18 - Sem mais fraqueza

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Às vezes sinto como se eu estivesse desistindo/ mas não posso/ Isso não está no meu sangue ( Shawn Mendes/ In my blood)

Depois da noite fatídica, cá estou eu deitada em minha cama, olhando para o teto e tentando me lembrar o que diabos eu fiz para merecer isso. Fecho meus olhos. Ainda podia sentir a minha pele arder por causa do  frio, as alucinações vinham em minha mente vez ou outra para me assombrar e sobretudo, a voz estridente da pessoa que me torturou, não saía da minha cabeça. Eu não me lembrava de seu rosto e nem da possível discussão que tivemos, só da sua maldita voz.

—Céus ! Eu preciso sair desse quarto ou eu vou enlouquecer—Digo colocando as duas mãos na cabeça. A verdade é que fora eu mesma quem me tranquei no quarto. Tia Rosely, Harry e até mesmo Zayn, tentaram me tirar do meu quarto, mas eu fingia que não os escutava. Estava envergonhada demais para encarar qualquer um deles. Era fato que  eu mesma tinha me deixado tornar um alvo fácil para quem quer que fosse, maldita tequila. Me levanto e abro a porta que dá acesso á sacada. Me sento em uma cadeira e fico observando o movimento da rua, ou melhor, o não movimento, já que era a época do inverno e a minha cidade era pequena demais para ter entusiastas que sairiam em plena quarta à noite.

Ainda não tive coragem o suficiente para perguntar Zayn, como eles haviam me encontrado. Na verdade, a ultima coisa que estou tendo por agora é coragem. Mordo meus lábios e fico vendo duas crianças construírem um boneco de neve, mesmo que logo depois, uma mulher que aparenta ser a mãe delas, colocar as crianças para dentro de casa.

— Eu sei que você quer ficar sozinha, mas sou sua tia e é o meu dever te incomodar —Ouço tia Rosely falar, sua voz estava um pouco abafada por detrás da porta. Decido então, pela primeira vez em 3 dias, abrir a porta para alguém.  Me levanto e vou até a porta para destranca-la, voltando ao mesmo lugar que eu estava. Ouço o bater dos saltos de tia e logo, me viro. Ela vinha com duas canecas com chocolate quente e então senta ao meu lado.

— Tome— Rose me entrega uma das canecas e eu agradeço em um sussurro.

—Os garotos estão preocupados com você—Ela diz, mas eu continuo em silêncio e tomo um pouco do chocolate quente, queimando a minha língua.

— Zayn é compreensivo demais, aposto que tem medo de invadir seu espaço. Que idiota!—Ela diz e beberica seu próprio chocolate quente.

— Harry... eu juro que eu não aguento mais atender os telefonemas dele. É todo dia a mesma coisa: "A Sky está bem? Será que ela pode conversar comigo? Por favor." E eu sempro respondo: "Desculpe querido, mas a Scarlet ainda não está pronta para conversar com ninguém.—Eu engulo em seco e sinto que ela que me analisava enquanto falava deles. E eu realmente me sentia mal. Eu não queria preocupar ninguém. Eu..eu só precisava de um tempo sozinha para assimilar tudo o que aconteceu.

— Isso não lhe faz nada bem, Let. Se trancar e se recluir toda vez que acontece algo, impedir que seus amigos conversem com você sobre o que aconteceu...— Ela passou a mão nos meus cabelos.
— Eu sei — Por fim, acabo respondendo.
— Então está na hora de sair, não acha? — Rosely fala animada ao ver que eu tinha reagido.
— Sim. Nada irá adiantar me trancar nesse quarto — Suspiro e minha tia dá um gritinho de entusiasmo. Balanço a cabeça. Só ela mesmo.
— Essa é a minha sobrinha! — Tia Rose me abraça.
— Vou falar com eles — Digo em um sussurro, tia Rose me solta.
— Isso vai te fazer bem, querida — Sorri e cutuca a ponta do meu nariz, como fazia quando eu era pequena e sai.
Bebo mais um pouco do meu chocolate quente e me levanto. Troco de roupa e enfim, saio do quarto. Desço as escadas e vejo Zayn concentrado em mais um de seus livros chatos. Dessa vez ele estava lendo " A arte do silêncio 2", revirei os olhos e me sentei na ponta do sofá onde ele estava.
— Me desculpa por ter sido estúpida com você no bar — Falei, encarando-o minuciosamente para decifrar sua reação. Ele fecha o livro e resmunga.
— Por ter sido? Você ainda é estúpida — Ele diz . Reviro os olhos.
— Nunca mais me desculpo também, idiota — Rio, mas ele ainda continua me encarando sem esboçar qualquer sensação aparente. Constrangida, me viro de um modo em que ele não pudesse ver o meu rosto.
— Então... o que aconteceu? Digo... como vocês me encontraram? — Passo as mãos em meus braços e encaro o chão.
— A pessoa que te sequestrou nos ligou e enviou a localização de onde você estava — Me levanto com raiva e começo a andar em círculos.
— Ele fez isso só para me desestabilizar. Desgraçado. Ele está brincando comigo, Zayn. — Eu digo cerrando meus dentes tão fortemente que sinto um gosto de sangue na boca. Mas para minha surpresa, Zayn já estava ciente disso, então apenas assentiu com a cabeça.
— Foi o que eu falei para Rosely e para Styles— Ele respondeu simplesmente e voltou sua atenção para o livro. De imediato, fiz uma careta. Não era ele que estava preocupado comigo? Por que, agora que eu resolvo conversar com ele, me trata tão friamente? Mordo meus lábios como se isso fosse me impedir de brigar com ele, mas eu sou tagarela e ele me irrita.
— Qual o seu problema? Pensei que estivesse aqui para me ajudar a tirar conclusões dessa loucura — Cruzo os braços e fico esperando por qualquer resposta. Mas ele não diz nada.
— Esquece — Reviro os olhos, pego um cachecol e saio de casa. Por que ele sempre me tratava assim? Ora dava a entender que se preocupava comigo, depois me tratava com frieza. Pego um pouco de neve no chão e atiro no tronco de uma árvore com força. Ainda estava resmungando sobre Zayn, quando escuto uma voz conhecida e vejo que se tratava de Harry. Ele ainda me dava frio na barriga.
— Harry — Digo um pouco mais animada.
— Você está melhor? Tia Rose disse que não estava precisando de um tempo sozinha...- Ele parou um pouco e me encarou.
— Eu fiquei preocupado — Disse por fim. Fiquei em silêncio, apenas apreciando o seu rosto. O que aqueles olhos verdes tinham de tão hipnotizantes? Eu não conseguia sentir raiva dele. Eu sei que eu deveria, ele era meu namorado e não acreditou em mim quando eu mais precisei. Virou as costas como todos os outros. Mas ainda sim, eu não conseguia odiar-lo.
— Sky? — Ele pergunta tocando meu ombro e o seu menor toque já faz com que eu queira estar em seus braços.
— Ahmm...—Pigarreio, me recompondo.
— Eu só precisava de um tempo sozinha mesmo, mas tudo está melhor. Quer dizer na medida do possível— Falo e encaro o chão coberto de neve.
— Precisamos conversar — Harry diz e eu sei disso. Tem muita coisa pra dizer, muita coisa. E muita coisa que eu quero entender sobre nós. Eu sei que precisamos conversar, mas uma parte de mim, não quer lembrar do que aconteceu. E então, faço a única coisa que estava na minha mente: Beijo-o. Estico minhas mãos por entre seus cachos. Sinto o cheiro do seu shampoo de camomila. Sinto seu calor em meio aquele inverno.
Ele retribui como sempre, calorosamente. Sempre parecia que iríamos pegar fogo quando estávamos juntos. Me separo lentamente como se estivesse uma estranha força que me impedisse de me afastar dele. Ele me olha intrigado e  eu sei que ele está esperando uma explicação.
— Não precisamos conversar sobre tudo o que aconteceu. Pelo menos, não agora. Eu só preciso de um pouco de paz. — Encaro-o e vejo-o balançando a cabeça.
— Só queria que soubesse que... céus, eu estou tão arrependido — Ele coloca as mãos na cabeça. Tudo estava estranho. Eu estava estranha.
— Vamos esquecer isso por agora, ok? — Digo e tento dar um sorriso verdadeiro.
— Aliás, obrigada por ajudá-los a me encontrar — Ele segura a minha mão e dá um sorriso enorme, mostrando sua covinha.
— Eu não estava brincando naquele dia quando eu disse que te amava Scarlet... apesar de ter sido covarde e um completa babaca — Meu coração para e eu vejo que ele espera uma resposta de mim. O que eu iria responder? Que eu o amava também? Mas não parecia mais tão certo assim.
— Vejo você depois — Sorrio, solto sua mão e saio correndo para casa.
O meu intuito é de correr para o meu quarto e me trancar novamente, mas vou até o quintal de casa e me sento no balanço. Meu coração parecia que iria sair pela boca. Eu não o amava mais? Eu jurava que meu sentimento por ele continuava o mesmo desde que minha vida tinha virado ao avesso. Pela segunda vez no dia: O que diabos aconteceu para eu merecer isso? Respiro fundo e começo a balançar meu corpo. Era explícito que eu ainda era totalmente atraída por ele. Tanto que quando ele me tocava eu ficava tonta. Mas ao mesmo tempo, em que eu estava ali com Harry, eu me lembrava do tanto em que Zayn me irritava e deixada brava e...não sei. Parker é tão bipolar que eu não sei o diabos se passa na mente dele. Ele se importa comigo? Eu sei que definitivamente me importo com ele. Mas ele me deixa intrigada, ele é tão o meu oposto. Eu nunca sei o que ele está pensando e isso me deixa muito irritada. Suspiro e balanço a minha cabeça. Não, eu não deveria está pensando sobre isso. E sim como mais uma vez, eu fui salva como uma bela de uma princesa indefesa. Mais uma vez. E isso me mata porque eu sei que eu devo me proteger, eu sei que eu consigo e eu sei que isso iria ajudar a não machucar as pessoas que eu me importo. Eu tinha que arranjar um jeito de me tornar mais forte e saber me defender sozinha. Eu não ligo se eu vou me machucar, ou quebrar a unha e até mesmo ficar com olho roxo. Na cadeia eu não podia ser vaidosa. Tinha que lutar para não virar saco de pancadas e então, quando eu "saio" viro uma princesinha indefesa? Não mesmo. Isso não pode continuar assim. Clarisse,—minha parceira de cela que me traiu no último momento— não  gostaria de me ver nesse estado de dependência.
Certo. Nota mental: Parar de depender tanto do Zayn.
A grande questão é como? Como eu vou me tornar mais forte? Abaixei a cabeça por instante e então, uma ideia surgiu na minha cabeça rapidamente. A verdade era que ainda iria precisar de Zayn, mas como meu professor.  Sorrio saindo do balanço e entrando em casa. Vejo que Zayn ainda está lendo o maldito livro e reviro os olhos.
— Quero que me ensine — Digo baixinho. Por um segundo penso que não escuta.
— Como é? — Sua voz sai mais grossa que  o normal e noto que ele estava de óculos, uma novidade para mim. Ele ficava muito sexy de óculos, céus!
— Scarlet— Ele grita e me dá um peteleco na testa.
— Outch— Reclamo, massageando o local onde ele tinha batido.
— Eu quero que me ensine tudo que sabe sobre  combate corporal — Falo firmemente e com uma cara determinada. Ele me encara, parecendo que não tinha se dado conta do que acabou de ouvir.
— Você... lutando?
— Sim, é isso aí
— Não vai chorar se quebrar uma unha? — Ele levanta uma de suas sobrancelhas. Sinto um frio no estômago.
— Não, não vou. Eu prometo — Digo e Parker me olha desconfiado.
— Não está esperando que eu vá pegar leve, certo? — Diz tirando os óculos e esfregando os olhos.
— Isso quer dizer que você vai mesmo me  ensinar? — Fito-o entusiasmada. Eu nunca pensei que seria tão fácil convencê-lo.
— Se você seguir as minhas regras, sim. — Regras? Sabia que estava fácil demais.
Respiro fundo. Era isso ou continuar dependendo dele para sempre e me sentir uma mosca morta.
— E quais seriam? — Olho-o encarando feio, porque já esperava não ser coisa boa.
— Primeira regra: Sem reclamações. Eu vou ser seu treinador, logo eu sei o que vai ser melhor para você, mesmo que não concorde. — Parker me olha instigante. Eu podia ver um leve esboço de um sorriso.
Desgraçado, por dentro ele está adorando essa situação. Penso em revirar os olhos, mas me seguro e então faço que concordo com a cabeça.
— Segunda: Sem tagarelices. Você precisa aprender a falar menos e agir mais. — Mordo a minha língua e dou um sorriso falso, pedindo para que ele continue, mas no fundo com uma vontade sanguinária de o matar.
— E terceira: Sem forçar seus limites — Eu ia contra-argumentar, mas ele acaba me interrompendo.
— Regra número um, lembra? — Ele fala com tom de divertimento.
— Tanto faz — Falo brava, fuzilando-o com meus olhos.
— Quando vamos começar? — Pergunto animada.
— Eu vou te avisar, mas de antemão vai ser todas as terças e quintas depois do colégio — Parker fala e coloca seus óculos novamente e volta a ler.
— Não podemos começar agora? — Pergunto fazendo a minha melhor cara de convencimento, o que obviamente não cola com Zayn.
— Não, caso você não tenha visto estou ocupado — Ele diz e balança o livro. Sinto minhas bochechas ficarem quentes e resmungo.
— Antes de eu deixar você quieto, precisamos oficializar esse acordo — Cruzo os braços e fico esperando o mesmo se voltar para mim.
— Como?
— Assim— Falo e estendo meu dedinho para firmar nosso acordo.
— Você só pode estar brincando — Parker me olha embasbacado.
— O quê? Ninguém quebra uma promessa de dedinho! Quer dizer, ninguém com honra quebra uma promessa de dedinho— Digo em protesto. Zayn fica encarando e revira os olhos.
— A promessa será mantida, ao não ser que você quebre as regras — Balanço a cabeça em confirmação e fico esperando ele estender seu mindinho.
— Isso é ridículo — Resmunga e até que enfim, estende seu dedinho para que pudéssemos selar nosso contrato. Sorrio satisfeita.
— Agora, você pode continuar lendo esse livro chato — Pisco para o mesmo e saio da sala. Espero que isso dê certo.

Criminal MindOnde histórias criam vida. Descubra agora