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S/n Mccartney Point of View

— Você não acha que deveria aceitar? - Diz a mulher a minha frente limpando o balcão do bar enquanto eu a encarava. — Digo, o homem foi até sua casa lhe oferecer essa tal proposta, e você disse que ele não pensou duas vezes antes de oferecer a você, certo? - Pergunta e eu apenas concordo balançando a cabeça e levo minha bebida até os lábios degustando.— Então, você tinha concorrentes e assim mesmo ele te deu essa preferência, eu acho que seria uma ótima oportunidade de recomeçar S/a. - Ela me olha  e para o que estava fazendo para me fitar com carinho. — Eu... Bom, não sei exatamente como você se sente, deve ser muito difícil, mas sei como é a dor de perder alguém querido. - Sorri triste, continuo mantendo contato visual com a mesma e ela suspira.

— Pensa, desistir não vai trazer eles de volta, acidentes acontecem... - Vejo tristeza em seu olhar e eu sei muito bem o motivo. Ela sabe bem a dor de suas palavras e o peso delas. Ela mais do que ninguém sabe o que isso significa.

Olivia perdeu sua mãe há 1 ano atrás, ela sofreu um acidente de carro.

Um motorista bêbado bateu no carro dela fazendo a mulher perder o controle e bater com tudo na parede. Ela ficou presa nas ferragens e com ferimentos graves. Não resistiu...

— Olivi.. - Começo a falar mas ela me interrompe.

— Sabe S/a, quando eu perdi minha mãe eu fiquei devastada, pensei em me suicidar e terminar logo com todo esse sofrimento. Deixei a faculdade, deixei minha vida social, larguei tudo e entrei numa depressão profunda a qual eu já não via mais saída. Ela era tudo que eu tinha sabe? Minha guerreira, e do nada, se foi, simplesmente deixou de existir. - A mulher olha para o balcão de forma nostálgica.— Eu que escolhi sair do estado deplorável que eu me encontrava, lutar com todas as minhas forças para sair do inferno em que vivi. Não é nossa escolha sentir isso, sentir essa tristeza toda dentro de nós mas, temos o poder da escolha para nos levantar, porque se você não fizer por você, não vai ter quem faça. Foi minha mãe que foi enterrada não eu, mas parecia que minha alma foi enterrada com ela sabe?

Ouço suas palavras com atenção notando o quanto esse assunto ainda mexe com ela.

— Eu sabia que ela não iria gostar de me ver do jeito que eu estava, foi aí que eu resolvi, que não iria mais chorar lágrimas de tristeza, mas, sim de saudade. Foi doloroso aceitar, doloroso demais ter que lidar com tudo ao meu redor desabando enquanto eu tinha que continuar me mantendo viva porque a vida não parou para esperar eu me curar. Com muito esforço fui me estabilizando, sabendo lidar melhor com a dor, e ao invés de sentir aquela dor absurda comecei a sentir um sentimento apenas de saudade, quis substituir por algo bom, aonde só as lembranças boas prevalecia. - Olívia está tão absorta em suas memórias e sentimentos que parece estar perdida em suas próprias emoções, consigo ver perfeitamente com intensidade o quanto ela sofreu para chegar aonde está. Ouço tudo atentamente a cada detalhe.— Foi a melhor coisa que eu já fiz. Eu carrego as lembranças dela bem aqui oh, na minha mente, no meu coração... - A mulher me  fita dessa vez e apontando para o seu peito.— Se eu tivesse me matado como pensei em fazer e  achei que seria melhor, eu teria cometido a pior decisão da minha vida, pois a vida continua e devemos superar, uma hora a dor se torna suportável, não vai doer o tempo inteiro, você ainda consegue viver, aquela cicatriz vai continuar ali, querendo ou não foi um fato que aconteceu na sua vida que te marcou pra sempre mas, e ao passar do tempo não dói como antes. Só segue em frente. Nenhum sofrimento é eterno.

— Nossa. Eu...- Olho para ela sem saber o que dizer, suas palavras me acertaram em cheio, de uma forma que nunca alguém havia feito.

Então eu me permiti pensar no que eu estava fazendo comigo mesma, se valeria a pena retornar ao meu trabalho...

Swim (Camila/You G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora