Capítulo 2

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Meu alarme gritava em meus ouvidos e minha vontade era jogá-lo contra a parede. Se ao menos isso fizesse o tempo parar ou voltar para eu dormir mais algumas horas, eu o faria. Mas, como sabia que não adiantaria, apenas suspirei dramaticamente e levantei.

- Querido, você vai se atrasar! - minha mãe disse após duas batidas na porta. Resmunguei algo entre "já vou" e "tanto faz". Se ela entendeu, ou não, não sei, mas ouvi seus passos se afastando. Fui até o banheiro, fiz as minhas necessidades, minha higiene matinal e encarei o chuveiro, decidindo entre tomar um banho quente ou não. Acabei optando pelo não por simples rebeldia.

Caminhei para o guarda-roupa enquanto ajeitava meu cabelo com as mãos. Malditos cachos rebeldes. Desisti de conseguir um bom resultado e vesti minha jeans preta com uma camiseta branca e minha bota marrom favorita. Peguei a mochila e desci para a cozinha, onde minha mãe servia o café da manhã. Me aproximei dela, depositando um beijo em sua testa.

- Papai já foi? - pergunto, rouco, me sentando na mesa. Minha mãe achava o café da manhã um momento sagrado que devia ser compartilhado em família. Às vezes eu me atrasava pra escola porque ela se recusava a me deixar ir sem tomar café com ela.

- Ele precisou ir. - foi sua resposta vaga. Concordei e comecei a pegar algumas salsichas que minha mãe havia preparado. Ultimamente, meu pai trabalhava demais e minha mãe evitava falar o quanto isso a afetava, mas eu podia ver em seus olhos. - Está ansioso para o início das aulas, querido?

Paro uma salsicha a meio caminho da minha boca e olho minha mãe. Seus olhos gentis e cansados me dizem que ela não ficaria nada feliz se eu dissesse a verdade, então apenas sorri antes de morder a salsicha.

- Claro. - digo após engolir. - É algo novo, certo?

- Isso! - ela abriu um sorriso que fez seus olhos brilharem, o que fez meu coração se apertar pela mentira. Mas isso a deixou feliz, então não era tão ruim. - Ahh, que ótimo querido, fico feliz que se sinta assim.

Ela me entregou um saco de papel com o meu lanche. "Não quero que você passe mal de fome! Não sabemos se a comida é mesmo boa." nas palavras dela. Ri, dei um beijo na testa dela e sai. Meu carro já havia chegado - graças a Deus - o que me permitiu ir dirigindo-o até a escola. Apesar de não ser longe, eu realmente preferia não ir andando caso houvesse necessidade de fuga dos riquinhos.

Depois de muita procura, consegui achar uma vaga entre um Mercedes e uma Ferrari. Precisei de todas as minhas forças pra não xingar o jeito que eles pararam seus carros, como se fossem donos do lugar, o que, pensando bem, devia ser exatamente o que eles achavam.

- Se eu fosse você, não teria parado ai. - disse um garoto ruivo assim que saí do carro.

- Por que? É seu lugar? - pergunto, olhando para o chão.

- Não, o Brad odeia que as pessoas parem perto dele. - o garoto aponta pra outra vaga vazia ao lado da Ferrari. Dou de ombros.

- Não me importo com o Brad odeia ou deixa de odiar. - soo ríspido, mas não consigo esconder minha raiva. Quem esse Brad achava que era pra pensar que podia mandar ou desmandar em onde as pessoas paravam. Apertei o botão de alarme do meu carro, ajeitei a mochila no meu ombro e sai andando para a escola, deixando o ruivo para trás. 

Ao entrar, percebo que eles não aceitam muito os novatos, já que todas as cabeças viraram para mim, me olhando de cima a baixo com desprezo. Engulo minha vontade de perguntar o que eles estavam olhando e olho novamente o número do meu armário no papel. Caminho lentamente a procura dele, tentando ignorar os sussurros que começaram enquanto apontavam para mim sem qualquer medo.

- Não ligue pra eles. - disse aquele ruivo novamente. Sinto meu sangue ferver. Tudo o que eu menos queria era alguém no meu pé no primeiro dia de aula, mas fico em silêncio tentando abrir meu armário. - Eles se acostumam com sua presença e passam a te ignorar, acredite, eu sei como é.

Cursed // H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora