Nunca fui o tipo de criança que frequentava o McDonald's, pelo menos não além da casquinha. A única vez que ganhei um Mc lanche feliz foi quando fui à festa de uma garota na própria lanchonete. Claro que todos ganharam o sanduíche e o brinquedo, que na época foi uma boneca das Witch (alguém lembra?).
Sei que hoje em dia isso não faz diferença, eu prefiro comprar um hamburgão na esquina. O ponto é que às vezes eu gostaria de voltar, queria retroceder no tempo. Falar com o atendente de blusa listrada que queria o mais pedido dos adultos que não cresceram, mesmo sabendo que continuaria com fome. Só pela ilusão de um brinde infantil e todo o significado que ele carrega.
Isso não é só sobre personagens que vem em uma caixinha de fast food. Imaginem se eu pudesse voltar para a época do Kinder Ovo? Quando ganhava um e não estava nem aí para o chocolate, mas sim para a promessa de infância que ele escondia. Com certeza guardaria todas essas besteiras, cada bugiganga boba, para tentar guardar uma parte de mim com elas.
Não me entendam mal, minha infância não se resume à publicidade infantil. Pelo contrário, ela se resume a sensações, momentos que não voltam mais e que podem ser lembrados através de coisas assim. Personificação: dar ou associar sentimentos a objetos inanimados. Falando desses brinquedos eu me recordo daquela garotinha mimada, que ainda não conhecia nada do mundo real. Mas que entendia pessoas e vidas, mais do que qualquer adulto.
Eu nunca acreditei quando me disseram que passaria a infância e adolescência querendo crescer e o resto da vida desejando voltar atrás. E agora acredito, porque é uma realidade. Mas também sei que aproveitei bem essa passagem. Eu posso não ter sido uma garota que frequentava o McDonald's, mas fui uma garota que brincava com os pais no parquinho. Uma garota que não tinha todos os presentes do mundo, ou todos os amigos, mas tinha o suficiente para ser feliz.
E não é isso que buscamos hoje? Um caminho que leva a felicidade. Sendo que quando éramos "imaturos" o bastante para só pensar em diversão, já tínhamos isso e muito mais. Agora eu sei que não quero esquecer aquela menina mimada, porque só ela pode me ajudar a não me perder no caminho. Ela entenderia que o chocolate ao leite e o hambúrguer pequeno só representam um lado da história.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando não posso falar
Non-FictionMeu mundo resumido em palavras, quase um blog no Wattpad.