Now you know me, for your eyes only
Apesar do momento sazonal ser completamente impróprio para uma noite fria como aquela, Olivia se sentia gelada até os ossos. A única janela do apartamento de Maven já estava fechada, ela estava coberta até o pescoço, vestida de moletom e meias grossas nos pés e mesmo assim sentia frio. Tudo que ela queria era uma lareira, mas não abdicaria de uma noite junto da professora de grafite para ficar se aquecendo sozinha em casa.
-Nem está tão frio assim, você deve estar com febre, sabia? -Maven disse num tom debochado enquanto despejava a panela de pipoca numa grande vasilha.
A jovem mulher ruiva vestia um short e um suéter de lã, mas caminhava descalça pelo linóleo gelado do apartamento, como se nem se incomodasse, fazendo com que a garota contorcesse a expressão em horror.
-Não está tão frio?! Maven, tá quase nevando!
-Nós estamos no outono. -Ela respondeu num revirar de olhos e a garota fechou a expressão numa carranca, acomodando-se sentada na cama toda envolta por um enrolado de cobertas.
Maven riu da cena e foi pra cama, segurando a vasilha de pipoca e se acomodando do lado da garota. Com muita relutância, Olivia se desvencilhou de todo aquele pano para pegar a vasilha para si, fazendo com que a ruiva risse mais ainda e puxasse um pouco de suas cobertas, acomodando-se tão juntinho de si que não havia nenhum espaço entre elas. A garota a empurrou com o quadril apenas para implicar e Maven virou o rosto enchendo sua bochecha e seu pescoço de beijos babados, de forma que Olivia não pôde aguentar senão começar a rir.
Maven nunca disse o "eu te amo" de volta, mas as coisas haviam mudado um pouco desde aquele dia. Não em Olivia, mas nela. A garota reparou como a cada dia ela se tornou mais afetuosa, demonstrando mais carinho e atenção, passou a ser mais cuidadosa e zelosa, começou a fazer coisas pequenas, como surpresas aqui e ali, e mandar-lhe flores. A ruiva estava até aprendendo violão para agradá-la. Olivia não sabia de fato o que aquilo significava, mas gostava muito e lhe era bastante suficiente.
-Você já decidiu que filme vamos ver? -Maven perguntou ao puxar o notebook que estava no criado mudo ao lado da cama.
-Detona Ralph! -Respondeu sem pestanejar, com um largo sorriso no rosto sem se afetar pelo resmungo contrariado que veio da ruiva.
-Por que a gente não vê um filme um filme direito?
-Detona Ralph é muito direito, não tem nada de indecente não. -Debochou e a garota grunhiu mais uma vez com um longo revirar de olhos.
-É filme de criança!
-E daí?
-A gente já viu três vezes!
-Por que você tá reclamando se foi você que me pediu pra decidir? Arque com as consequências de suas escolhas.
-Você pode, por favor, escolher outro? -Maven pediu num tom inteiramente sarcástico e a garota riu em deboche.
-Ok então. Hércules.
-Eu não aguento mais você. É oficial. -A ruiva declarou respirando fundo e procurou o filme na barra de pesquisa do site com muita má vontade.
Olivia só conseguia sorrir.
Elas assistiram o filme completamente agarradas uma na outra. O edredom cobria as duas e por baixo dele, Olivia se encolhia contra o corpo de Maven, sonolenta com o rosto deitado em seu peito, as pernas entrelaçadas e uma com os braços em volta da outra. A ruiva também estava prestes a pegar no sono, se não fosse seu celular tocando alto no criado mudo.
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Made in the A.M.
Non-FictionOlivia John é só uma garota, uma jovem adulta no seu ano de vestibular enfrentando um turbilhão de conflitos internos ao mesmo tempo em que se desdobra em mil para conseguir viver fazendo o que ama: música. Ela não é como Maven, uma mulher independe...