Layla

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Nós nos encontramos em segredo em um apartamento em Kensington. Eric Clapton me pediu para ir para escutar uma nova música que ele havia escrito. Ele ligou o gravador, aumentou o volume e tocou para mim a música mais poderosa e tocante que eu já havia escutado. Era “Layla”, sobre um homem que se apaixona perdidamente por uma mulher que o ama mas não está disponível.

Ele tocou para mim duas ou três vezes, olhando meu rosto a todo momento para ver minha reação. Meu primeiro pensamento foi: “Oh Deus, todo mundo vai saber que é prá mim”. E eu era casada com um dos amigos mais próximos de Eric, George Harrison, mas Eric estava deixando explícito seu desejo por mim havia meses. Eu me sentia inconfortável por ele estar me empurrando em uma direção que eu não estava certa se queria ir. Mas, ao perceber que eu havia inspirado tanta paixão e criatividade, a música tirou o melhor de mim. Eu não pude mais resistir.

Naquela noite eu estava indo ao teatro para ver “Oh! Calcutta!” Com um amigo e depois iria a uma festa na casa do empresário Robert Stigwood. George não quis ir nem ao show nem à festa.

Depois do intervalo de “Oh! Calcutta!” eu voltei e encontrei Eric no assento ao lado, depois de persuadir um estranho a trocar de lugar com ele. Depois, nós fomos à casa de Robert separadamente, mas logo estávamos juntos. Era uma festa ótima e eu me senti lisonjeada pelo que havia ocorrido anteriormente, mas também profundamente culpada. Depois de algumas horas, George apareceu. Ele estava de cara fechada e seu humor não melhorou ao caminhar por uma festa que já acontecia havia horas e a maioria dos convidados estavam sob efeito de drogas.

Ele insistia em perguntar “Onde está a Pattie?”, mas ninguém parecia saber. Ele estava quase indo embora quando ele me viu no jardim com Eric. Estava começando a amanhecer, e estava muito enevoado. George chegou para mim e perguntou: “O que está acontecendo?”. Para o meu horror, Eric disse: “Eu tenho que te contar, cara, que eu estou apaixonado pela sua mulher”.

Eu queria morrer. George ficou furioso. Ele virou para mim e falou: “Bem, você vai com ele ou vem comigo?”

Eu havia conhecido George seis anos antes, em 1964, quando nós estávamos filmando “A Hard Day’s Night”. A grã-bretanha e a maior parte da Europa estava na onda da Beatlemania.

John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr eram acompanhados por multidões onde quer que fossem, e em seus shows milhares de adolescents histéricas gritavam e berravam tão alto que ninguém conseguia escutar a música.

Pouco antes do início da filmagem de “A Hard Day’s Night”, os Beatles conquistaram a América. Em fevereiro de 1964 eles apareceram no Ed Sulliven Show, um dos programas de maior prestígio na América, e atraíram 73 milhões de telespectadores.

Eu era modelo, trabalhava com alguns dos fotógrafos mais bem sucedidos de Londres, incluindo David Bailey e Terence Donovan. Eu aparecia em jornais e revistas como Vanity Fair e Vogue, mas em março minha agente me enviou para um teste de elenco para um filme.

Ela me ligou depois para avisar que haviam me oferecido um papel de uma fã colegial em um filme dos Beatles. Minhas primeiras impressões foram que John parecia mais cínico e áspero que os outros, Ringo o mais carinhoso, Paul era bonitinho e George, com seus olhos castanhos aveludados e cabelo cor de avelã, era o homem mais lindo que eu já havia visto. Em um intervalo para o almoço, me encontrei sentada perto dele. Estar perto dele era eletrificante.

Uma das primeiras coisas que ele me disse foi: “Quer casar comigo?”. Ele estava brincando, mas havia um toque de seriedade. Nós ficamos juntos logo depois disso e nos casamos dois anos depois, no dia 21 de Janeiro de 1966. Eu tinha 21, ele tinha 22. Eu era tão feliz e estava tão apaixonada. Eu achava que ficaríamos juntos e seríamos felizes para sempre.

Três anos depois, em 1969, George escreveu uma música chamada “Something”. Ele me disse em uma conversa corriqueira que ele havia escrito para mim. Eu a achei linda e ela acabou sendo o maior sucesso que ele escreveu, com mais de 150 regravações.

Frank Sinatra disse que ele a achava a mais bela canção de amor já escrita. A versão preferida de George era a de James Brown. A minha era a do George Harrison, que ele tocou para mim em nossa cozinha.

Mas, de fato, desde então nosso relacionamento estava passando por problemas. Desde uma viagem ao templo do yogi Maharishi Mahesh na Índia, em 1968, George ficou obsessivo quanto à meditação. Às vezes ele ficava isolado e depressivo.

Meu humor começou a refletir o dele, e algumas vezes eu me sentia quase suicida. Eu não acho que tenha existido um perigo real de eu me matar, mas já cheguei a planejar como o faria: colocaria um belo vestido da Ossie Clark e me atiraria da Beachy Head.*

E haviam outras mulheres, o que realmente me machucava. George era fascinado pelo deus Krishna, que sempre estava rodeado por jovens donzelas. Ele voltou da índia querendo ser um tipo de figura Krishna, um ser espiritual com diversas concubinas. Ele chegou até a dizer isso.

Nenhuma mulher estava fora do alcance. Eu era amiga de uma garota francesa que saía com Eric Clapton. Quando ela e Eric se separaram, ela veio ficar conosco em nossa casa, Kifauns, em Esher, Surrey.

Ela não parecia nem um pouco triste por Eric e estava desconfortavelmente próxima a George. Algo estava acontecendo entre eles, mas quando eu perguntei a George ele me disse que minha imaginação estava me guiando, que eu estava paranóica.

Eu fui viajar com umas amigas e depois de alguns dias George me ligou para dizer que a garota havia partido. Eu voltei para casa, mas estava chocada por ele ter podido fazer isso comigo. Me senti rejeitada e miserável.

Foi por essa época que Eric começou a freqüentar nossa casa. Ele e George haviam se tornado amigos próximos, escrevendo e gravando música juntos.

A reputação de Eric como guitarrista era altíssima entre os músicos. Grafites nos muros declarando que “Clapton é Deus” estavam por todo o subúrbio de Londres, e era muito excitante vê-lo tocar. Ele era maravilhoso no palco, muito sexy.

Mas quando eu o conheci, ele não se comportava como um rock star – ele era surpreendentemente tímido e reticente. Eu sabia que Eric me achava atraente e eu gostava da atenção que ele me dava.

Era difícil não se sentir lisonjeada quando eu o pegava me olhando, ou quando ele escolhia se sentar próximo a mim. Ele me elogiava pelo que eu estava vestindo e a comida que eu cozinhava, e dizia coisas que sabia que me fariam rir. Essas eram todas as coisas que George não fazia mais.






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