Capitulo 1

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Quem é alérgico a uva?

Essa foi a única pergunta que rondou minha cabeça quando conferia a lista de regras em meu novo emprego. Tantas regras, o cara deve ser um pervertido que tem cordas no escritório e quarto. Qual é! Eu sou a nova governanta, deve existir em algum lugar, uma regra que me permita entrar em todos os cômodos e ter a certeza de sua limpeza.

Se papai estivesse vivo, com certeza chamaria isso de frescura. Mas vai la saber, eu não entendo esse povo rico. Cheio das frescuras.

- Nada de ir ao escritório, quarto, refeições em horários certos, comida saudável. Esse homem precisa viver, eu em. - Resmungo olhando a lista. - Alérgico a amendoins, uvas, azeitonas. Credo. Da ate agonia.

Falar sozinha. É algo constante na minha vida. Piorou a cerca de um mês atrás, quando papai morreu. Pelo menos antes eu tinha alguém para me responder, agora! Nem isso.

Suspiro e pego minha mala, o cara acabou de se mudar, não faz nem quatro semanas, fui a única a mandar currículo. Ninguém nunca ouviu falar dele, morar com alguém desconhecido é horrível. É o que dizem. O que pode acontecer? Ele se enganar e tenta me matar com azeitonas?

Sorrio ao ter esse pensamento.

As folhas em minhas mãos dizem detalhadamente sobre tudo. Tenho aceso a uma conta bancária, tenho que contratar uma empresa de limpeza a cada quinze dias, uma lista com todos os alimentos preferidos, aceitáveis, detestáveis, e nulos. E mais uma lista sobre como agir no dia a dia.

Eu chamaria a pasta de MCP.

Maluco Controlador Psicótico.

Agora são quatro da tarde. O jantar tem que ser serviço na sala de jantar, exatamente as seis, eu devo deixar o jantar e me retirar, as sete e dez voltar, e recolher tudo.

Reviro os olhos. O cara é um maníaco por controle.

Não me importo. Ele esta me pagando uma fortuna, problema dele.

Escuto uivos ao longo da propriedade. E que propriedade. Uma puta mansão antiga e maravilhosa, com um limpo e lindo jardim de rosas que rodeia toda a propriedade. Que por sinal, é enorme. O taxista disse que é uma das maiores propriedades e mais velhas da região.

- Ok, Isabella, hora de trabalhar. - Resmungo olhando para os números na folha. Tenho que contratar um jardineiro, arrumadeira, cozinheiros, auxiliares, faxineiros.... tantas coisas. Decido ser objetiva.

Um jardineiro, eu amo cozinhar, então, parabéns, sou a nova cozinheira, não preciso de auxiliares, gosto de manter a casa limpa, e com a ajuda da empresa de limpeza a cada quinze dias, dou conta. Se acontecer alguma festa, ou algo assim, fácil de ajeitar. Vou ficar o dia todo aqui, posso cozinhar, arrumar e organizar tudo. Somente as flores que terão que ser cuidadas por um profissional.

E outra, uma das muitas regras é o silêncio. Cheguei a conclusão que apenas eu, é o suficiente para ter um ambiente... Vamos dizer, barulhento.

- Que mais... - Resmungo riscando as coisas. - Comida. - Preciso de entregas semanalmente, é uma das regras, comida fresca. O leiteiro uma vez na semana, o correio também... Posso fazer um acordo com o mercado local, entregas semanais das coisas mais usadas. Se precisar de algo posso ligar e encomendar, ou ir até o mercado. Levaria meia hora ate chegar lá, no máximo ficaria fora duas horas.

Vou ver como a semana vai ser, e vejo se consigo.

Isso. Sou um gênio.

- O que fazer de janta... Huum! Legumes ao vapor, bife grelhado, e molho madeira. Leve, suculento e estou com vontade. Perfeito. - Fico de pé em cima da cama e aponto para o teto com as folhas enroladas em punho. - Senhor Kael Varzim, me aguarde, serei a melhor governanta, cozinheira, e arrumadeira que o senhor ja viu! - Me jogo na cama macia. - O homem vai perder ate a fala com a minha capacidade.

***

A comida fica pronta cinco para as seis, rapidamente coloco a mesa e deixo o ambiente o mais escuro possível, outra regra das folhas, ambientes escuros. Reviro os olhos.

- Pra que uma sala de jantar tão bonita, se vai comer igual um morcego!? - Resmungo acendendo as velas da mesa.

- Gosto de escuridão. - Uma voz rouca, fria e baixa diz em meio a escuridão.

- Jesus tenha misericórdia! - Grito quase colocando fogo na toalha da mesa.

- Desculpe se te assustei. - A voz é gélida. Como se não fosse usada muito.

- Assustou mesmo. Quase morri do coração. - Tento manter a respiração calma, meu coração parece que vai pula da garganta. A voz é gélida, máscula, mas da um calor na boca do estômago. - Deixe de ser tonta! - Resmungo o mais baixo possível. - O senhor ai nas sombras, parece o Batman, enfim, o senhor é o senhor Kael? - Eu espero que não. Será vergonhoso se for ele. E me repreendo por chama-lo pelo primeiro nome.

- Sim, sou eu mesmo. - Ele não disse nada sobre o nome, então vou continuar. Odeio formalidades, já basta o senhor.

A coisa do Batman faz jus. O homem tem uma voz grossa que meu Deus. Potente, baixa, rouca, todo homem.

- Vou ser despedida? - Pergunto tentando encontra onde ele esta. A sala esta mais escuro que eu esperava.

- Não. Ainda não.

- O ainda, é reconfortante. Enfim, vou deixar o senhor comer em paz, as sete e dez estarei de volta. Bom apetite. - Falo caminhando para fora da sala.

- Obrigado. - A voz esta mais baixa, mais rouca, e eu mais quente.

Pervertida é você. Abusada. Uma pequena voz sussurra no fundo da minha mente.

Se só a voz do homem já me deixa meio aérea, imagina o resto. Credo! Ele é meu chefe!

Deus! Me livre desses pensamentos impuros! Facilite o meu trabalho. Obrigada.

Tiro a torta de morango do forno e deixo descansando na mesa, coloco um pano e arrumo tudo. As sete e dez, ainda pensando na voz perfeita do homem, eu volto para a sala de jantar, ainda esta escura.

- Senhor Kael? - Pergunto para não termos mais surpresas. Ótimo, vazia. Acendo as luzes, recolho e limpo a mesa. De volta a cozinha, lavo a louça, seco, e guardo.

Sinto meu corpo cansado, então dou mais uma olhada ao redor, e antes de ir dormir, coloco a torta na geladeira para firmar. Amanha no almoço, estará perfeita.

Penso sorrindo. Eu realmente amo cozinhar.

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