Capítulo 11

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Fábio. Esse era o nome do meu marido, o pai dos meus filhos e do meu destino. Fábio, Fábio, Fábio. Durante muito tempo, não consegui pronunciá-lo sem que a culpa acompanhasse as palavras.

Parado na minha frente, indefeso e inseguro, seus lábios revelavam sua doença. Minha mente misturava as informações do presente com as imagens do nosso passado. Um filme antigo mostrava nossos melhores momentos: o casamento, as crianças, o futuro e tudo aquilo que parecia suspenso, ou melhor, retirado de nossas vidas.

Fábio repetia as palavras do médico, porém, as questões que se formavam em minha mente me impediam de assimilar o relato. Por quê? Ele sairia ileso daquela doença? E os nossos filhos? Eles precisavam de um pai, precisavam do Fábio. A impotência pesava em meu estômago, assim com a raiva, o nojo, o arrependimento e, por fim, a vergonha. Compreendia que a doença dele não tinha qualquer relação com os meus erros. Contudo, de uma maneira meio torpe, permiti que a culpa caísse sobre meus ombros. Fábio fora castigado pelas minhas mãos, pela luxúria que me levou a traí-lo.

Como pude ser tão egoísta e não perceber os sinais? Eu sabia e você também. Viver a minha fantasia havia me levado a um caminho sem volta. De repente, uma certeza tomou conta do meu corpo: Gustavo era a minha fantasia e Fábio, a realidade. Uma realidade que estava à frente, me pedindo, ou melhor, implorando por apoio, amor e força. E eu estava pronta para ajudá-lo.

Fábio contou que a sua doença PPNET, mais conhecida como Tumor de Askin, encontrava-se alojado na região central do seu tórax. O primeiro sintoma fora uma dor forte no peito durante a atividade física. O cardiologista sugeriu uma bateria de exames, de rotina. Ambos desacreditavam na gravidade, mas se enganaram e, desde o perturbador diagnóstico, ele arranjava uma maneira de me contar. Questionei sobre outras opiniões médicas e ele disse, para minha surpresa, que a sua última viagem não fora a trabalho, mas, sim, uma visita a um renomado hospital do câncer. Não consegui evitar a vergonha que rastejava sorrateira sobre minha pele e me arranhava com fervor, enquanto eu me banhava na luxúria, ele encontrava uma maneira de ficar vivo. Discorrendo sobre o grau avançado da doença em conjunto com a falta de apetite, a culpa me tomava por completo.

À medida em que as palavras eram pronunciadas, eu o olhava com mais atenção. Diante da minha cegueira, ignorei os sintomas óbvios: a magreza, o semblante abatido e os ombros rendidos. Perguntei qual seria o próximo passo e ele me disse que faria quimioterapia para diminuir as células cancerígenas e, após o término daquele tratamento, uma cirurgia para retirar o restante do câncer. Câncer. Câncer. Sabe o que significa essa palavra no dicionário? "Nome genético dado a tumores malignos." Sabe qual a definição dela para mim? Dor, saudade e privação de vida.

Na hora de mencionar as pequenas chances de cura, sua voz se perdeu. Ele tomou um gole de água como se forçasse o bolo de pânico parado em sua garganta se diluir.

— Eu vou lutar até o fim, Fabi. Por mim, pelas crianças e pelo nosso amor. — Fábio uniu as nossas mãos e permiti que as lágrimas banhassem a minha face.

De maneira irracional, ele me pediu desculpas pelo seu comportamento introspectivo, alegando a necessidade de ficar sozinho para pensar sobre a vida e a falta de coragem para confessar a verdade. Naquela hora, tive raiva dele. Se tivesse contado antes, talvez algumas ações ficassem relegadas à imaginação. Porém, suas palavras cimentavam o tamanho do amor que cingia a nossa união: "não queria te deixar triste, Fabi, mas sem você, tenho certeza de que não conseguirei vencer essa batalha".

Durante algum tempo, choramos baixinho um de frente ao outro, perdidos em nossos pensamentos, ele em como sair vivo e eu pedindo perdão a Deus.

— Nós precisamos contar para as crianças. Só não sei como fazer, Fabi. — Seu rosto era uma mistura de dor e tristeza.

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⏰ Última atualização: Feb 28, 2022 ⏰

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