos.
- Sei lá, só sei que dói muito... - Riana fez uma careta enquanto sentia gosto de sangue.