George & Maureen - The End

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Na primavera de 1973 nós iríamos viajar juntos nas férias. No dia anterior à nossa partida, George disse que não estava se sentindo bem e que não poderia ir. Ele acabou indo para a Espanha, supostamente para ver Salvador Dali, com a mulher de Ronnie Wood, Krissie.

Ronnie, então baixista do The Faces, e Krissie, eram nossos amigos e freqüentemente vinham passar uns dias em Friar Park. Eu estava desesperadamente machucada: outra de minhas amigas estava dormindo com George.

Quando eu o desafiei ele negou.

Ao invés de viajar com George, fui às Bahamas com minha irmã Paula, que estava lutando contra o próprio vício em heroína. Enquanto estávamos lá recebemos uma ligação de Ronnie Wood. Ele estava em turnê e disse que iria passar uns dias conosco. Ele não parecia bravo com o fato de sua mulher estar com George – ele achava engraçado eles terem ido ver Dali.

Ronnie era um homem adorável, e talvez naquele momento um pouco de diversão, risadas e um par de braços confortantes fossem o que eu precisava. A gota d’água para George e eu foi seu caso com a esposa de Ringo, Maureen. Ela era a última pessoa de quem eu esperava uma punhalada nas costas. Eu descobri através de algumas fotos que ela esteve em casa com George enquanto eu visitava minha mãe em Devon. Ele havia dado a ela um belo colar, que ela usou na minha frente.

Então eu os encontrei trancados em um quarto em Friar Park. Eu fiquei do lado de fora esmurrando a porta e gritando: “O que você está fazendo? Maureen está aí dentro, não está? Eu sei que ela está!”. George apenas ria. Depois de um tempo ele abriu a porta e disse: “Oh, ela só estava um pouco cansada, então se deitou”. Eu corri direto prá laje da casa e abaixei a bandeira com o símbolo do Om que George tinha hasteado e hasteei a bandeira de pirata no lugar. Aquilo me fez sentir muito melhor.

Maureen não estava preparada nem para ser sutil. Ela voltou ao Friar Park meia noite e eu perguntei: “Que diabos você está fazendo aqui?” “Eu vim escutar o George tocar no estúdio.” “Bem, eu vou para a cama.” “Ah, bem, eu vou pro estúdio.” Na manhã seguinte ela ainda estava lá, e eu perguntei: “Você já pensou nos seus filhos? O que você quer? Não gosto disso.”
“É complicado,” foi sua resposta.
Ringo não imaginava o que estava acontecendo até eu ligar para ele um dia e dizer: “Você já se perguntou porque sua mulher não volta para casa de noite? É porque ela está aqui!” Ele ficou furioso.

George continuava fingindo que nada estava acontecendo e me deixava sentir como se estivesse ficando paranóica. Eu me sentia rejeitada e abandonada e era terrivelmente difícil falar com George. Ele havia ficado pior no ano anterior, talvez porque Eric continuasse vindo e deixando óbvio que queria me ver. George deve ter sentido que estávamos tendo um caso, mas nunca disse nada.

Numa noite, o ator John Hurt estava conosco. Eric estava para vir também e George decidiu tirar a história a limpo com ele. John quis ser educado e sair, mas George insistiu para que ficasse. John se lembra de George descendo as escadas com duas guitarras e dois pequenos amplificadores, os deixando no chão da sala e esperando impacientemente a chegada de Eric – que estava de cara cheia, como de costume.

Assim que Eric passou pela porta, George estendeu uma guitarra e um amplificador a ele – como um cavalheiro do século XVIII oferece a espada a um rival – e por duas horas, sem uma palavra, eles duelaram. O ar estava elétrico e a música excitante. No fim das contas nada foi dito, mas o sentimento geral era de que Eric havia ganhado. Ele não havia se deixado irritar ou apelado para exercícios de escala como George havia. Mesmo bêbado, ele era imbatível na guitarra.

Toda a época foi maluca. Friar Park era um hospício. Nossas vidas eram regadas a álcool e cocaína, e assim era a vida de todos que viviam no nosso meio. Todos estávamos tão bêbados, chapados e hedonistas quanto os outros. Ninguém parecia ter objetivos, prazos ou nada pressionando suas vidas, nenhuma estrutura ou responsabilidade.

Cocaína é uma droga sedutora porque faz você se sentir eufórico e bem consigo mesmo. Ela tira suas inibições e faz até a pessoa mais tímida e insegura se sentir confiante. E nós tínhamos tanta energia – qualquer um falaria besteiras duas vezes mais e beberia duas vezes mais porque a cocaína nos fazia sentir sóbrios. George usava cocaína demais e eu acho que isso o mudou.

Maconha não era destrutiva. A maconha nos anos sessenta – uma droga muito diferente do skunk que os garotos fumam hoje – tinha a ver com paz, amor e expansão de consciência. Cocaína era diferente e eu acho que congelou as emoções de George e endureceu seu coração. Na noite de ano novo de 1973, Ringo deu uma festa em sua casa. George chegou antes de mim e, quando eu cheguei, ele disse: “Vamos nos divorciar neste ano”.

Em 1974, George contou a Ringo que estava apaixonado por sua esposa. Ringo ficou num estado lastimável e saiu dizendo: “Nada é real, nada é real”. Fiquei furiosa. Saí de mim e pintei meu cabelo de vermelho.

Em junho daquele ano, eu voltei para casa uma noite para encontrar Eric, Pete Townshend e Graham Bell, outro músico, perambulando ao redor de nossa casa. Eu fiz uma janta, que nós comemos entre risos forçados, e então Eric me levou para fora e me pediu novamente para deixar George. Nós ficamos sozinhos e juntos pelo que pareceram horas, e ele estava tão passional, desesperado e persuasivo que eu me senti inquieta, perdida e confusa.

Eu tinha de fazer uma escolha. Eu iria com Eric, que havia escrito a música mais linda para mim, que havia ido ao inferno e voltado nestes últimos três anos por minha causa e que havia me balançado com seus protestos de amor? Ou eu escolheria George, meu marido, que eu havia amado mas que estava sendo frio e indiferente em relação a mim por tanto tempo que eu mal podia me lembrar da última vez que ele havia me mostrado qualquer afeto, ou dito que me amava?

Naquela noite, Eric partiu e foi quase que diretamente para os Estados Unidos em turnê. No dia 3 de julho eu contei a George que o estava deixando. Era tarde da noite e eu entrei no estúdio explicando que estávamos levando uma vida ridícula e odiosa, e que eu estava indo para os Estados Unidos. Quando ele foi para a cama, eu podia sentir sua tristeza ao deitar ao meu lado. “Não se vá”, ele disse.

Metade de mim queria ficar e acreditar nele quando ele disse que ia melhorar, mas eu estava decidida.

No dia seguinte, com grande tristeza no coração, eu empacotei algumas coisas, disse um adeus choroso ao Friar Park e voei para a América. O que eu havia sentido por George foi um grande e profundo amor. O que Eric e eu tínhamos era uma paixão poderosa e intoxicante.

Era tão intensa, tão urgente, tão avassaladora que eu quase perdi o controle. Ao fazer a decisão de sair do meu casamento, eu sabia que estaria com ele, iria a todos os lugares com ele, faria tudo o que ele fizesse, ficaria com ele de todo o jeito. O que, naquela turnê nos Estados Unidos em 1974, significava beber.

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