O dia amanheceu nublado. A neve cai levemente sobre o chão. Tão bonita, tão gostosa, perfeito para um chocolate quente e livros.
Penso animada. Pulo da cama e me preparo para fazer o café da manhã. Frederico irá vir mais tarde, não tem muito trabalho, apenas umas conferidas e esta livre. Queria ser como ele. Ter uma casa para voltar, alguém esperando de braços abertos depois de um dia de trabalho cansativo, filhos, ate um cachorro. Eu realmente gostaria de ter um cachorro. Talvez num futuro distante.
- Bom dia, senhor Kael. Dormiu bem? - Pergunto assim que entro na sala de jantar trazendo seu café da manhã.
- Sim. - Como sempre, chato, monótono. Típico. Suspiro.
- Fiz torradas, espero que goste, eu amo. - Coloco tudo na mesa e sinto seus olhos, como sempre, em mim, mas nunca sei exatamente onde ele esta. - Fiz também uma torta de chocolate para o almoço. Espero que goste. Bom apetite. - Digo fechando a porta.
- Obrigado. - Chaato!!! Suspiro de novo.
A tarde se vai logo, logo ja é quase a hora do jantar, e Frederico ainda não chegou.
Frederico esta atrasado. E isso me preocupa, ele nunca se atrasa. A mansão é meio afastada, a neve ainda cai e Frederico não é mais um garoto. Ele estava reclamando de dor nas costas esses dias. Lembro preocupada.
São cinco da tarde quando o barulho da camionete amassando os cascalhos me faz suspirar. Puxo a saia do vestido pesadamente longo e solto que estou usando e corro ate a porta da cozinha.
- Frederico! - Grito assim que abro a porta. - Como se atreve, seu velho rabugento! Me deixou preocupada aqui, quase morro do coração! - Estaco quando vejo o homem jovem e bonito me olhando assustado. - Quem é você, e onde esta Frederico? - Pergunto ja querendo chorar.
Não tenho ninguém, não tenho amigos, família, nada. Os seguranças são silenciosos, nunca estão confortáveis em conversar. Só Frederico. Ele é minha companhia. Fico atrás dele cada segundo de seu trabalho. Gosto de suas piadas sem graças, da forma como ri quando eu tropeço, e quase sempre acontece. Frederico se transformou num grande amigo nessa casa silenciosa e vazia. Senhor Kael mal fala comigo, sempre quieto, na dele, parece um morcego, me sinto sozinha!
- Calma, senhorita. Meu pai só esta com um pouco de dor nas costas, me pediu para vir, avisar e fazer o trabalho. Desculpe a demora, estava fazendo meu trabalho.
Jonathan. O único filho de Frederico. Ele sempre me contou sobre ele e a esposa.
- Oh! O pequeno Jonathan! - Exclamo sorrindo, mas logo me lembro de sua palavras. - Frederico esta bem? De verdade? - Corro ate ele, seguro suas mãos e o olho suplicante. - Por favor, se precisar de ajuda, se aquele velho rabugento precisar de ajuda, me avise imediatamente! - Uso meu tom firme. Frederico o elogiou dias atrás.
O pequeno Jonathan, não tão pequeno assim, me sorri e aperta minhas mãos.
- Ele esta bem. Aquele velho rabugento é duro. - Diz rindo. - Ele sempre fala de você. Mas nunca disse que era tão bela.
- Oh! - Coro com o elogio inesperado. - Galanteador igual seu pai. Dois falastrão. - Bato de leve em seu ombro sorrindo. Ele ri alto.
- Papai não mentiu ao dizer que tinha bom humor.
- Vamos, vou te mostrar as coisas. Tem que cuidar das minhas rosas com carinho, são a única alegria nessa casa.
- Notei. - Jonathan caminha ao meu lado. Me faz pensar em Frederico mais jovem. E é só olhar para Frederico, que saberei como Jonathan ficará daqui uns anos.
- Seu pai esta realmente bem? Se ele quiser alguns dias de descanso, posso providenciar. - Nunca me perdoaria de estar dando tanto trabalho para Frederico. Ele é carinhoso com as flores, trata delas com o amor carinho, sabe do que precisam e quando, mas esta idoso, e não posso deixar de me culpar um pouco. Mas entre os cinco jardineiros, ele foi o melhor. - Seu pai é o melhor jardineiro que conheci em toda minha vida. É olha que já conheci bastante, meu pai amava flores de todo tipo, vivia enfiado em reuniões de jardineiros, cursos, e todo o resto, e sempre me levava junto.
- Fico orgulho dele ser meu pai. Sempre tão brilhante quando fala sobre seu jardim.
- Ele tem inveja. - Falo brincando, e como seu pai, ele ri.
Ficamos alguns minutos conversando sobre Frederico, e rosas, ate que escuto um grande e alto barulho de dentro da casa.
- Isabella! - O berro do senhor Kael me deixa petrificada.
Jonathan para o que esta fazendo e me olha assustado.
- Senhor Kael! - Sussurro chocada olhando a construção majestosa a minha frente.
- Quer que eu entre com você? - Jonathan se levanta e segura em meu cotovelo olhando para a casa.
- ISABELLA!
Meu Deus! O homem tem pulmões potentes.
Suspiro surpresa.
- Não. Vá embora, acho melhor.
- Bella... - Jonathan diz contrariado.
- Senhor Kael nunca me machucaria, ele nunca nem mesmo levantou a voz, algo deve ter acontecido, algo deve estar mesmo errado. Vá, amanhã estará de volta e vera que tudo esta em perfeito estado. E não preocupe Frederico, por favor. - Corro para a porta da cozinha. - Vá agora, Jonathan, e obrigada por vim me avisar. Mande um beijo para seus pais. - Sorrio fechando a porta.
Segundos depois escuto o arranque do carro e finalmente corro ate a sala de jantar.
- Senhor Kael! - Entro surpresa, a sala esta mais escura que o normal. Coisa que sempre achei impossível.
- Isabella! - Ele berra como se eu ainda estivesse la fora. Consigo ver sua figura enorme caminhando para lá e para cá na sala escura. O homem é enorme! E começo a sentir uma ponta de medo. - Nada de relacionamento entre funcionários! JAMAIS! - Ele berra e escuto uma cadeira ser jogada contra o chão. Grito assustada, me afastando. Minhas costas batem contra a parede. - É uma das regras, achei que era responsável, uma mulher direita. Enganado! Traído! - Mais coisas se quebrando. Meu coração bate contra o peito apertado de medo, e se estiver errado? E se o senhor Kael for alguém agressivo? Eu me recuso a imagina que... Que o homem, o homem que eu desejo, gosto... Seja alguem agressivo! - Ficou la, passando a mão, conversando! Inadmissível! Sem namoro entre os funcionários. Sem namoro!
Ele continua gritando como se estivesse me punindo.
- Senhor Kael... - Sussurro sem ter ideia do que fazer.
- SEM NAMORO! - Sua voz é torcida por raiva, amargura, escuridão. Seus berros me dão arrepios na espinha. O medo me assombra. Me aterroriza.
Então sem pensar, sem saber como agir, com medo de estar no mesmo.cômodo com alguém tão raivoso, tão descontrolado, eu abro a porta e corro. Corro para a escuridão que é a noite. Corro direto para os uivos de lobos.
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Beauty and the Beast.
Romance+18. Livro único. Completo. Sem revisão. Podemos treinar nosso corpo para esquecer, mas nunca nossas mentes. E algo que viver sempre te ensina, é que o seu passado, marca você para sempre. Há onze anos trás, Kael aprendeu que não temos o controle de...