Two Loves

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Na hora das refeições, havia tantas outras pessoas na mesa que não era possível ter qualquer conversa. E mesmo que dividíssemos uma cama, ele geralmente estava em seu estúdio ou meditando metade da noite em seu quarto octagonal no topo da casa. Este cômodo havia virado seu santuário. Eu me sentia mais e mais alienada. Eu não me sentia incluída nos pensamentos ou nos planos de George. Eu não era mais sua parceira em nada. Ele estava cercado de “homens-sim”. Quando eu o questionava disso, ele dizia: “Bem, eu odiaria estar cercado de homens-não”.

Eu ouvi falar de Eric novamente em janeiro de 1971, dois meses depois do encontro em que ele prometeu usar heroína. Ele me escreveu de uma cabana no País de Gales.
Na primeira página de uma cópia de “Of Mice And Man”, de Steinbeck, ele havia escrito: “querida layla, por nada mais que os prazeres do passado eu sacrificaria minha família, meu deus, e minha própria existência, e ainda assim você não se mexeria. eu estou no limite da minha mente, eu não posso voltar e não há nada no futuro (além de você) que pode me atrair para além de hoje. eu ouvi o vento, eu observei o aglomerado escuro de nuvens, eu senti a terra sob mim para um sinal, um gesto, mas havia apenas o silêncio. porque você hesita, sou um mau amante, sou feio, sou muito fraco, muito forte, você sabe porque? se você me quer, me leve, sou seu... se você não me quiser, por favor quebre este feitiço que me amaldiçoa. enjaular um animal é um pecado, domá-lo é divino. meu amor é seu.”

A carta estava assinada com um coração. Esta nota curta me despertou sentimentos que demorei dois meses para superar. Eu escrevi para ele e disse o que ele queria escutar. “Como você está? Espero que o ar galês esteja refrescando sua mente e aquecendo seu coração. Oh, eu queria tanto passar um tempo com você aí... seria lindo estarmos juntos, apenas por um tempo.” “Se as estrelas mudassem repentinamente seu curso e eu puder ir para Gales, enviarei um telegrama. Por favor, se cuide. Luas cheias de amor, L”

Assim que postei a carta, tive dúvidas terríveis e imediatamente enviei um cartão postal. Ele simplesmete dizia: “Olá, por favor desculpe e esqueça minha sugestão desmiolada. Com amor, L”. Sua resposta veio na contracapa de um livro de baladas escocesas e estava escrita em tinta verde.

“foi muito significante ter recebido ambas as cartas na mesma manhã. foi como observar um bumerangue em pleno vôo”.

Ele disse que entendia minha situação e não sabia o que sugerir.

“eu amo você, mesmo você sendo medrosa”.

Nada saiu das nossas fantasias e eu não o vi ou falei com ele novamente até agosto de 1971. George havia persuadido Eric a ir para Hurtwood Edge para tocar em um evento filantrópico, “Concert For Bangladesh”, em Nova York.

Eric estava em uma fase péssima, mas George achava que se o levasse ao palco, mesmo sob o efeito de drogas, seu vício viraria um “segredo aberto” e talvez ele abrisse a porta para seus amigos um pouco, e eles poderiam ajudar. Todo mundo sabia que se Eric tivesse a chance de terminar duas performances – uma de tarde e outra de noite – ele necessitaria de um suplemento de heroína assim que chegasse em Nova York. Eu me lembro de conversas sobre encontrar uma muito boa, chamada Elefante Branco, para ele. Tinha que ser muito pura porque ele nunca injetava – ele morria de medo de agulhas – mas cheirava, como se fosse cocaína, em uma colher de ouro que ele usava no pescoço. Alice encontrou a heroína – ela sempre conseguia. Enquanto eles moravam em Hurtwood Edge, ela foi para Londres para fazer o trabalho sórdido de pegar suplementos enquanto Eric ficava em casa. Se os suplementos começassem a acabar, ela daria a parte dela e pegaria alguma outra coisa. Ela estava bebendo pelo menos duas garrafas de vodka por dia para que ele pudesse usar a heroína. Naquele dia ele e eu mal nos falamos. Ele estava rodeado de pessoas, e no palco, ele estava bem desligado; eu não tenho certeza se ele me viu. Foi um choque pensar que ele havia feito aquilo para ele mesmo por minha causa. No começou eu me senti culpada, mas depois meus sentimentos se inverteram violentamente e eu fiquei furiosa por ele ter me pedido para escolher entre ele e o meu marido. Quando o show acabou, Eric e Alice voltaram para os horrores de sua prisão auto-imposta em Hurtwood Edge. Pete Townshend do The Who era o único amigo que se recusava a aceitar “não” como resposta e ia para a casa com tanta freqüência que eventualmente Eric teria que vê-lo.

Pete o persuadiu a tocar em outro show beneficente, desta vez em Finsbury Park, na zona norte de Londres. O show em 1973, divulgado como a volta de Eric, foi um triunfo. Eu estava sentada na platéia com George, Ringo, Elton John, Joe Cocker e Jimmy Page. Eric não parecia bem – sua dieta de viciado de junk food e chocolate fizeram com que ele engordasse.

Quando eu ouvi as primeiras notas de “Layla”, a primeira música da noite, e depois a letra, meu sangue gelou. Ele podia ter se destruído nos últimos três anos, mas ele não havia esquecido como tocar um coração com sua guitarra. Toda a emoção que eu havia sentido por ele quando ele desapareceu da minha vida ferveu dentro de mim.

O show fez Eric lembrar que havia uma alternativa para sua vida de viciado e ele concordou em aceitar o tratamento. Ele se livrou da heroína – e foi direto para o álcool. Ele se tornou um visitante regular de Friar Park e expunha seu amor por mim com vigor crescente. Cartas chegavam quase diariamente, e nelas ele pedia para que eu deixasse George e fosse com ele.

Enquanto isso, as coisas entre George e eu estavam indo de mal a pior. Eu não sabia quais eram seus sentimentos em relação ao Eric quando ele voltou em nossas vidas. Nós estávamos tão chapados na noite da festa de Robert Stigwood que ele poderia ter esquecido sobre o confronto na névoa, mas eu acho que não. George nunca falou sobre isso, mas depois daquela noite eu acho que ele sentiu que podia ser tão descarado quanto quisesse ao buscar outras mulheres.

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