Drag Me Down

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I've got a fire for a heart, I'm not scared of the dark.

A segunda hora do rush já havia passado e se não fosse por eles dois, o vagão estaria vazio. Olivia estava sentada numa fileira de bancos, as pernas esticadas como se estivesse em casa e o violão em seu colo, tocando repetidamente os três acordes com os quais ela havia cismado há quase duas semanas inteiras. Ela não conseguia prosseguir dali, não havia outros acordes que combinassem ou uma letra que lhe desse impulso, então apenas continuava a repetir aqueles três na esperança de que a inspiração viesse. Rudy, por sua vez, estava sentado no chão com a testa franzida, a cabeça apoiada na perna da menina, sem mais aguentar aquela melodia.

-Já está na hora de parar, você não acha? -O garoto resmungou no alto de sua impaciência.

Olivia riu e mordeu o lábio, pensativa, sem se dar conta de que Rudy estava mesmo de saco cheio.

-Eu não consigo sair daqui. -Ela repetiu os três acordes.- É sério, empaquei. -Ela tocou mais uma vez, agora lentamente.- Duas semanas e nada.

-Se você deixar de lado um pouco, a inspiração vai acabar vindo.

-Acho que esse é o problema, eu não consigo deixar de lado, só consigo pensar que preciso fazer essa música.

-Não se pode apressar a arte, você sabe disso, Oli. -Ele disse num sorriso zombeteiro, virando um pouco a cabeça para poder encará-la.- Você não pode empurrar a música pra fora, é ela que escolhe quando vai sair de você, no tempo que ela quiser.

-Não é bem assim que os profissionais fazem.

-E nós somos profissionais desde quando? -Quando ela bufou e soltou uma pesada lufada de ar, foi que ele percebeu que ela falava muito sério, que estava verdadeiramente inquieta.- O que tem de tão importante sobre essa música que não pode simplesmente esperar o seu flow criativo?

-Eu sou uma máquina de fazer música e agora que preciso de uma, eu simplesmente não consigo.

-Parte pra outra. Tem que ser especificamente essa? Abre a mente, cara.

-Tem que ser essa.

-Por quê? -Ele perguntou, já bastante impaciente.

Uma sugestão de sorriso sorrateiro começou a tomar os lábios da garota e ele cerrou os olhos em curiosidade, mas disse nada, esperou que ela falasse:

-Você promete que não vai rir se eu te contar?

-Não. -Rudy respondeu num sorriso debochado e ela revirou os olhos, ignorando-o.

-Eu estava morrendo de tédio num dia desses na casa da Maven, e eu estava tocando violão, tirando umas coisas sem sentido enquanto ela estudava, daí esses acordes saíram e ela gostou. -Olivia segurou a riso lembrando do momento.- Ela parou o esboço dela do nada, como se tivesse tomado um susto, e falou: "gostei, desse eu gostei, você devia fazer uma música".

Rudy negou com a cabeça num ar de riso sem humor, bastante sarcástico, virando-se totalmente em seu lugar para poder encarar a amiga, que agora segurava um sorriso bobo:

-Por que diabos será que já sabia que isso tinha a ver com Maven antes mesmo de você falar?

-O que? -Ela perguntou sem entender.

-Tudo que você tem feito ultimamente tem essa garota no meio, tem que ter um negócio dela agora. Olivia, ou você está se fazendo muito ou você é muito lerda mesmo pra não ter se ligado ainda.

-Migo, eu não tô entendendo nada.

-Olivia, acorda pra vida. Você faz absolutamente tudo com ela, se dependesse de você, passariam o dia inteiro juntas. Você sempre está pensando nela, ou em algo que pode fazer com ela ou pra ela. Tudo é Maven pra você agora... O jeito que você fala dela. O jeito que você sorri quando fala dela!

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