ATO 2

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Sumiços passaram a ser frequentes a partir daquele momento. Não eram grandes, mas começavam a incomodar. Ora era um pente, ora um adorno, ou um utensílio maquilador, uma pluma que desapareciam e, mais sinistro ainda, reapareciam em lugares improváveis como dentro de um vaso sanitário do banheiro público do teatro, ou acima dos suportes de luz do palco.

– Como poderiam deixar algo em um local tão alto sem que soubessem?

– Precisariam de uma escada ou uma corda! Mas, nenhum desses parecem terem sido tocados.

– Foi o fantasma! Só pode ter sido.

Os murmúrios não paravam e Calú, que tentava se manter em seu recôndito, não conseguia ficar alheio a tanto. Fantasma não... Ele não acreditava em crendices, porém poderia ser alguém tentando sabotar o lugar, sabe-se lá o motivo. Vingança? Teria algo contra alguém de lá? Por que estava chamando a atenção com coisas tão pequenas? Poderia ser um aviso? E se da próxima vez não sumisse e reaparecesse com algo pouco significativo? E se, por acaso, sumisse de vez com algo importante? Não! Definitivamente o instinto investigativo de Calú, e o fato de ser um Kara, não o deixaria afastado de toda essa situação sem investigar a respeito... Quem estaria por trás dessas brincadeiras? E o que esse alguém queria de fato?

***

As "pegadinhas" não haviam chegado em Calú ainda... Na verdade, ele de nada sabia que não pelo que relatavam. Então, foi falando com cada colega de teatro que ele começou sua investigação. Queria saber quem começou com aqueles boatos de "fantasma", o primeiro feito do tal ser, o primeiro objeto desaparecido e se todos os que sumiram foram realmente reencontrados.

– Não, eu não vi o fantasma – relatou um sujeito raquítico da iluminação, o que encontrou um cachecol de plumas em um dos suportes de teto do palco principal do teatro. – Mas, posso te jurar que vi essas plumas se mexendo sozinhas!

– Eu percebi um vulto perto do refeitório dois anos atrás – relatou o senhor bigodudo da limpeza. – Fez uma bagunça e tanto com os copos descartáveis. Por isso, só usamos xícaras de vidro agora. O que é uma besteira, pois daria mais trabalho para o meio ambiente e a bagunça então...

– Quem começou esse boato foi o dono da cantina aqui do teatro – relatou a ruiva baixinha, já desprovida de maquiagem. – Relatou que ouviu ruídos no camarim de número 4, na calada da noite na última sexta-feira, quando abriu a porta não encontrou nada, nem ninguém. Você sabe né... Esse camarim é trancado porque dizem que uma garota que atuava morreu ali e...

Os relatos não estavam ajudando Calú e, mais, estavam o deixando enfadonho e mais incrédulo.

Decidiu, por fim, voltar para a sua apresentação e deixar aquele assunto no momento. Afinal, não havia muito para fazer quando se quer combater algo que o povo inventa. O mais provável é que fosse alguma brincadeira de algum de seus colegas mesmo. Poderia ser o Bob, que interpretaria o seu criado na peça. Bob gosta de dar risadas com joguinhos bobos. Por ser assim, o apelidaram de "Bob – o bobo". Ou então... A mente de Calú se voltou para uma notificação que acabara de receber no celular. Era de Peggy! Não conteve o sorriso sincero nos lábios que há dias, de tanto cansaço, não dava. Envolto nas palavras da garota amada, não percebeu os primeiros segundos da melodia dramática fúnebre em Ré Menor de Mozart – Réquiem K 626 que começou a invadir todo o teatro e lhe consumir os pensamentos.

***

Era impossível! Por mais que procurassem, não conseguiam saber quem havia tocado um solo desafinado em um violino enferrujado que fora encontrado perto do camarim abandonado. Como isso poderia ser?

Calú suspirou exausto, e deixando a multidão com suas teorias e falácias, retornou para o próprio camarim a fim de pegar suas coisas e continuar sua concentração em casa; ali já vinha sendo quase impossível, após aquela nova travessura, então. Além do mais, com todo o ocorrido, acabara se esquecendo de falar com a Peggy para lhe responder pela tão agradável, e esperada, mensagem. Estava disposto a assim fazer, logo que saísse daquele vespeiro. No entanto, ao pegar sua jaqueta, que estava disposta na cadeira de frente ao espelho, um bilhete caiu e o que não pôde escapar de sua rápida visão foi que a caligrafia não lhe era conhecida e lhe causara arrepios.

 No entanto, ao pegar sua jaqueta, que estava disposta na cadeira de frente ao espelho, um bilhete caiu e o que não pôde escapar de sua rápida visão foi que a caligrafia não lhe era conhecida e lhe causara arrepios

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CALÚ EM: DROGA DE ÓPERA [COMPLETO] - Uma aventura com os KarasOnde histórias criam vida. Descubra agora