Ele me levou a uma cafeteria próxima ao estúdio. Um local simples, porém, aconchegante com mesas na parte da frente e, nos fundos, alguns sofás. No canto direito, bem ao lado do balcão, revistas e livros foram disponibilizados para os clientes. As paredes brancas com detalhes em creme serviam de apoio para vários quadros com figuras de sucos, doces e lanches.
O ambiente estava praticamente vazio e os poucos frequentadores se misturavam com o aroma do café, com o tilintar de louças sendo lavadas e as vozes sussurradas da TV. Sentamo-nos na última mesa, um de frente ao outro. Gustavo pediu um suco com pão de queijo e eu pedi o meu básico, café puro. Não tinha fome e, graças ao meu nervosismo, comer era a última coisa que conseguiria fazer.
Outra vez a conversa transcorreu de forma natural. Contou-me um pouco mais sobre a sua profissão, a época da faculdade e sobre o filho, de quem tinha muito orgulho. Ele o descrevia como um menino muito educado, carinhoso e bastante esperto. Falou-me ainda que morava com a mãe e o via a cada quinze dias, mas que sentia saudade dele o tempo todo.
Cheguei a questionar o porquê de não o visitar com mais frequência, no entanto, sua resposta se limitou a uma simples frase: "é complicado". Depois, peguei a deixa e comecei a contar sobre as minhas crianças. A felicidade de ser mãe. Discorri a respeito dos meus irmãos e dos meus pais. Cheguei até a confessar que me casei grávida e de como fora um susto para minha família. Entretanto, em nenhum momento, o assunto casamento entrou na conversa. Gustavo também preferiu ignorar o tema.
Disse-me que era filho único e que sentia inveja por eu ter uma família grande. Sempre pediu à sua mãe um irmão, mas ela não quis. Gustavo revelou-me que ficou casado por três anos e quando se separou, Mateus ainda era um bebê de um ano. Comentou sobre o falecimento dos seus pais, que morava sozinho e, às vezes, frequentava a academia quando tinha tempo e vontade. Ao se levantar para ir ao banheiro, claro dei uma bela e discreta olhada. Não possuía porte atlético, mas tudo parecia no lugar.
Ficamos no bate-papo por quase duas horas, mas ignoramos o assunto, ou melhor, o motivo que nos levou àquele café. Estava com receio de me abrir ou talvez, começar a fazer as muitas perguntas que nos rondavam e acabar com o momento. Para quem nos olhasse, veria apenas dois amigos conversando, entretanto, nosso envolvimento ia além, estávamos nos conectando de alguma forma.
Durante aquelas horas esqueci da vida e deixei-me levar, ser somente a" Fabiana" de antes, sem responsabilidades e compromissos.
— Preciso ir. — Não queria, mas necessitava ir embora assim que conferi o relógio.
— Tudo bem, também tenho que voltar. Tenho mais um cliente para atender. — Se levantou e foi ao caixa pagar a conta.
— Nós ficamos aqui bastante tempo e se alguém te procurou? — falei, andando ao seu lado, tentando, em vão, lhe entregar o dinheiro para pagar o meu café.
— Ninguém iria me procurar, já tinha separado esse horário para a gente. — Deu um sorriso presunçoso.
— E se eu não aceitasse o convite?
— Era um risco que estava disposto a correr.
Saímos do café e ele me acompanhou até o carro. Fizemos o pequeno percurso em silêncio. Mãos não foram dadas, nem nos entreolhamos e, confesso, fiquei um pouco decepcionada, mas sabia que era o melhor. Andávamos por um terreno perigoso.
— Bom, chegamos. — Disfarcei abrindo a bolsa para pegar a chave. Não queria que visse o quanto tremia.
— Fabi... — Colocou a mão sobre o meu ombro me virando para ele. Nossos olhares travados pelo medo e carregados de desejo. Havia tanto naquele matiz negro, uma miríade de emoções. — Qualquer problema com a tatuagem é só me ligar.
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Escolhas: com cenas bônus (DEGUSTAÇÃO)
RomanceEm um sábado como outro qualquer, Fabiana se vê diante de uma situação que a faz questionar sobre a sua tão perfeita vida. O destino exige uma escolha difícil: lutar contra um novo sentimento ou se entregar a ele? Por que estava sendo testada daquel...