Prólogo

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Eu senti meu antebraço ardendo. Meus olhos se arregalaram, o pânico tomou conta de mim e eu estava dividida entre sair correndo e procurar em volta. Sophia me olhou e soube sem eu precisar dizer nada. Senti as mãos dela me erguendo, estávamos prontas para ir embora, mas o destino - ou melhor, a maldição - é cruel, e jamais me deixaria fugir. Ele entrou em meu campo de visão.

Ele estava mais deslumbrante do que nunca. Seus cabelos eram negros e curtos, como se tivesse servido ao exército, o que era bem possível, já que estávamos em plena segunda guerra mundial. Seu sorriso tinha uma pequena falha - seu dente da frente estava lascado - mas a visão ainda fazia meu coração palpitar. E então ele fez o que eu mais temia, se virou. Nossos olhos se encontraram. Os olhos verdes profundos como duas esmeraldas se fixaram nos meus e eu sabia que não tinha mais o que fazer, eu não podia ir embora. O homem ao lado dele, loiro e alto o cutucou, tirando-o do transe e levando-o para se servir. Olho para Sophia e ela sabe o que estou pensando.

- Eu devia ter pressentido isso. - sua voz soava como uma criança que acabara de perceber que perdera algo que amava muito. Eu ri, mas soou como uma maníaca. Eu estava ferrada, de novo.

- Bom, o futuro não está escrito em pedras. - dei de ombros.

- O que disse? - aquela voz suave e grossa soou atrás de mim. Viro-me para ele e vejo a surpresa em seus olhos verdes, como todas as outras vezes. Junto minhas mãos e espero enquanto a cena de sempre se repete. Seus olhos abaixam até o antebraço onde a frase some diante dos olhos dele. - Mas que por..

- Você não precisa falar palavrões para expressar o que sente, sabia? - sei que soo irritada, mas eu simplesmente odeio palavrões e ele sempre parece amar falá-los, e eu sei que ele ama me irritar. Um sorriso brilha em seus lábios carnudos.

- O que está dizendo? Palavrões são a melhor maneira de se expressar! - sua voz falsamente ofendida derrete o meu coração, mas no fundo estou gritando "FUJA!!". Não consigo conter meu sorriso. - A madame tem nome?

Ele toma minha mão em sua própria mão e eu observo enquanto a minha própria parece desaparecer na imensidão da dele. Harry beija delicadamente as costas de minha mão e eu sinto a eletricidade percorrendo todo meu corpo.

- É preciso ser mais criativo que isso para conseguir uma informação como essa. - meu sorriso se torna travesso e eu vejo suas sobrancelhas se juntando enquanto ele franze a testa, como sempre faz quando está pensativo.

- Ajudaria se eu dissesse meu nome? - ele pergunta, assumindo aquele tom de quem precisa desesperadamente saber meu nome, como se sua vida dependesse disso. Dou risada.

- Eu sei o seu nome. - dou uma piscadinha e sei que provavelmente estou com uma expressão presunçosa porque ele cruza os braços sob o peito e levanta uma sobrancelha, me desafiando.

- Oh é mesmo? - ele sorri. Aquele sorriso de canto de boca. Aquele sorriso que faz meu corpo todo se arrepiar. - Eu aposto que não.

- Se eu acertar, você me paga uma cerveja. - cruzo meus braços sob meu peito também, espelhando a pose dele. O sorriso de menino travesso aumenta.

- Feito. Se você errar, eu a levo pra jantar. - não consigo conter minha gargalhada. Então ele está mais abusado dessa vez.

- Feito, - meu sorriso aumenta quando olho bem fundo nos olhos dele antes de completar. - Harry.

Seus olhos piscam rapidamente, como se ele estivesse completamente em choque com o fato de que eu realmente tivesse acertado. Sophia, que estava atrás de Harry, sentou-se rapidamente, como se tivesse recebido um soco e me olhou, sua expressão mudando de "beijem-se, pelo amor de Deus" para "ABORTAR MISSÃO!". Franzo minha testa, confusa.

- Como sabe meu nome? - pergunta ele, sua voz com uma surpresa infantil, mas não é isso que faz meu estômago se apertar. Meu antebraço queima de novo, mais forte dessa vez e eu sinto meu mundo cair. Olho para ele, em desespero e vejo as palavras sumindo, queimando em minha pele.

- NÃO! - grito, tentando avançar para cima dele, mas é tarde demais. Ouço os tiros antes de poder entender o que está acontecendo. Estamos sob ataque, mas minha única preocupação é Harry. Mas já é tarde demais, e Sophia sabia disso.

O garoto de cabelos negros caia e estava quase no chão quando consegui agarrá-lo. Caio de joelhos, aconchegando sua cabeça em meu colo, mas não há mais nada que fazer. Seus olhos verdes já perderam o brilho, estando completamente vidrados, sendo o único ponto de brilho no seu rosto minhas lágrimas que caíram no rosto do soldado tão jovem morto, mas não pela guerra, ou por uma doença, mas pelo meu amor.

Levanto meu rosto para os céus, a raiva tomando conta de mim e eu praguejo com toda a força dos meus pulmões.

- EU ME VINGAREI DE VOCÊ! - e deixo os soluços tomarem conta de mim enquanto abraço o corpo sem vida do garoto dos olhos verdes. 

Cursed // H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora