Knuckles

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No sábado de manhã, ambas estavam na expectativa. Samantha queria ir logo pra casa de Heloísa, mas achou ridículo chegar muito cedo, seria bandeira demais. Já a chef andava de um lado pra outro pensando no que preparar para a sua convidada. Como gostava de peixe, resolveu seguir a intuição. Por fim cozinhar a distraiu e quando temperava o linguado o interfone tocou. Foi correndo atender.

- Entrega de uma garrafa de vinho.

- Opa, é aqui mesmo. – abriu se sentindo animada.

Samantha entrou e logo ela a recebeu na porta com um sorriso.

- Bom dia.

- Cheguei muito cedo? – vinha com capacete em uma das mãos e uma pequena mochila nas costas.

- Não, chegou na hora. Estava temperando seu almoço, aliás, nosso.

A morena gostou de ouvir aquilo.

- Quer esperar na sala ou ir pra cozinha comigo?

- Ah, prefiro vê-la cozinhar.

- Está animada pra andar de moto hein?

- Adoro andar de moto, um dia eu pego a estrada e vou pro sul.

- Nossa que longe! – Heloísa brincou.

Seguiram pra cozinha e Heloísa preparou a frigideira pra dourar o peixe.

- Vai dar uma fumacinha, mas não assusta. – jogou as postas de peixe e depois o azeite e um molho que Samantha não soube dizer o que era.

- Gosto de dourar porque fica crocante por fora e macio por dentro.

- Que peixe é?

- Calma, me deixa terminar.

Pacientemente a publicitária esperou com os olhos atentos aos movimentos de Heloísa. Ela foi colocando o peixe e por cima um molho. Depois fez uma salada bem rapidinha e serviu com arroz simples.

- O arroz é opcional, não precisa comer se não quiser.

- Estou com fome, vou comer tudo. – riu.

- Essa é minha tática, deixar os convidados com fome pra impressionar na hora de servir. Se ficar bom ou não, eles vão gostar do mesmo jeito.

- Você não precisa disso. O que vamos comer?

- Linguado com molho de limão e cogumelos.

- Hum. – Samantha fez uma cara de cobiça pra cima dos pratos.

- Eu gosto de peixe, então arrisquei.

Serviram-se e almoçaram batendo papo. Era disso que Samantha sentia falta e só podia ficar grata. Não era só a presença de Heloísa, mas a delicadeza em chamá-la pra almoçar.

- Se pudesse, faria isso todos os dias. – a publicitária falou mais pra si mesma.

- O que você disse?

- Pensei alto, mas posso repetir. Se pudesse faria isso todos os dias da minha vidinha. – falou franzindo o nariz.

- Vidinha, Samantha? Sua vida é ótima, do jeito que você falou parece até que não gosta dela.

- Gosto em partes, adoro meu trabalho, amo o que faço e é aquele discurso profissional que você já deve conhecer. Mas quando se trata da vida pessoal, é vazia, muitos contatos, poucos amigos. Não sou chegada à rotina, mas gosto de dividir o dia a dia. Entendeu?

- Não. – Heloísa a olhava com certa curiosidade.

- Guto sempre me repreende por nunca ficar com uma pessoa por muito tempo. O problema é que as mulheres com quem namorei são vazias, previsíveis, fúteis e essas coisas a gente enjoa muito fácil. Por isso sempre terminei, sempre dei a desculpa do “não é você, sou eu”. – fez a chef rir. – Eu quero ter alguém pra discutir comigo, me contrariar, alguém que pense e me faça até raiva às vezes.

Medida Certa (Limantha)Onde histórias criam vida. Descubra agora