Capítulo 10

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Cheguei à casa de Rita com a sensação de ter dentro do peito o brilho de todas as estrelas. Lógico que minha cunhada percebeu a diferença, afinal elas não pareciam nada sutis. O sorriso esfuziante, o caminhar leve, os suspiros perdidos... Deixei a minha resposta seguir dentro da simplicidade que o momento oferecia: "estou bem". Seu olhar questionador era um prelúdio do que viria a seguir, contudo, naquela noite, não havia réplicas a serem dadas. Sempre existiria o dia seguinte.

A agitação dos meus filhos não atrapalhava a minha felicidade. Seus gritos, as risadas exageradas, as brigas costumeiras entre os três. No entanto, a Nicole foi a única que realmente prestou atenção em mim, me perguntou o motivo da minha alegria. Engraçado como as mulheres – até mesmo as inocentes – são sensíveis. Outra vez, a resposta veio curta e objetiva: "a festa foi ótima"! Verdades baseadas em mentiras que, durante um período, ofuscaram os meus temores e a culpa.

Durante o mês seguinte, o tempo que pedi ao Gustavo até conseguir a coragem para contar a todos, eu fui feliz e egoísta. E lembrar daquela época deixava um rastro de vergonha na minha pele. Em minha mente, a separação seria apenas uma questão de tempo para buscar um jeito de amenizar os sintomas da revelação ou quem sabe, encontrar o momento ideal para dizer o que precisava ser anunciado.

Confessar à minha família passou a ser tema de debate em nossas conversas. Eu buscava por subterfúgios, ao passo que Gustavo exibia determinação.

— Você acha que eu não seria capaz de falar com sua família em seu nome? — Seus olhos exibiam uma força, que até então, eu nunca havia presenciado. Engoli a resposta, pois não queria antecipar os acontecimentos.

Não tinha dúvidas sobre os meus sentimentos ou sobre a decisão que tomei, no entanto, procurava por alternativas que não acarretassem tanto sofrimento ao meu marido. Pensei em revelar uma meia-verdade, do tipo eu queria a separação, porque acabou o amor. Embora, aquilo fosse horrível de se dizer e se ouvir. Pensei em deixar o nome Gustavo surgir com o tempo, quando as feridas estivessem curadas. Mas, no fundo, sabia que as dilacerações seriam inevitáveis. Gustavo não concordava com a ideia, dizendo: "se seu marido nos vir juntos, logo perceberá que mentiu quando disse que não havia ninguém. Esqueceu que ele me conhece?" E, mais uma vez, ele tinha razão.

Meu marido merecia a minha honestidade, afinal de contas, foram onze anos de casamento e três filhos. Entretanto, feliz ou infelizmente, a vida dava voltas e posicionava os obstáculos nos lugares certos. Será que durante o meu caminho me desviei ou optei pelo errado? Hoje, depois de tanto tempo, ainda mantenho a certeza de que fiz a escolha correta, que precisava viver aquele momento, aquele amor.

Não surgiram mais viagens para o meu marido, consequentemente, eu e o Gustavo não tivemos outra oportunidade de ficar juntos, da maneira como nossos corpos ansiavam. Nos restaram somente os almoços, marcados quase todos os dias.

Durante aquele tempo, vivíamos em nosso mundo particular, com muitos beijos roubados no caminho, carinhos discretos por baixo da mesa e mensagens ao longo do dia. Gustavo me cobrava, sempre que o assunto surgia, sobre a tal confissão, alertando-me que o tempo corria contra o nosso relacionamento. "Quanto mais você demorar, maior será o dano para sua família", essas foram suas palavras, mas sempre repetia a mesma desculpa, "ainda não tive a chance".

Na verdade, morria de medo e, talvez, se não fosse pela insistência dele, viveria aquele amor em segredo. Não vou mentir ao dizer que não tive oportunidade, porque elas existiram. Contudo, algo sempre me travava, como se o destino estivesse me impedindo de seguir a minha escolha. Ao mesmo tempo me perguntava, se não era para ser, por que Gustavo atravessou o meu caminho? Sabe por quê? Eu sei. Só não posso te contar ainda, mas chegarei lá.

Escolhas: com cenas bônus (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora