A Garota e o Lobo

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Ele saiu, finalmente, eu já estava ficando nervosa, na verdade ansiosa, queria sair logo daquele cubículo e finalmente ele saiu.

Retirei com muita dificuldade a escrivaninha que tinha colocado na porta e depois a abri com muito cuidado, coloquei a cabeça para fora da sala e olhei para todas as direções, ele realmente tinha ido embora, acho que foi caçar.

Sai com cautela de dentro da sala e fui em direção a saída. No caminho ouvi uns barulhos de passos, então me abaixei e procurei algo para usar como arma: um pedaço de concreto quebrado.

Os passos estavam bem longe, mas toda a precaução é boa.

Fui devagar até a porta e foi quando eu o vi: seu pelo negro ficou totalmente branco por causa da neve e seus olhos azuis se destacaram mais ainda, seus dentes estavam a mostra parecendo que ele estava com raiva de alguma coisa, mas eu não conseguia ver o que era.

Cheguei mais perto e foi quando me deparei com um outro lobo, só que esse era maior e tinha mais raiva nos olhos, e não só isso, ele estava ali para ganhar, foi então que esse avançou e mordeu direto no pescoço do outro e com a força começou a jorrar sangue na hora.

Saí correndo na direção deles e bati com todo a minha força com o concreto na cabeça do lobo maior o qual saiu com medo dali deixando um rastro de sangue.

O outro estava no chão, não conseguia nem se levantar, fui até ele e enterrei as minhas mãos em seu pelo macio e disse :

- Vai ficar tudo bem, vou te ajudar.

Sai correndo dali para dentro da sala novamente, procurei qualquer coisa que eu poderia usar para ajudar o lobo e não encontrei nada, então decidi rasgar uma parte da minha blusa e amarrar em volta do pescoço dele.

Fiz isso, mas antes verifiquei se não tinha sido muito grave, não era.

Naquela hora ele não me dava mais medo, os olhos dele não demonstravam que ele estava com raiva, na verdade dava para ver que se sintia agradecido por eu tê-lo ajudado. Coloquei as minhas mãos em seu pelo novamente e fiquei fazendo carinho nele até o mesmo dormir. Me deitei ao seu lado e continuei passando as minhas mãos no lobo até eu cair no sono.

No amanhecer, ele estava tentando se levantar, porém ainda estava muito fraco, tentei ajudá-lo, mas ele sempre caía.

- Vou buscar algo para você comer... - falei fazendo carinho nele novamente.

Saí em busca de algum coelho que eu poderia matar para dar ao lobo, mas antes parei naquela casa destruída e comecei a procurar por algo pontiagudo no meio daquela neve toda, que já estava derretendo, pois eu acho que já era primavera.

Foi então que eu achei um pedaço de vidro quebrado e o peguei, rasguei mais um pedaço da minha camiseta e enrolei no vidro para não cortar a minha mão e enfiei no bolso do casaco e corri para dentro da floresta ao lado da casa.

No caminho me encontrei com um coelho já machucado, parecia estar sofrendo muito, consegui pegá-lo no colo e comecei a analisá-lo, algum animal já tinha tentado matar o pobre coelinho, ele estava a beira da morte, então eu me sentei ao lado de uma árvore e fiquei fazendo carinho no coelho até o mesmo morrer. Foi um dos momentos mais tristes da minha vida, mas pelo menos ele não morreu sozinho.

Voltei a onde estava o lobo e o mesmo já tinha conseguido levantar e estava me encarando com muita cautela tentando identificar se era mesmo eu, quando me viu realmente ele veio em minha direção devagar e começou a cheirar o coelho em minhas mãos, depois o tirou dos meus braços e o levou para longe para comer em paz. Fiquei bem longe o observando, estava com um certo medo agora que ele estava podendo andar novamente, entretanto tinha uma certa confiança de que ele não tentaria me matar se eu não fizesse movimentos bruscos, então eu estava paralizada a uns 200 metros de distancia dele, só de precaução.

Quando ele terminou de comer, eu continuei paralisada no meu canto, ele se aproximou de mim e se deitou ao meu lado e colocou a cabeça dele no meu colo e eu comecei a acariciar ele novamente.

Estava tudo bem demais para ser verdade. No começo ele queira me matar porque eu havia entrado em seu território, agora ele está deitado no meu colo pedindo carinho. Onde está a matilha dele? Será que ele é um alfa? Ou será que foi "expulso" da matilha e está vivendo sozinho? Esta segunda explicaria o ataque do outro lobo...

Do nada ele levantou e olhou fixamente para a floresta novamente e aquele outro lobo estava ali, espreita.

Eu me levantei devagar, sem movimentos bruscos, e comecei a me afastar, foi quando eu vi que não tinha só aquele lobo negro, a matilha inteira estava aqui. Eles iam matá-lo...

Ele começou a se afastar comigo e fomos cautelosamente até a porta da casa, chegando lá eu puxo ele com rapidez e o levo correndo até aquela sala, ele conseguiu me acompanhar, junto com os outros lobos também...

Entramos na sala e eu empurrei a escrivaninha para fechar a porta.

Sentei ofegante no canto da sala e fiquei olhando para ele.

- Agora só falta esperar...

Ele se deitou novamente perto de mim e nós dormimos.

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