God?

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Tem cinco dias que eu estou tentando ignorar o Yoongi.

É, tentando.

É errado eu não conhecer alguém e já ter algum tipo de sentimento. Eu não estou ficando louco, ou estou?

Enfim, sempre que ele tenta ter algum tipo de conversa, se aproximar de mim, eu fujo. Eu sei que você vai me entender, quando a gente não quer alguém perto da gente, nós afastamos essa pessoa, não é?

Eu estou completamente errado. Eu sei. Mas eu não posso ter algo com ele, eu não sou certo pra ele. Perto do Min eu fico completamente vulnerável, a gente nem conversa... Mas parece que eu o conheço há tanto tempo...

Chega! Hoseok, para de pensar nisso.

- Hoseok! – Sik gritou – Desça. Vamos conversar.

Ai, caralho.

- Guk, o que ele quer comigo? – Perguntei a Jungkook indo até a porta.

- Eu realmente não sei – Fechou o livro que estava lendo – É melhor ir logo.

Ouvi um “boa sorte” baixinho e desci as escadas em forma de um redemoinho e fui até a sala.

Ele estava tocando piano. Algumas notas soltas que ecoavam pela sala enorme e vazia, apenas com um sofá branco e um divã da mesma cor, o piso é negro bastante limpo, nós não temos empregada, mas podemos usar a magia, não é mesmo?

Sento ao lado do meu tio e começo a tocar com ele, permanecemos assim até ele parar de tocar, olhar pra mim e perguntar:

- Como está sendo na escola? - Sua voz estava calma. Perigoso.

- Tudo bem, o mesmo de sempre – O respondi sem manter contato visual.

- Os olhares, julgamentos. Isso eu já sei, mas tem algo nessa escola – Fez uma pausa e tocou mais umas notas, o acompanhei – Você fez amigos?

Eu não poderia mentir pra ele. Se eu mentisse e ele descobrisse, seria pior, pra mim, é claro.

- F-fiz. Alguns – Gaguejei. Tenho medo do que ele pode fazer

- Alguns? Hm, interessante. - Voltou a tocar o instrumento - Aqui será diferente, meu filho – Parou de tocar – Hoseok. Sente-se no sofá.

Sentei. Esperando a bomba me atingir.

- E esses seus amigos... São confiáveis? – Perguntou pegando uma garrafa com uísque e colocando em seu copo. Tomou um gole e respirou fundo – Eu sempre fui muito protetor com você, sobrinho. Mas, dessa vez, com o seu aniversário por perto, vou te dar um voto de confiança. Faça o que nunca fez antes, aproveite até o dia do seu aniversá-

- Por que está fazendo isso agora? – Interrompi – Eu só quero entender.

Suspirou antes de me responder – Eu só... Só não quero que passe esses dias que lhe restam como mortal sem aproveitar. Eu sei que não fui tão aberto com você, mas eu me importo. Muito. Fique com seus amigos, não irei atrapalhar dessa vez.

- Você cuidou de mim todos esses anos, não tenho do que reclamar – Menti. Tinha do que reclamar, mas eu tinha que ser grato a Sik. Ele me deu uma casa quando minha mãe fugiu – Minha mãe... Ela fugiu mesmo? Não pensou em mim em nenhum minuto?

- A sua mãe. Ela sempre foi das Trevas, até antes de se revelar.

- Como assim?

- A Joohyun não tinha um bom caráter. Ela não fugiu pra proteger você ou a família. Ela tentou se matar e-

- Calma – Pedi o interrompendo novamente – Suicídio? – Perguntei incrédulo.

- E ela conseguiu. Mas no último minuto, se arrependeu. Você sabe que o de lá – apontou para cima – Não aceita pessoas que tentam tirar a própria vida.

- Você quer dizer Deus? Realmente existe? – Confuso, novamente. Eu não sei no que acreditar mais.

- Todos os deuses existem, filho. Ela fez um acordo – Olhou pra mim – Preste atenção no que eu vou dizer – Pigarreou – O acordo era: Ele lhe devolveria a sua vida, e daria mais poder, mas pra isso acontecer, ela teria que abrir mão da sua alma. Ele – apontou para baixo – Ele não queria esse acordo. Mas sabia que o seu pai não a deixaria  entrar no Céu, então lhe restou aceitar.

- Ele quem? Deus?

- Não, o Diabo.

Coloquei minhas mãos no rosto tentando assimilar tudo que ouvi – Deus não queria que minha mãe fizesse esse acordo. Mas o pai... – E aí eu consegui entender e olhei para o meu tio.

- Isso mesmo, meu filho. Deus, o pai de Lúcifer. A gente volta com esse tópico depois.

Eu não queria acreditar nisso. Nunca acreditei. Não sabia que os conjuradores poderiam pedir ajuda divina.

Estou ficando louco.

- Ela quis me deixar? Quis deixar o filho dela? – Essa pergunta me atormentou por toda a minha vida. Não estou pronto pra saber a verdade.

- Ela nunca gostou de você – Levantou-se do banco do piano foi até única janela que tinha no cômodo – Sempre deixou bem claro que não queria ter um filho. Ela dizia que você foi um erro, que não era pra ter acontecido. Desculpe-me por só falar essas coisas pra você agora. Eu precisava dizer isso, estava me sufocando.

Eu não conseguia responder. Como uma mãe não gostava do seu próprio filho?

- Ela virá no seu aniversário – Virou-se olhando pra mim – Ela quer levar você para as Trevas, mas eu não vou deixar isso acontecer.

- Por que ela quer me levar se não gosta de mim?

- Geralmente, os poderes de um conjurador também estão ligados aos seus progenitores. O seu pai era um mortal qualquer, mas a sua mãe é a mais poderosa. Quando o seu aniversário chegar, você não vai se sentir bem em vê-la novamente. E com isso, ela quer que você sinta ódio. Acha que desse jeito você irá para o lado dela.

- E isso funciona? – Eu tô muito confuso.

Eu não sentiria ódio dela.

Talvez.

Talvez sentisse tristeza. Não tenho como saber disso. É muita coisa pra assimilar agora.

- Depende dos seus sentimentos. – Voltou a sentar ao meu lado e pousou uma mão em meu ombro, me confortando – Não sabemos o quão poderoso você pode ser. Precisa estar concentrado.

- Mas eu ainda não “senti” nada, até o Jungkook teve alguma “pista” do que seria.

- Ainda não? Isso é pior – Parou de repente – O meu filho já? O que aconteceu?

- Ele não disse ao senhor? – Negou balançando a cabeça – O Jungkook leu a minha mente uma vez, mas depois disso, ele nunca mais tentou.

- Eu vou conversar com ele – Era pra eu ter contado? – Suba e vá tomar um banho. Já irei servir o jantar.

A festa que o Namjoon vai dar será amanhã.

Certo, eu estou nervoso.

Nunca fui à uma festa antes. Provavelmente todas aquelas pessoas que olham torto para mim estarão lá, mas isso não vai me incomodar tanto, desde que eu possa estar com o Jimin, estarei bem.

Não, eu não estou afim dele, mas ele me passa uma sensação muito boa, sempre está disposto a conversar, não deixa ninguém cabisbaixo. Jimin é o tipo de pessoa que você sempre vai querer perto, essa semana na escola só provou isso, brigou com todos que olhavam de cara feia pra mim, espero não afastar ele.

Mas o amigo dele, Yoongi.

Min Yoongi.

Uma obra de arte ambulante. Ele é como um felino, seus olhos são semelhantes ao de um gato. Um gatinho branco, com olhos negros como a noite. Seu cabelo platinado, meio azulado, me lembra a lua.

Seríamos completamente opostos. Juntos formaríamos um eclipse.

Eu não sei o que esse garoto tem, mas eu não posso machucá-lo, e se eu ficar com ele, é exatamente isso que vou fazer.

Yoongi. Me perdoe.

The Conjuring • myg + jhsOnde histórias criam vida. Descubra agora