Caro leitor inocente Pt. 2

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...
Então, a partir daquele dia, minhas noites estavam condenadas à decadência.
Chorava todos os dias, porque sempre havia um motivo a mais para fazê-lo desistir. E eu, na maioria das vezes, não podia ajudar. Não porque eu não queria e sim porque não podia MESMO ajudar. Eu era só eu, com palavras amáveis e calmas (ou, nesse caso, desesperadamente rogantes) e ele era um garoto com o coração mais partido e perdido que areia na praia.
  Em uma semana, ele me pediu em namoro. O garoto divisível por 3 me pediu em namoro. E eu aceitei, sem delongas... afinal, eu, uma pobre Julieta apaixonada, estava cega daquele amor paixão.
  Passaram-se pouco tempo até que eu própria tivesse meus problemas. E, como ele havia feito comigo, o fiz de porto-seguro. E que tragédia... 15 comparava meus problemas com os dele e fazia assim sentir-me uma idiota arrogante.
  Só que, embora os problemas dele fossem mais graves que os meus, também me machucavam. E assim somavam-se mais problemas para minhas costas jovens.
15 nunca foi um fardo. Não para mim.
  Eu sabia que ele estava me matando, mas sem ele eu também já estaria condenada. 15 foi o que muitos outros não conseguiram ser. 15 era (ou é) o único garoto que imaginava ao meu lado dali para frente.
  A medida que o tempo passava, mais acabada eu ficava. Mais cansada, impaciente e triste. Porque me culpava por não fazê-lo se sentir plenamente bem, como ele me fazia (ou havia me feito...).
  15 ligava-me em horas diferentes do dia apenas para cantar para mim. Apenas para dizer que me amava. Apenas para sentir meu sorriso do outro lado do telefone.
  Em uma dessas ligações, eu havia deixado escapar que amava flores. Ele então disse que fazia flores com folhas de bananeira e eu, brincando, disse que queria uma. O telefone ficou em silêncio por um minuto e quando iria desligar, 15 voltou e me disse, ofegante, que havia pego algumas folhas de bananeira no quintal do seu vizinho e que faria agora mesmo uma flor para mim.
  E eram desses momentos que eu lembrava quando as coisas estavam difíceis. Do quanto aquele garoto havia me feito sentir a pessoa mais feliz de toda a minha história. Porque era só isso que eu queria. Não esperava ser a garota mais feliz do mundo, mas sim do tempo em que vivi.
  Só que, como todos sabemos, nada dura para sempre.
  Um dia eu havia desistido de passar noites e às vezes até dias chorando por um amor que não se amava, além de sempre estar sozinha com meus problemas. Não ter a quem falar estava se tornando um fardo, não 15. Além disso, ele detestava meu ciúmes obsessivo, isso porque eu também não me amava o suficiente para achar que era digna de alguém como 15 era.
  Então terminamos.
  Terminamos e eu me via assim, tão vazia quanto Marte. Tão vazia quanto você, caro leitor, pode estar.
   Então eu me olhava no espelho e forçava-me a esquecer o jovem-velho fantasma do 15 ao meu lado.
   Havia então começado a Era Depois de 15.
   Ou não?
 
     De sua amiga,
      11.

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