A minha vida voltou "quase" ao normal. Depois de tanto chorar e fazer promessas e mais promessas, resolvi segui-las dentro da normalidade costumeira.
O trabalho ajudava bastante, mantinha a cabeça ocupada. Em casa, como sempre, as crianças me davam trabalho e, até certo ponto, uma excelente distração. No casamento, aí... já era outra história. Estar presente, de corpo e alma, demandava um rigor severo. Com o mínimo de esforço, meu último pensamento antes de adormecer e o primeiro da manhã voltavam-se para o Gustavo. Tirá-lo da mente tornou-se, independentemente do meu empenho, uma tarefa hercúlea.
O marido percebeu o meu afastamento e questionou, mas eu sempre encontrava uma mentira para contar. Como a gente aprende a mentir, né? Às vezes, o cansaço era o vilão; no outro dia, problemas no serviço ou a desobediência das crianças.
Quero que vocês me entendam, o problema não era o meu casamento, mas sim as mudanças ocorridas em meu coração. A covardia me impedia de admitir a gravidade da situação. Tentei manter as aparências, saíamos para jantar, passeávamos como um casal e até chegamos a ter um final de semana romântico, longe dos nossos filhos. Se a viagem tivesse acontecido um mês antes daquele fatídico sábado, eu estaria nas nuvens. Fui tratada como uma verdadeira rainha e, de alguma forma, meu marido parecia compreender a minha necessidade. Em casa, sempre que o trabalho permitia, chegava mais cedo para ajudar nas tarefas. Até mesmo no meu serviço, fui surpreendida pela sua presença, em alguns dias, na hora do almoço. Nessas ocasiões, suas justificativas caíam na mesma resposta: queria te fazer uma surpresa... Será?
Durante aquele nosso final de semana, ele foi excepcional. Sua atenção e presença serpenteavam minha culpa. Participou-me de todos os seus problemas no escritório e das suas preocupações com o futuro dos nossos filhos. Comentou a satisfação em que vivia, tanto no serviço quanto em casa. Confessou seu amor por mim e agradeceu por ter me conhecido.
A cada palavra dita, tentava me convencer de que caminhava na direção correta. Como poderia ser diferente? Aquele homem lindo, ali na minha frente, esboçava juras de amor. O que mais poderia querer? Ah! Não falei sobre a beleza dele, né? O meu marido era maravilhoso. Chamava a atenção e conquistava plateias femininas quando trajava um dos seus infinitos ternos. Alto, cabelo loiro que combinava com seus olhos e um corpo fantástico. Sua boa genética esnobava a malhação e, antes de tudo acontecer, nunca virei meu rosto em busca de outra beleza além dele. E por que mudou? Não sabia. Em alguns momentos, ansiei pela fuga e expurgar o grito preso à garganta; em outros, pedi, ou melhor, supliquei a Deus para que arrancasse Gustavo do meu coração. Devolvendo assim, minha vida calma e segura. No entanto, fui ignorada. Gustavo permaneceu exatamente onde quis e, infelizmente, impunha-se em horas erradas.
Esquivar-me do ato sexual também requeria muita força de vontade. No entanto, dores de cabeça, cansaço... ficaram perdidas diante da máscara que usava. Fui ao fundo do poço quando, em uma dessas vezes, alcancei o orgasmo imaginando ser beijada e acariciada por Gustavo. Eu sei, não fique brava comigo, okay? Não fora possível evitar. Tomada por um nojo de mim mesma, pela mulher que me tornei, lágrimas afundavam as minhas feridas enquanto me escondia no banheiro.
Meu marido não merecia, pois, mesmo que você não acredite, eu o amava. Existia amor, mas não a paixão. Meu coração não batia mais descompassado por ele. Minha pulsação corria tranquila quando eu o via e, as tão famosas borboletas haviam desaparecido. E só me dei conta da grandiosidade dos meus sentimentos pelo Gustavo, no dia em que, antes de sair para o almoço, meu telefone tocou.
— Escritório do senhor Antônio, boa tarde.
— Fabiana? — Nunca em toda minha vida fiquei sem chão. Aquela voz... apoiei-me na mesa quando as pernas falharam. Percebi que todo o esforço daqueles dias, não valeu de absolutamente nada. Estava ferrada.
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Escolhas: com cenas bônus (DEGUSTAÇÃO)
RomanceEm um sábado como outro qualquer, Fabiana se vê diante de uma situação que a faz questionar sobre a sua tão perfeita vida. O destino exige uma escolha difícil: lutar contra um novo sentimento ou se entregar a ele? Por que estava sendo testada daquel...