Sei que de tudo que restou do nosso relacionamento, o que não falta é história pra contar. Você sabe que eu contarei cada uma delas a todos que quiserem escutar. Todos sabem que eu hei de te amar, de falar dos nossos melhores momentos e de escrever por aí o que o amor fez comigo. Mas meu amor, a minha dor não se aplaca com qualquer lembrança nossa.
Ainda sinto falta de um dos primeiros dias, quando ninguém tinha dito aquelas três palavras avassaladoras. Você me levou no museu, em mais de um até, e conseguiu transformar isso em um programa perfeito. Tiramos tantas fotos, que eu não serei capaz de apagar das redes sociais, e fizemos um álbum que espero conseguir rever algum dia. E choveu. Descemos a João Pinheiro correndo, como se ajudasse a secar a roupa e a paixão que floresceu ali.
Quando paramos de baixo daquela árvore eu tive certeza de duas coisas: eu poderia ser atingida por um raio e escapar, mas se te amasse mais um pouco não teria a mesma sorte. Aquele dia me encheu de esperança, a chuva alimentou minha ansiedade em te ter perto de mim e lavou toda a angústia. Eu anotei mentalmente que aquele era o começo de tudo e que não marcaria o fim. E mesmo depois do término que você decidiu, eu continuei com meu pensamento: não se apaga uma história de amor.
Mas tem também um marco histórico que se repetiu infinitas vezes nessa relação finita: os gatos que salvamos no dia seguinte. Depois da primeira chuva descobrimos o quanto pessoas podem ser cruéis e o quanto felinos são indefesos. Foi lindo te ver salvar aqueles filhotes, por mais assustador que tenha sido velos amarrados em um saco que descia correnteza abaixo. Eu ainda me lembro dos miados, que só escutei quando chegamos mais perto e que você ouviu há um quarteirão de distância. Você me mostrou que não escutava somente apelos humanos, ensinou que todo ser vivo merece cuidado. Você me incentivou a adotar a Aurora, que é a segunda vida a carregar saudades suas nesse apartamento.
Em momentos como esse, em que chove lá fora e a gata mia aqui dentro, minha mente grita alto. Fico me perguntando quantos gatinhos ainda podíamos salvar da chuva, ou quanto tempo poderíamos correr debaixo dela. Então se estar na chuva é mesmo para se molhar espero não pegar uma gripe por estar te escrevendo na varanda, enquanto a água apaga toda a tinta da caneta. Você não leria uma carta minha, nem saberia das lágrimas que derramei ao escrever. Então o melhor é deixar que a chuva leve meus escritos e que os gatos miem o que não deixei de sentir.
*****************************************************************
Tenho esse guardado já faz um tempo de decidi compartilhar aqui. Ando sentindo falta das chuvas, mas pelo menos sei que não tem gatinhos se afogando nessa seca.
Se gostou ou tem alguma sugestão já sabe né? Me conta a sua opinião nos comentários.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando não posso falar
Non-FictionMeu mundo resumido em palavras, quase um blog no Wattpad.