Capítulo 2 ❁ Obrigado

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Capítulo revisado em 31/01/2024.

#BlueDay 💙

☾ Meu chá esfriou, pergunto-me por que me levantei da cama. A chuva matinal embaça a minha janela e não consigo ver nada. E mesmo que pudesse, tudo estaria cinza. Mas seu retrato na minha parede me faz lembrar que não é tão ruim. Não é tão ruim. ☽

― "Thank You", Dido

Escola.

Um dos piores locais que o ser humano já criou e que a maioria também é obrigada a frequentar. Reunir crianças, adolescentes e adultos num só ambiente é potencialmente problemático por vários fatores.

O primeiro deles é que, como eu já havia dito antes, todos veem crianças como seres ingênuos, ignorantes, destrutíveis e indefesos, e não é como se não fossem, mas quando chegamos à adolescência, nosso mundo acaba se tornando completamente preto e branco, não enxergamos nada de bom nisso, só nos achamos idiotas por termos tido todas aquelas fantasias e pensamentos coloridos quando éramos menores, acho que é por isso que os adolescentes mais frustrados acabam se tornando "valentões" e começam a se aproveitar dos menores, eles simplesmente não conseguiram aceitar o jeito que a vida realmente é e sentem raiva de uma criança que ainda tem uma visão muito otimista de tudo.

O segundo fator é que a convivência social é uma coisa muito difícil; onde quer que você olhe, há pessoas para te criticar e julgar por cada ação, e isso fica muito mais visível na escola.

Tudo acaba nos incomodando ainda mais porque, diferente de andar na rua ― onde você vê pessoas diferentes todos os dias ― , na escola você sempre encontrará as mesmas pessoas do dia anterior, é pior porque você já sabe qual é o pensamento que tal pessoa tem sobre você, mesmo que ela não lhe conheça realmente. É quando as paranoias e as inseguranças começam, essas são as piores sensações que uma pessoa pode carregar dentro de si, principalmente quando ela ainda não é muito experiente em lidar consigo mesma.

O terceiro fator é que, mesmo que você seja a pessoa menos importante na vida, há seres humanos maus em todo lugar e você encontrará muitos deles na escola. Por mais que eu nunca tenha sofrido muito na mão de ninguém ― porque eu estava muito além de um aluno "não importante", eu quase não existia ―, já havia presenciado situações que realmente me fizeram sentir muita raiva, desde maldades em prol de preconceitos em geral, até a em prol da própria definição da palavra.

Então, mesmo que aprender a conviver em sociedade fosse algo importante e a escola fosse o mais indicado para que isso fosse ensinado, eu achava tudo uma grande perda de tempo. Eu não era um exemplo de pessoa mais de bem com a vida ou bem-sucedida em questões escolares, mas me mantinha na média por ter reprovado um ano escolar, e tinha uma amizade saudável com mais de duas pessoas.

E eu tinha me acostumado com essa vida. Não me sentia realizado ou extremamente feliz, mas eu sabia que o que eu tinha era muito mais do que uma grande parte dos garotos da minha idade poderiam ter. Tinha um lugar para chamar de casa, uma cama à minha espera, comida e uma mãe ― ausente, mas que não ficava me lembrando a cada cinco minutos que eu deveria escolher o que cursar na faculdade ou procurar um emprego.

O fato é que eu me sentia eternamente preso numa música da Dido, era tudo tão tranquilo que me dava sono.

Era sempre a mesma coisa todos os dias; quando chegava em casa, a primeira coisa que eu sempre notava era o quanto ela parecia vazia, como se ninguém realmente morasse ali e só os fatos de estar mobiliada, com os armários da cozinha e geladeira abastecidos, negassem isso.

Dezessete Mil Sentidos para Park Jimin [jikook]Onde histórias criam vida. Descubra agora