Capítulo 17 - Sinal verde ❤

464 82 21
                                    

Anya.

Aquela figura masculina na minha frente era a única que eu tinha pedido a Deus de todo meu coração para não ver. Meu pai. Não. Apenas a pessoa que engravidou a minha mãe e depois nos maltratou até fugir. Biologicamente meu pai, sentimentalmente um lixo humano para mim.

Apenas podia ver milhares de arvores correndo em frente aos meus olhos. E minha cabeça apoiada no vidro da janela do carro de Chuck. Apenas a respiração me faltava e a amargura do passado cobria meu coração. Eu não pensei que fosse sentir isso novamente. Eu não imaginei na minha vida que o veria diante de mim novamente.

É um pesadelo. E eu quero só acordar dele e fingir que não aconteceu. Quero pegar um livro sobre dança e estudar até meus olhos não aguentarem e se fecharem sozinhos.

— Anya... – Ele segura a minha mão delicadamente.

Eu não a tiro de mim. Apenas me deixo sentir o carinho de Chuck. Estou tão cansada que não consigo me esquivar agora. Uma única pressão psicológica, acabou com as forças do meu dia.

— Por que está assim? Foi aquele homem... O pai da Fernanda... – Ele continuou acariciando seus dedos na minha mão, enquanto a outra estava no volante.

De soslaio percebi que seus olhos estavam na estrada.

"Vamos seguir as luzes e a multidão" – Murmurei, lembrando de um trecho de uma música. — "Vamos sair da cidade".

— É isso que você quer? Sair da cidade? – Eu olhei para ele.

Pensei que ele não tinha me escutado. Ele apenas me encarou sério, esperando uma confirmação, mínima que fosse.

— Eu quero sumir do planeta. – Respondi.

— Isso eu não posso fazer, mas eu posso sair da cidade com você. "Todas as noites e dias. Eu sonho com um lugar. Algum lugar bem, bem longe". – Olhei para ele com uma obvia cara de boba. Eu não conseguia disfarçar isso agora. — O que é? – Deu um sorriso de canto. — Eu também conheço músicas depressivas.

"Quando eu abrir meus olhos, quero te encontrar do outro lado". – Comentei sem pensar muito. E ele sorriu novamente, mas ele apenas continuou com seus olhos na estrada.

Algum tempo se passou e eu senti meus olhos se fecharem. Eu apenas queria tirar uma soneca que fosse eterna. Eu queria tirar todo peso do que eu acabei de descobrir de cima de mim. É um misto terrível de raiva, rancor e decepção. Eu só queria apagar esse dia, esse momento.

Respiração se alentando e coração começando a se regular. Será que um dia eu vou conseguir esquecer ou superar?

Chuck.

Enquanto ela dormia não conseguia desviar meus olhos da mesma. Seu rosto estava úmido, pelas lágrimas que a mesma deixou cair enquanto ainda adormecida. Mas aqui e agora, enquanto dirijo, meus olhos estão mais nela do que onde deveriam estar. Qual será o motivo de tanta tristeza? Tanta angustia... E por quê isso me interessa?

Fiquei horas dirigindo, entre abastecer o carro e comprar comida para nós dois. No celular, ligações desesperadas de Fernanda e algumas da minha mãe. Eu sabia que devia dar uma ligada, mas preferi apenas enviar uma mensagem com alguma mentira qualquer, que a tranquilizasse quanto a minha vida, ao menos.

Eu só queria muito saber o motivo de tanta dor e porquê tivemos que sair da cidade. O que o pai da Fernanda tem haver com essa carinha triste dela? Uma cara que eu acabei de descobrir que detesto mais do que ficar sem bebida.

Flash back on

— Eu sou toxica. Se você ficar perto de mim, vai morrer sufocado.

— Então porque está me contando tudo isso?

Castelo de pedraOnde histórias criam vida. Descubra agora